No Evangelho
das missas deste domingo (Mt 13,1-23), Jesus conta a parábola do semeador:
quando semeava, algumas sementes caíram no caminho (foram comidas pelas aves),
outras caíram nas pedras (se queimaram), outras entre os espinhos (foram
sufocadas) e outras caíram em terra boa (e deram fruto). O que Jesus quer dizer
com esta história?
Liturgia – Neste e nos próximos dois domingos, os Evangelhos das missas serão sobre
as parábolas de Jesus (capítulo 13 de Mateus). Mateus apresenta-nos sete
parábolas, através das quais, Jesus revela aos discípulos a realidade do
“Reino”: são as “parábolas do Reino”. Dessas, três estão também nos Evangelhos
de Lucas e Marcos (sinóticos: o semeador, o grão de mostarda, o fermento); as
outras quatro (o trigo e o joio, o tesouro escondido, a pérola preciosa, a
rede) são exclusivas de Mateus.
O que é uma parábola? – A “parábola” é uma imagem ou comparação, por meio da qual se ilustra uma
determinada mensagem ou ensinamento. O exegeta C.H. Dodd deu a seguinte
definição: "Uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a
atenção do ouvinte pelas suas imagens vivas ou estranhas, e que deixa-o com
dúvida suficiente sobre o seu sentido exato, para que seja estimulado a
refletir por si mesmo."
Linguagem – Falar em parábolas não foi invenção de Jesus. É uma linguagem habitual
na literatura dos povos do Médio Oriente: o homem oriental gosta mais de falar
e de ensinar através de imagens, de comparações e de alegorias, do que através
dos discursos lógicos, frios e racionais, típicos da civilização ocidental.
Vantagens – Falar em parábolas tem várias vantagens em relação a um discurso mais
lógico. Em primeiro lugar, porque a comparação da linguagem parabólica é muito
mais rica em comunicação do que a exposição teórica: é mais profunda, mais
carregada de sentido e, por isso, mexe mais com os ouvintes. Em segundo lugar,
porque é uma excelente arma de controvérsia: a linguagem figurada permite levar
o ouvinte a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua
concordância. Em terceiro lugar, porque é um verdadeiro método pedagógico, que
ensina a refletir, a medir os prós e os contras, a encontrar soluções para os dilemas
que a vida põe: estimula a curiosidade, incita à busca, convida a descobrir a
verdade.
Esta parábola – A parábola deste Evangelho usa imagens conhecidas da Palestina rural: a
semeadura. Para entender as comparações, é bom lembrar que, na Palestina
Antiga, jogava-se a semente antes de arar a terra. Por isso, alguma semente
caía no caminho; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país;
outra parte comida pelas aves, outra parte perdida, porque a terra era rala e
cheia de ervas daninhas. Mas uma parte iria cair em terra fértil que dava
frutos, conforme a sua possibilidade.
Imagens – Podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário deles; a
semente seria a Palavra de Deus e os tipos diferentes de solo, as respostas
diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, nas suas diversas
formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra, mas de uma maneira
superficial e não demora muito para que se torne infrutífera nas suas vidas.
Outros aceitam a revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto
correm atrás das riquezas de um mundo consumista, relegando, assim, Deus e o
seu projeto. Estes fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em
nada ajuda o Reino a crescer.
Esperança – A finalidade da história é dar esperança. Embora haja muitos fracassos,
em última instância o trabalho do semeador dá certo: sempre há pessoas que
recebem com entusiasmo a Palavra e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos
frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais, mas que todos deem
conforme as suas possibilidades (cem, sessenta e trinta por um).
Refletir – No final, a parábola faz o ouvinte refletir sobre si mesmo. Transpondo-a
para os dias atuais, cabe-nos perguntar: Depois de dois mil anos de semeadura
cristã (e quinhentos anos das Igrejas no Brasil), será que o solo (nós cristãos) está dando os frutos
de uma sociedade justa? Que tipo de solo estamos sendo? O semeador é Deus, a
semente é boa; mas que tipo de solo sou eu, somos nós? "Quem tem ouvidos
para ouvir, que ouça!"
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