sexta-feira, 23 de junho de 2023

Quantos eram os apóstolos? – conclusão

 


Na semana passada, vimos que o Novo Testamento nos apresenta quatro listas dos apóstolos (Mc 3, 16-19; Mt 10, 2-4; Lc 6, 14-16 e At 1, 13). Quando estas listas são comparadas, elas apresentam alguns problemas, com nomes diferentes e até mesmo uma mulher recebe o título de apóstolo.

 Quantos eram, afinal, os apóstolos? A esta altura, já é evidente que não eram doze. Por que, então, nós falamos sempre em doze apóstolos?

 Porque doze – Antigamente, o povo de Israel era formado por doze tribos. Mas, no século 8 a.C., ao sofrer uma invasão por parte dos assírios, dez delas desapareceram. No século 6 a.C., as tribos que restavam também sofreram a invasão dos babilônicos, mas uma delas se salvou: a tribo de Judá (de onde vem o nome atual de “judeus”). Os profetas predisseram que chegaria um dia em que Deus voltaria a reunir as doze tribos de Israel. Recordando essas profecias, Jesus buscou entre seus seguidores doze homens, um de cada tribo perdida, e os fez seus discípulos imediatos. Era uma maneira de dizer que Deus estava começando um novo povo. As profecias, pois, se haviam cumprido em Jesus. Os novos tempos haviam chegado.

 Apóstolos? – Mas os doze homens eleitos por Jesus nunca se chamaram “apóstolos”, mas simplesmente os “Doze”. Por quê? Porque a palavra “apóstolo” significa “enviado”. E, enquanto Jesus viveu, os doze não se separaram dele. Estavam ao seu lado, o acompanharam em suas viagens, o ajudaram em seus milagres e curas e, de vez em quando, iam pregar em seu nome; mas não os “enviou” de um modo permanente a nenhum lugar. Sempre voltavam a ele. Por isso, a maioria das vezes nos Evangelhos não se diz “os doze apóstolos”, mas somente os “Doze”: Jesus elegeu os Doze (Mc 3, 14); perguntaram-lhe os Doze (Mc 4, 10); tomou os Doze (Mc 10, 32), saiu com os Doze (Mc 11, 11); reuniu os Doze (Mt 20, 17); o acompanhavam os Doze (Lc 8, 1); acercaram-lhe os Doze (Lc 9, 12); Judas, um dos Doze (Jo 6, 71).

 Enviados – A partir da ressurreição de Jesus, os Doze compreenderam que o Senhor os mandava pregar o Evangelho a todos os povos. Então se sentiram “enviados” e decidiram criar o título de apóstolo (enviado) para designar essa nova missão que tinham. Por isso os “Doze” receberam também o título de “apóstolos”, que nunca haviam recebido durante a vida de Jesus. Além dos Doze, muitas outras pessoas também se sentiram “enviadas” e quiseram sair a pregar o Evangelho de Jesus.

 Critérios para ser Apóstolo – Os Doze pensaram que não era qualquer um que podia ser um enviado oficial de Jesus Cristo, já que existia o perigo de que a doutrina se desviasse. Então resolveram colocar duas condições para que alguém mais, além dos Doze, pudesse ser chamado de apóstolo: a) ter visto Jesus Ressuscitado; e, b) ter recebido de Jesus a missão de pregar. Dessa maneira foi se formando um grupo mais amplo de apóstolos, dedicados principalmente ao anúncio e pregação do Evangelho. Os “Doze” constituíam um grupo distinto ao dos “apóstolos”. Vejam as palavras de Paulo: “Apareceu a Cefas, logo aos Doze..., logo a todos os apóstolos, e em último lugar a mim” (1Cor 15, 5-8).

 As listas dos Doze apóstolos – Pouco a pouco os Doze foram desaparecendo. A última vez em que são citados no Novo Testamento é em Atos (6, 2), na eleição dos sete diáconos. Quando, a partir do ano 70, foram escritos os Evangelhos, os nomes de alguns dos Doze que acompanharam Jesus foram se perdendo, pois não se teve mais notícias deles. Por isso, ao confeccionar as diversas listas, colocaram nomes diferentes. E como fazia muito tempo que os “Doze” também eram chamados “apóstolos”, em algumas partes do Evangelho se misturaram ambos os títulos e puseram “os doze apóstolos” (Mt 10,2; Lc 6, 13), como se houvessem sido os únicos apóstolos. Daí procede nossa confusão atual.  

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