sábado, 22 de abril de 2023

EMAÚS EXISTIU ?

  


No Evangelho das missas deste domingo será lido o trecho da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús.  Vamos examinar a descrição de Lucas.

 A Aparição – Era o domingo, 9 de abril do ano 30. Domingo da ressurreição. Dois discípulos caminhavam de Jerusalém para a aldeia de Emaús, distante 11 quilômetros. Durante as duas horas de caminhada, comentavam os fatos ocorridos naquele dia. Jesus se aproxima, passa a caminhar com eles e, puxando a conversa, pergunta sobre o que discutem.  Eles não reconhecem Jesus. Cléofas, admirado, lhe diz que ele deve ser a única pessoa em Jerusalém que não sabe o que aconteceu com Jesus Nazareno. Jesus lhes descreve toda a história da salvação, começando por Moisés, passando por toda a Escritura. Ao chegar à casa de um deles, Jesus distribuiu o pão, sendo reconhecido por eles (embora não estivessem presentes na Última Ceia). Os discípulos voltaram para Jerusalém para contar aos apóstolos o que tinha acontecido.

 Nicópolis – Assim como o Evangelho de São Lucas, o Livro dos Macabeus (1Mac 9,50) e o historiador do Século I Flavius Josefo (História dos Hebreus) citam o nome de uma cidade chamada Emaús. A grande questão desta história é que a aldeia de Emaús nunca foi encontrada. Os turistas e peregrinos que visitam a Terra Santa são levados a uma igreja em Nicópolis, como sendo Emaús. Isto devido ao historiador da igreja do século IV, Eusébio de Cesaréia, que identificou a cidade de Nicópolis como a Emaús bíblica. O teólogo e tradutor São Jerônimo (347 – 420) concordou com a indicação, fazendo com que, a partir do século IV, os cristãos identificassem Nicópolis com Emaús.

 O problema – é que Nicópolis está muito mais longe de Jerusalém (30 quilômetros).  Ao longo dos anos, vários estudiosos sugeriram nada menos que cinco locais alternativos para Nicópolis e não há acordo geral sobre qual é o mais provável.

 Nova descoberta – Em 2017, um grupo francês e israelense de arqueólogos (Israel Finkelstein e Thomas Römer) começou o trabalho de escavação em Kiriath-Jearim, uma colina vários quilômetros a oeste de Jerusalém. Descubriram que, durante o século XII, Kiriath Yearim e da vila vizinha de Abu Ghosh serviram de hospedagem para as cruzadas. Construiram ali a Igreja da Ressurreição em Abu Ghosh, abaixo da colina de Kiriath-Jearim, e chamavam o lugar de Castellum Emmaus. Vamos aguardar as novas descobertas para certificação da teoria dos autores.

 QUER SABER MAIS: Se você gostou do assunto e quer saber mais, podemos lhe oferecer os textos citados: O artigo “Os arqueólogos descobriram a cidade em que Jesus apareceu depois de sua ressurreição?” da jornalista Candida Moss; o livro “História dos Hebreus” de Flavio Josefo (1627 pág. em Português com 18 citações de Emaús); O texto “Cronologia da Vida de Jesus” de autoria de Enrico Galbiati (Doutor da Biblioteca Ambrosiana de Milão); Onomasticon – Sobre os Nomes dos Lugares nas Sagradas Escrituras – de autoria de Eusébio de Cesaréia (escrito no ano 330, onde cita Emaús).

sábado, 15 de abril de 2023

Tomé e o homem contemporâneo

 


 O Evangelho deste final de semana relata o encontro de Jesus e Tomé (Jo, 20, 19-31), oito dias após Tomé ter dito que só acreditaria que Jesus ressuscitara se colocasse os dedos em suas chagas. Jesus então, convida-o a fazer isso e diante da confissão de fé de Tomé (“Meu Senhor e meu Deus!”) Jesus afirma que são bem-aventurados os que creram sem ter visto.

