No Evangelho deste domingo (Lc 14, 1.7-14) Jesus participa
de um banquete na casa de um fariseu. Para a explicação deste texto, vamos
recorrer ao texto do Pe. Cantalamessa (Pregador do Papa).
Preconceito – O início do Evangelho deste domingo nos ajuda a
corrigir um preconceito muito difundido. “Num sábado, Jesus entrou para comer
na casa de um dos principais fariseus. Eles o observavam atentamente”. Ao se ler
o Evangelho sob certo ponto de vista, os fariseus acabam se tornando o modelo
de todos os vícios: hipocrisia, falsidade; os inimigos, por antonomásia, de
Jesus. Semelhante ideia dos fariseus não é correta. Nem todos eram assim.
Nicodemos, que vai ver Jesus de noite e que depois o defende ante o Sinédrio,
era um fariseu (Jo 3,1;7). Também Saulo era fariseu antes da conversão, e era
certamente uma pessoa sincera e zelosa, ainda que não estivesse bem iluminado.
Outro fariseu era Gamaliel, que defendeu os apóstolos ante o Sinédrio (At 5,34).
Fariseus – As relações de Jesus com os fariseus não foram só de
conflito. Compartilhavam muitas vezes as mesmas convicções, como a fé na
ressurreição dos mortos, no amor de Deus e no compromisso como primeiro e mais
importante mandamento da lei. Alguns, como neste caso, inclusive o convidam
para uma refeição em sua casa. Hoje se considera que, mais que os fariseus,
quem queria a condenação de Jesus eram os saduceus, a quem pertencia a casta sacerdotal
de Jerusalém. Por todos estes motivos, seria muito desejável deixar de utilizar
o termo “fariseu” em sentido depreciativo.
Durante a
refeição – Naquele sábado, Jesus
ofereceu dois ensinamentos importantes: um dirigido aos “convidados” e outro
para o “anfitrião”. Ao dono da casa, Jesus disse (talvez diante dele ou só em
presença de seus discípulos): “Quando deres um almoço ou um jantar, não
convides seus amigos, nem seus irmãos, nem seus parentes, nem os vizinhos
ricos...”. É o que o próprio Jesus fez, quando convidou ao grande banquete do
Reino os pobres, os aleijados, os humildes, os famintos, os perseguidos (as
categorias de pessoas mencionadas nas Bem-aventuranças).
Banquete – Mas, nesta ocasião, meditemos sobre o que Jesus diz
aos “convidados”. “Se te convidam a um banquete de bodas, não te coloques no
primeiro lugar...”. Jesus não quer dar conselhos de boa educação. Nem sequer
pretende encorajar o sutil cálculo de quem se põe em uma fila, com a escondida
esperança de que o dono lhe peça que se aproxime. A parábola, nisso, pode dar espaço
ao equívoco, se não se levar em consideração o banquete e o dono, dos quais Jesus
está falando. O banquete é o universal do Reino e o dono é Deus.
Modéstia – Jesus quer dizer: na vida, escolha o último lugar,
procure contentar os demais mais que a você mesmo; seja modesto na hora de
avaliar seus méritos, deixe que sejam os demais quem os reconheçam e não você
(“ninguém é bom juiz em causa própria”) e, assim, já nesta vida, Deus lhe exaltará.
Ele lhe exaltará com sua graça, fará você subir na hierarquia de Seus amigos e
dos verdadeiros discípulos de Seu Filho, que é o que realmente importa.
Humildade – Ele exaltará você também na estima dos demais. É um
fato surpreendente, mas verdadeiro. Não só Deus “se inclina ante o humilde e
rejeita o soberbo” (Sl 107,6); também o homem faz o mesmo, independentemente do
fato de ser crente ou não. A modéstia, quando é sincera, não artificial,
conquista, faz com que a pessoa seja amada, que sua companhia seja desejada,
que sua opinião seja desejada. A verdadeira glória foge de quem a persegue.
Sociedade – Vivemos em uma sociedade que tem grande necessidade de
voltar a escutar esta mensagem evangélica sobre a humildade. Correr para ocupar
os primeiros lugares, talvez pisoteando, sem escrúpulos, a cabeça dos demais,
são características desprezadas por todos e, infelizmente, seguidas por todos.
O Evangelho tem um impacto social, inclusive quando fala de humildade e
modéstia.
Vivência – Em todos os seus atos, seja modesto!
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