No
Evangelho das missas deste domingo (Mt 4,12-23), Jesus chama os primeiros
apóstolos. É comum falar dos “doze apóstolos” de Jesus. Pinturas,
quadros e esculturas fizeram famosa a cena do Mestre rodeado por seus doze
amigos íntimos e contribuíram para imortalizar esse número, que hoje ninguém
mais discute. Mas, os apóstolos de Jesus eram realmente doze? No Novo
Testamento aparecem quatro vezes a lista com os nomes dos doze apóstolos (Mc 3,
16-19; Mt 10, 2-4; Lucas 6, 14-16 e At 1, 13). Delas, podemos observar alguns
dados.
Os mais próximos – Se tomarmos em primeiro lugar a lista de
Mateus, veremos que começa com Simão Pedro. É um dos apóstolos de quem mais
dados temos. Sabemos que era oriundo de Betsaida (Jo 1, 44), mas tinha sua
moradia em Carfanaum (Mt 8, 14), onde ganhava a vida como pescador no Lago da
Galileia. Era casado (1 Cor 9,5) e vivia com seu irmão André e sua sogra (Mc 1,
29-30). O segundo da lista é André, irmão de Simão Pedro. Como este, era
oriundo de Betsaida e vivia em Carfanaum, dedicando-se à pesca. Tiago e João
eram igualmente pescadores do lago da Galileia (Mc 1, 19) e parece que gozavam
de boa posição econômica, já que o pai de ambos, Zebedeu, era dono de uma
pequena empresa pesqueira. Pedro, Tiago e João (sem André) constituíam um grupo
especial dentro dos doze apóstolos e eram, de alguma forma, os preferidos de
Jesus, já que lhes concedeu alguns privilégios. E unicamente a eles colocou um
nome novo: a Simão chamou “Pedro”, e a Tiago e João, “Boanerges”, que significa
“filhos do trovão” (Mc 3, 17).
Os menos famosos – Os outros oito apóstolos são menos
conhecidos. De Felipe, o quinto da lista, só sabemos que era também de Betsaida
e, ao que parece, muito amigo de André (Jo 12, 20-22).
De Bartolomeu, o sexto, não
sabemos nada. De Tomé, o sétimo, sabemos que tinha como apelido
"Gêmeo", mas não se conta de quem. Foi ele quem convenceu os demais
apóstolos a acompanharem Jesus, por ocasião da morte de Lázaro (Jo 11, 6-16); e
foi ele quem duvidou das aparições do Senhor Ressuscitado (Jo 20, 24-29), pelo
que foi chamado de incrédulo. De
Mateus sabemos que era um cobrador de impostos. Dos três apóstolos que seguem –
Tiago, filho de Alfeu; Tadeu e Simão, o zelote – não temos nenhum detalhe de
suas vidas. E ao
final da lista aparece Judas Iscariotes, o que entregou Jesus às autoridades
judaicas que o mataram.
Problemas – Esta lista de Mateus coincide com a de
Marcos. O problema aparece ao compará-la com as outras duas (de Lucas e Atos),
porque nestas aparecem um apóstolo novo: um tal
Judas, filho de Tiago (Lc 6, 16, At 1, 13). Quem é este Judas? Como nestas duas
listas não há Tadeu, a solução que se encontrou foi que este Judas (de Lucas e
Atos) fosse a mesma pessoa que Tadeu (de Mateus e Marcos). E o chamam Judas
Tadeu. Mas, essa identificação carece de fundamento bíblico.
Mais problemas – Se prosseguirmos lendo os Evangelhos,
veremos que Marcos narra a vocação de outro apóstolo, chamado Levi, cobrador de
impostos. Por que ele tampouco aparece na lista dos doze? Aqui a tradição
solucionou o problema do mesmo modo: identificando Levi com Mateus. O que não é
possível, porque Marcos apresenta Levi e Mateus como pessoas claramente distintas:
uma em uma lista dos nomes (Mc 3, 18) e outra no relato de sua vocação (Mc 2,
13-14). Por sua vez, o Evangelho de João relata a vocação de um apóstolo
chamado Natanael (1, 45-51), que não está em nenhuma das quatro listas. Para
poder seguir mantendo o número doze, a tradição o identificou com Bartolomeu,
sem nenhuma razão válida.
Mais
apóstolos? Vemos, pois,
como os Evangelhos mencionam mais de doze apóstolos. Porém, se continuarmos
buscando no Novo Testamento, encontraremos que Paulo e Barnabé eram também
apóstolos (Atos 14, 14); que Silvano e Timóteo figuram como apóstolos (1 Ts 2,
5-7); que “Tiago, irmão do Senhor” é chamado apóstolo (Gálatas 1, 19); que
Apolo é apóstolo (1 Cor 4, 6.9); e inclusive Andrônico e Júnia (uma mulher!) têm
o título de apóstolos (Rm 16, 7).
Quantos
eram, afinal, os apóstolos? A
esta altura, já é evidente que não eram doze. Por que, então, nós falamos
sempre em doze apóstolos? Bem .... Isto
nós veremos na próxima semana.
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