 Tomé, nosso conterrâneo – Relatando o que aconteceu a Tomé e sua incredulidade inicial, o Evangelho sai ao encontro do homem e da era tecnológica, que crê somente no que pode verificar. Podemos chamar Tomé de nosso contemporâneo entre os apóstolos. E agindo da maneira que o fez, obrigou Jesus a dar-nos uma prova “tangível” da verdade de sua ressurreição. A fé na ressurreição saiu beneficiada de suas dúvidas e, ao menos em parte, isso também pode ser aplicado aos numerosos “Tomes” de hoje, a todos aqueles que não creem.

 

Fé, dom de Deus – A crítica e o diálogo com os ateus, quando se desenvolvem no respeito e na lealdade recíproca, são de grande utilidade. Antes de tudo nos fazem humildes. Obrigam-nos a ver que a fé não é um privilégio ou uma vantagem para ninguém. Não podemos impô-la nem demonstrá-la, mas só propô-la e mostrá-la com a vida. “Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se não o tivesses recebido?”, diz São Paulo! (1Cor 4, 7). A fé, no fundo, é um dom, não um mérito, e como todo dom deve ser vivido na gratidão e na humildade.

 

Purificação da fé – A relação com aqueles que não creem ajuda-nos também, a purificar nossa fé de representações. Com muita frequência, aquilo que os ateus rejeitam não é o verdadeiro Deus, o Deus Vivo da Bíblia, mas uma imagem distorcida de Deus, que nós mesmos, os que cremos, contribuímos para criar. Rejeitando esse Deus, os não crentes nos obrigam a voltarmos a situar as marcas do Deus vivo e verdadeiro, Daquele que está além de toda nossa representação e explicação. Eles nos ajudam a não fossilizar ou banalizar a Deus.

 

Tomé, um exemplo a imitar – Assim, que São Tomé encontre hoje muitos imitadores, não só na primeira parte de sua história – quando declara que não crê –, mas também ao final, naquele magnífico ato seu de fé que o leva a exclamar: “Meu Senhor e Deus meu!”. Tomé é também imitável por outro fato: não fecha a porta; não fica em sua postura, dando por encerrada a questão. De fato, não apenas manifestou sua dúvida, mas o encontramos oito dias depois com os demais apóstolos no cenáculo. Se não tivesse desejado crer, ou “mudar de opinião”, não teria estado ali. Ele quis ver, tocar, portanto, estava em busca. E ao final, depois de que viu e tocou com sua mão, dirige-se a Jesus, não como um vencido, mas como um vencedor: “Meu Senhor e Deus meu!”. Nenhum outro apóstolo havia ainda se lançado a proclamar com tanta clareza a divindade de Cristo.

sábado, 8 de abril de 2023

ELE VIU E ACREDITOU



 Neste domingo celebramos a Páscoa cristã. O texto do Evangelho lido nas missas é padrão para esta comemoração: Jo 20,1-9.

 

Novo tempo – O texto começa com uma indicação aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida sobretudo em chave teológica: “no primeiro dia da semana”. Significa que começou um novo ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui começa um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasce a partir da doação de Jesus.

 

Madalena – A primeira personagem em cena é Maria Madalena: ela é a primeira a dirigir-se ao túmulo de Jesus (ainda o sol não tinha nascido), na manhã do “primeiro dia da semana”. Ela representa a nova comunidade, que nasceu da ação criadora e vivificadora do Messias; essa nova comunidade, testemunha da cruz, inicialmente acredita que a morte triunfou e vai procurar Jesus no sepulcro: é uma comunidade perdida, desorientada, insegura, desamparada, que ainda não conseguiu descobrir que a morte foi derrotada; mas, diante do sepulcro vazio, a nova comunidade apercebe-se de que a morte não venceu e que Jesus continua vivo.

 

Discípulos – Na seqüência, o autor do quarto Evangelho apresenta uma catequese sobre a dupla atitude dos discípulos diante do mistério da morte e da ressurreição de Jesus. Essa dupla atitude é expressa no comportamento de dois discípulos que, na manhã da Páscoa, correm ao túmulo de Jesus: Simão Pedro e um “outro discípulo” não identificado (mas que parece ser o “discípulo amado”, apresentado no Quarto Evangelho como modelo ideal do discípulo).

