No primeiro domingo depois da Epifania, celebra-se
tradicionalmente a Festa do Batismo do Senhor. Assim, o Evangelho (Mc 1,7-11 e Jo 1,14a.12a) apresenta o encontro entre Jesus e João Batista, nas
margens do rio Jordão.
Problema – O batismo de Jesus no Rio Jordão é tão
importante teologicamente, que é tratado por cada um dos quatro evangelistas de
maneira diferente, de acordo com a situação de suas comunidades e dos seus
interesses teológicos. A narração do batizado de Jesus logo se tornou um
problema para os primeiros cristãos, pois levantava a questão de como Jesus,
sem pecado, podia ter sido batizado num ritual de purificação dos pecados.
O batismo nos evangelhos – Por isso, Mateus
deixa de fora a referência que Marcos (1, 4) faz ao perdão dos pecados (“E foi assim que João Batista apareceu no
deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”) e
adiciona os versículos 14 e 15 (“João
procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a
mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque
devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou.”). Para o evangelista
João, o batismo era tão difícil de ser harmonizado com a sua cristologia, que
omite qualquer referência ao batismo e, no seu lugar, faz com que João Batista
aponte Jesus como o "Cordeiro de Deus" (Jo 1, 29-34).
Situação
política, social e religiosa da época – No primeiro século da era cristã, a religião judaica havia caído num
profundo desinteresse, num profundo estado de abatimento moral e físico das
pessoas. A situação política opressora, que reinava no país, com o domínio do
Império Romano; a espera por um Salvador que não chegava nunca; a vida
escandalosa da classe governante e a degradação dos sacerdotes do Templo (mais
preocupados com seus próprios interesses) foi esfriando a devoção das pessoas e
desanimando a prática religiosa.
O clamor do deserto – Frente a este panorama, surge João (filho
único de Zacarias, sacerdote do Templo), um homem que buscou injetar novas
forças ao judaísmo decadente. Com sua linguagem implacável e dureza insensível
para um pregador, passou a convocar as pessoas para uma mudança de vida. Dizia
que o juízo de Deus era iminente e que, em muito pouco tempo, Deus iria
castigar com fogo todos os que não se arrependessem de seus pecados (Mt 3,7).
Deserto com água – As pessoas vinham de todas as regiões para
escutar suas pregações e ficavam impressionadas. A todos que aceitavam seus
ensinamentos e buscavam uma mudança de vida, João pedia como sinal de
arrependimento um banho exterior: o batismo, que ele pessoalmente ministrava no
rio Jordão.
No Jordão – Toda a pregação de João se desenvolvia junto ao rio Jordão, o que lhe
permitia as cerimônias com água. Mas não tinha um lugar fixo. Aos poucos, foi
se formando ao redor do Batista um pequeno grupo de discípulos que o
acompanhava nas sessões batismais (Jo 1, 28.35-37), ajudava nas pregações (Jo
3,23), recebia os ensinamentos mais profundos (Jo 3,26-30), compartilhava sua
espiritualidade asceta (Mc 2,18) e a oração (Lc 11.1).
Jesus – No início do ano 27 d.C., Jesus viajou da cidade de Nazaré (na Galiléia)
até o vale do rio Jordão, para ver João. Ali, entre as áridas colinas e vales
da Judéia, Jesus pôde escutar a mensagem escatológica de João, que podia ser
resumida em três idéias: o fim do mundo está próximo; o povo de Israel perdeu
seu rumo e pode ser extinto pelo juízo de Deus; é necessário mudar de vida,
deixando-se batizar. Jesus aceitou a mensagem de João, como muitos outros
judeus, deixando-se batizar (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22).
Jesus e João – Os Evangelhos mostram que Jesus integrou o
grupo de João Batista, convivendo algum tempo com ele (não se sabe quanto).
Depois, como Mestre, passou a empreender seu próprio ministério, com uma
metodologia própria, que diferenciava em três pontos de João Batista: não
anunciava o castigo iminente de Deus, mas a Sua misericórdia e amor; não
permanecia no deserto, mas percorria os povoados e aldeias de toda a Palestina;
não jejuava nem fazia abstinência de bebidas, mas comia e bebia com os
pecadores.
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