sábado, 12 de novembro de 2022

Não ficará pedra sobre pedra

 

 


No Evangelho deste domingo (Lc 21,5–9), Jesus está no pátio do Templo de Jerusalém conversando com algumas pessoas sobre as belas pedras usadas na construção do Templo. Durante a conversa, Jesus faz a previsão de que tudo será destruído: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído.”

 

O Templo – O Templo de Jerusalém era o principal centro de culto da religião do povo de Israel, onde se realizavam as diversas ofertas e sacrifícios. De acordo com a tradição judaico-cristã, o Primeiro Templo foi iniciada a sua construção no terceiro ano do reinado de Salomão e concluído sete anos depois. Foi saqueado várias vezes e acabou por ser totalmente incendiado e destruído por Nabucodonosor II, em 587 A.C. Segundo o relato bíblico, o templo foi mandado reconstruir por decreto de Ciro II da Pérsia no ano 539 a.C., com a volta dos judeus mantidos em cativeiro na Babilônia.

 Remodelação de Herodes – No século I a.C., Herodes, o Grande, ordenou uma remodelação ao templo (considerada por muitos judeus como uma profanação) com o propósito de agradar a César, mandando construir num dos vértices da muralha a Torre Antonia, uma guarnição romana que dava acesso direto ao interior do pátio do Templo.

 Guerra Judaica – Grande Revolta Judaica foi a guerra travada pelos judeus contra o Império romano de 66 a 73 d.C. Teve início em 66, como reação a ataques contra locais de culto judaicos. Em 70, as legiões do general Titus cercaram e destruiram Jerusalém (cada legião era formada de 4 a 8 mil soldados, além de escravos e ajudantes). O Templo foi então saqueado e incendiado pelos romanos. Conforme historiadores da época, morreram um milhão e cem mil judeus e noventa e sete mil foram levados presos. A cidade de Jerusalém foi totalmente destruída e incendiada. Deste templo, só restou o que conhecemos como o Muro das Lamentações.

 Diáspora Judaica – A explulsão dos judeus da Terra Santa é um evento central na história da Diáspora Judaica. Os judeus se dispersaram pelo mundo, formando um povo sem território. Apenas em 1948 (quase dois mil anos após a Guerra Judaica) foi criado o Estado de Israel, um país para abrigar os judeus.

 Após a queda – Depois de anuncia a destruição de Jerusalém, Jesus faz uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a Sua segunda vinda. Como será esse tempo? Como vivê-lo?

 Não será o fim – Em primeiro lugar, Lucas sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão falsos messias e visionários que anunciarão o fim. Lucas avisa: “não será logo o fim”. A destruição de Jerusalém no ano 70 deve ter parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de Jesus e alguns pregadores populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas (que escreveu o Evangelho nos anos 80) quer eliminar essa febre escatológica que crescia em certos setores cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos deviam preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a transformação “deste” mundo.

 Tempo de espera – Em segundo lugar, Lucas diz aos cristãos que, paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isso, Lucas recorre a imagens apocalípticas (um povo se erguerá contra outro povo e reino contra reino; haverá grandes terremotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; haverá fenômenos espantosos e grandes sinais no céu), muito usadas pelos pregadores populares da época para falar da queda do mundo velho – o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração – e do surgimento de um mundo novo… A questão, portanto, é esta: no tempo entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o “Reino de Deus” estará se manifestando; o mundo velho desaparecerá e nascerá um mundo novo. É claro que a libertação plena e definitiva só acontecerá com a segunda vinda de Jesus.

 Dificuldades – Em terceiro lugar, Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios familiares e amigos…

 Missão da Igreja – O discurso escatológico define, portanto, a missão da Igreja na História (até à segunda vinda de Jesus): dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.

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