 

Discípulo Amado – O autor coloca estas duas figuras lado a lado em várias circunstâncias: na última ceia, é o “discípulo amado” que percebe quem está do lado de Jesus e quem O vai trair (Jo 13,23-25); na paixão, é ele que consegue estar perto de Jesus no átrio do sumo sacerdote, enquanto Pedro O trai (Jo 18,15-18.25-27); é ele que está junto da cruz quando Jesus morre (Jo 19,25-27); é ele quem reconhece Jesus ressuscitado nesse vulto que aparece aos discípulos no lago de Tiberíades (Jo 21,7). Nas outras vezes, o “discípulo amado” levou sempre vantagem sobre Pedro. Aqui, isso irá acontecer outra vez: o “outro discípulo” correu mais e chegou ao túmulo primeiro que Pedro (o fato de se dizer que ele não entrou logo pode querer significar a sua deferência e o seu amor, que resultam da sua sintonia com Jesus); e, depois de ver, “acreditou” (o mesmo não se diz de Pedro).

 

Morte e ressurreição - Provavelmente, o autor do Quarto Evangelho quis descrever, através destas figuras, o impacto produzido nos discípulos pela morte de Jesus e as diferentes disposições existentes entre os membros da comunidade cristã. Em geral Pedro representa, nos Evangelhos, o discípulo obstinado, para quem a morte significa fracasso e que se recusa a aceitar que a vida nova passe pela humilhação da cruz (Jo 13,6-8.36-38; 18,16.17.18.25-27; cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23). Ao contrário, o “outro discípulo” é o “discípulo amado”, que está sempre próximo de Jesus, que faz a experiência do amor de Jesus; por isso, corre ao seu encontro de forma mais decidida e “percebe” – porque só quem ama muito percebe certas coisas que passam despercebidas aos outros – que a morte não pôs fim à vida.

 

Homem Novo – Esse “outro discípulo” é, portanto, a imagem do discípulo ideal, que está em sintonia total com Jesus, que corre ao seu encontro com um total empenho, que compreende os sinais e que descobre (porque o amor leva à descoberta) que Jesus está vivo. Ele é o paradigma do Homem Novo, do homem recriado por Jesus.

 

Que a mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê força, especialmente quando a Cruz pesar muito em nossas vidas.

sábado, 1 de abril de 2023

OS ÚLTIMOS DIAS DE VIDA DE JESUS

 


 Apresentamos hoje, em preparação à semana que antecede a Páscoa, os acontecimentos que marcaram a última semana e a Paixão de Jesus.

 

Março do ano 30 – No final de março do ano 30, Jesus fez a sua última viagem para Jerusalém. Ele e seus discípulos viajaram da Galiléia, passando pela Peréia (além Jordão), evitando a região da Samaria. Durante essa viagem, curou dez leprosos (Lc 17,11), discutiu com os fariseus sobre o casamento (Mt 19,3) e ensinou os companheiros com as parábolas da viúva e do juiz, do fariseu e do publicano (Lc 18,9) e dos operários da vinha. Falou sobre o juízo final, recebeu as crianças e conversou com o jovem rico (Lc 18, 15-30).

 

Em Betânia – Jesus chegou a Betânia na sexta-feira (Jo 12,1), dia 31 de março do ano 30, e foi jantar na casa de seu amigo Lázaro (que havia revivido) e das irmãs Marta e Maria. Betânia era uma aldeia a Leste do monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Nesta noite, Maria lavou os pés de Jesus com um perfume caro e os enxugou com os cabelos; foi repreendida por Judas Iscariotes. Nesta mesma noite, Jesus fez (pela terceira vez) a predição de sua Paixão, recebeu o pedido dos filhos de Zebedeu e contou a parábola das minas e dos talentos.

 

Sábado – 1º de abril – No sábado, Jesus e seus discípulos seguiram de Betânia para Jerusalém. Quando passavam por Betfagé, perto do Monte das Oliveiras, Jesus pediu que dois discípulos fossem ao povoado e trouxessem um jumentinho que estava amarrado. Montado no jumentinho, Jesus fez a entrada triunfal em Jerusalém, aclamado pelo povo, que o saudava com ramos. Neste mesmo sábado, Jesus visitou o Templo, expulsando os vendedores, derrubando as mesas e cadeiras dos cambistas. Voltou para Betânia, onde passou a noite (Mt, 21,17). No domingo (2 de abril), Jesus descansou. Em uma de suas caminhadas, encontrou uma figueira estéril e proclamou o ensinamento sobre a fé (Mt 21,18).

