sábado, 15 de abril de 2023

Tomé e o homem contemporâneo

 


 O Evangelho deste final de semana relata o encontro de Jesus e Tomé (Jo, 20, 19-31), oito dias após Tomé ter dito que só acreditaria que Jesus ressuscitara se colocasse os dedos em suas chagas. Jesus então, convida-o a fazer isso e diante da confissão de fé de Tomé (“Meu Senhor e meu Deus!”) Jesus afirma que são bem-aventurados os que creram sem ter visto.

 Tomé, nosso conterrâneo – Relatando o que aconteceu a Tomé e sua incredulidade inicial, o Evangelho sai ao encontro do homem e da era tecnológica, que crê somente no que pode verificar. Podemos chamar Tomé de nosso contemporâneo entre os apóstolos. E agindo da maneira que o fez, obrigou Jesus a dar-nos uma prova “tangível” da verdade de sua ressurreição. A fé na ressurreição saiu beneficiada de suas dúvidas e, ao menos em parte, isso também pode ser aplicado aos numerosos “Tomes” de hoje, a todos aqueles que não creem.

 

Fé, dom de Deus – A crítica e o diálogo com os ateus, quando se desenvolvem no respeito e na lealdade recíproca, são de grande utilidade. Antes de tudo nos fazem humildes. Obrigam-nos a ver que a fé não é um privilégio ou uma vantagem para ninguém. Não podemos impô-la nem demonstrá-la, mas só propô-la e mostrá-la com a vida. “Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se não o tivesses recebido?”, diz São Paulo! (1Cor 4, 7). A fé, no fundo, é um dom, não um mérito, e como todo dom deve ser vivido na gratidão e na humildade.

 

Purificação da fé – A relação com aqueles que não creem ajuda-nos também, a purificar nossa fé de representações. Com muita frequência, aquilo que os ateus rejeitam não é o verdadeiro Deus, o Deus Vivo da Bíblia, mas uma imagem distorcida de Deus, que nós mesmos, os que cremos, contribuímos para criar. Rejeitando esse Deus, os não crentes nos obrigam a voltarmos a situar as marcas do Deus vivo e verdadeiro, Daquele que está além de toda nossa representação e explicação. Eles nos ajudam a não fossilizar ou banalizar a Deus.

 

Tomé, um exemplo a imitar – Assim, que São Tomé encontre hoje muitos imitadores, não só na primeira parte de sua história – quando declara que não crê –, mas também ao final, naquele magnífico ato seu de fé que o leva a exclamar: “Meu Senhor e Deus meu!”. Tomé é também imitável por outro fato: não fecha a porta; não fica em sua postura, dando por encerrada a questão. De fato, não apenas manifestou sua dúvida, mas o encontramos oito dias depois com os demais apóstolos no cenáculo. Se não tivesse desejado crer, ou “mudar de opinião”, não teria estado ali. Ele quis ver, tocar, portanto, estava em busca. E ao final, depois de que viu e tocou com sua mão, dirige-se a Jesus, não como um vencido, mas como um vencedor: “Meu Senhor e Deus meu!”. Nenhum outro apóstolo havia ainda se lançado a proclamar com tanta clareza a divindade de Cristo.

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