Na
semana passada, vimos que o Novo Testamento nos apresenta quatro listas dos
apóstolos (Mc 3, 16-19; Mt 10, 2-4; Lc 6, 14-16 e At 1, 13). Quando estas
listas são comparadas, elas apresentam alguns problemas, com nomes diferentes e
até mesmo uma mulher recebe o título de apóstolo.
Quantos
eram, afinal, os apóstolos? A
esta altura, já é evidente que não eram doze. Por que, então, nós falamos
sempre em doze apóstolos?
Porque doze – Antigamente, o povo de Israel era
formado por doze tribos. Mas, no século 8 a.C., ao sofrer uma invasão por parte dos
assírios, dez delas desapareceram. No século 6 a.C., as tribos que restavam
também sofreram a invasão dos babilônicos, mas uma delas se salvou: a tribo de
Judá (de onde vem o nome atual de “judeus”). Os profetas predisseram que
chegaria um dia em que Deus
voltaria a reunir as doze tribos de Israel. Recordando essas profecias, Jesus
buscou entre seus seguidores doze homens, um de cada tribo perdida, e os fez
seus discípulos imediatos. Era uma maneira de dizer que Deus estava começando
um novo povo. As profecias, pois, se haviam cumprido em Jesus. Os novos tempos
haviam chegado.
Apóstolos? – Mas os doze homens eleitos por Jesus
nunca se chamaram “apóstolos”, mas simplesmente os “Doze”. Por quê? Porque a
palavra “apóstolo” significa “enviado”. E, enquanto Jesus viveu, os doze não se
separaram dele. Estavam ao seu lado, o acompanharam em suas viagens, o ajudaram
em seus milagres e curas e, de vez em quando, iam pregar em seu nome; mas não
os “enviou” de um modo permanente a nenhum lugar. Sempre voltavam a ele. Por
isso, a maioria das vezes nos Evangelhos não se diz “os doze apóstolos”, mas
somente os “Doze”: Jesus elegeu os Doze (Mc 3, 14); perguntaram-lhe os Doze (Mc
4, 10); tomou os Doze (Mc 10, 32), saiu com os Doze (Mc 11, 11); reuniu os Doze
(Mt 20, 17); o acompanhavam os Doze (Lc 8, 1); acercaram-lhe os Doze (Lc 9,
12); Judas, um dos Doze (Jo 6, 71).
Enviados – A partir da ressurreição de Jesus, os
Doze compreenderam que o Senhor os mandava pregar o Evangelho a todos os povos.
Então se sentiram “enviados” e decidiram criar o título de apóstolo (enviado)
para designar essa nova missão que tinham. Por isso os “Doze” receberam também
o título de “apóstolos”, que nunca haviam recebido durante a vida de Jesus. Além
dos Doze, muitas outras pessoas também se sentiram “enviadas” e quiseram sair a
pregar o Evangelho de Jesus.
Critérios para ser Apóstolo
– Os Doze pensaram que
não era qualquer um que podia ser um enviado oficial de Jesus Cristo, já que
existia o perigo de que a doutrina se desviasse. Então resolveram colocar duas
condições para que alguém mais, além dos Doze, pudesse ser chamado de apóstolo:
a) ter visto Jesus Ressuscitado; e, b) ter recebido de Jesus a missão de
pregar. Dessa maneira foi se formando um grupo mais amplo de apóstolos,
dedicados principalmente ao anúncio e pregação do Evangelho. Os “Doze”
constituíam um grupo distinto ao dos “apóstolos”. Vejam as palavras de Paulo:
“Apareceu a Cefas, logo aos Doze..., logo a todos os apóstolos, e em último
lugar a mim” (1Cor 15, 5-8).
As listas dos Doze
apóstolos – Pouco a
pouco os Doze foram desaparecendo. A última vez em que são citados no Novo
Testamento é em Atos (6, 2), na eleição dos sete diáconos. Quando, a partir do
ano 70, foram escritos os Evangelhos, os nomes de alguns dos Doze que
acompanharam Jesus foram se perdendo, pois não se teve mais notícias deles. Por
isso, ao confeccionar as diversas listas, colocaram nomes diferentes. E como
fazia muito tempo que os “Doze” também eram chamados “apóstolos”, em algumas
partes do Evangelho se misturaram ambos os títulos e puseram “os doze
apóstolos” (Mt 10,2; Lc 6, 13), como se houvessem sido os únicos apóstolos. Daí
procede nossa confusão atual.
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