 

3 e 4 de abril – Na segunda e terça-feira, Jesus voltou a Jerusalém. No Templo, foi interrogado pelos fariseus sobre a sua missão, sobre a sua autoridade (Mt 21,23) e sobre o tributo a César (Mt 22,15). Conversando com os discípulos, Jesus contou as parábolas dos dois filhos (Mt 21,28) e dos vinhateiros (Mt 21,33) e apresentou a oferta da viúva pobre (Mc 12,41). Ao sair, mostrou a grandiosa obra do Templo, fazendo um discurso (conhecido como Apocalipse sinótico) sobre a sua destruição, a grande tribulação e a vigília (Mt 24). A quarta-feira (5 de abril) foi marcada pela traição de Judas (Mt 26,14; Lc 22,1).

 

Quinta-feira – O dia 6 de abril começou com a preparação para a Páscoa (Mt 26,17). Os discípulos foram até a cidade e prepararam a Páscoa na casa de um conhecido deles. Ao cair da tarde, Jesus se reuniu com os doze apóstolos e, enquanto comiam, anunciou que seria traído. Judas deixou o cenáculo (Mt 26,20). Em seguida, Jesus lavou os pés dos apóstolos (Jo 13,1), instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio (Mt 26,28), entregou o novo mandamento (Jo 13,33), predisse as negações de Pedro (Mt 26,31) e fez o sermão da despedida (Jo 14,16). Em seguida, Jesus e os apóstolos saíram do Cenáculo, deixando a cidade, em direção a Betânia, até um horto chamado Getsêmani. Ali Jesus agonizou, enquanto os apóstolos dormiam (Mt 26,36).

 

Sexta-feira, 7 de abril – De madrugada, no Getsêmani, Jesus foi preso e conduzido ao palácio de Caifás (Sumo Sacerdote). Em seguida, Jesus foi conduzido ao Sinédrio (tribunal religioso judaico, composto de 71 membros), onde os escribas e anciãos estavam reunidos. Pedro negou conhecer Jesus (Mt 26,47). Na manhã, como o Sinédrio não tinha o poder de condenar as pessoas, levaram Jesus para Pilatos (governador da Judéia, representante do Império Romano), pedindo a sua condenação à morte.

 

Indecisão – Pilatos interrogou Jesus e não encontrou nenhuma causa de condenação. Sabendo que Jesus era galileu, Pilatos encaminhou-o para Herodes Antipas, que se encontrava na cidade. Herodes também, não encontrou nenhuma causa para condenação de Jesus (Lc 23,6). Novamente foi levado para Pilatos que, lavou as mãos, condenando Jesus e soltando Barrabás. Jesus recebeu uma coroa de espinhos e foi condenado à crucificação, caminhando até um lugar chamado Gólgota.

 

Crucificação – Ao meio-dia do dia 7 de abril do ano 30, Jesus foi crucificado ao lado de dois ladrões: Dimas e Gestas (Lc 23,23). Em sua cruz foi escrita a causa da condenação (INRI): “Yehoshuah Nazoreus, Rex Youdeus” (Jesus Nazareno, rei dos Judeus). Jesus morreu às 3 horas da tarde (Mt 27,45) e, antes do pôr do sol, foi sepultado por José de Arimatéia (Mt 27,57). No sábado (8 de abril) nada acontece, pois era o dia de Páscoa dos Judeus.

 

Domingo – No domingo, 9 de abril do ano 30, Maria Madalena (e outras pessoas) foram ao túmulo de Jesus e encontraram a pedra rolada. Voltaram e contaram para os apóstolos. Pedro e João foram ao túmulo e encontraram apenas faixas e panos (Jo 20). No mesmo dia Jesus apareceu para os apóstolos (sem Tomé) e para os discípulos de Emaús (Lc 24,13).