No Evangelho
das missas deste domingo (Mt 10,1-16), o evangelista Mateus apresenta um texto
de difícil interpretação, conhecida como a parábola dos operários da vinha.
Chamado – Naquela época as pessoas que queriam trabalhar se reuniam por volta das
seis da manhã nas praças das cidades a espera de alguma oferta de trabalho para
o dia. O proprietário da vinha ofereceu um denário romano como pagamento aos
trabalhadores. Essa moeda era usada como pagamento da diária de um trabalhador
comum. Ao longo do dia, esse proprietário recrutou outros trabalhadores para
sua vinha (às 09:00, 12:00, 15:00 e 17:00 horas). Ao anoitecer, os
trabalhadores foram chamados diante do senhor, a fim de receberem a paga do
trabalho, e todos (até os que trabalhado apenas uma hora) receberam o mesmo
valor: um denário. Isto gerou indignação nos trabalhadores da primeira hora.
A resposta final – O dono da vinha afirma que ninguém tem nada a reclamar se ele decide
derramar a sua justiça e a sua misericórdia sobre todos, sem exceção. Ele
cumpre as suas obrigações para com aqueles que trabalham com ele desde o início;
não poderá ser bondoso e misericordioso para com aqueles que só chegam ao fim?
Isso em nada deveria afetar os outros…
Mensagem – A parábola é dirigida às comunidades de judeus que aderiram ao cristianismo
e que não admitiam que, no cristianismo, os pagãos se considerassem eleitos de
Deus (assim como eles próprios se consideravam) conforme sua tradição do
Primeiro Testamento. Assim, na parábola os trabalhadores de última hora (os
gentios), ao receberem seu pagamento, são tratados em pé de igualdade com os
primeiros que vieram trabalhar na vinha (o povo de Israel).
Sustento da vida – O texto nos ensina que a lógica do Reino não é a lógica da sociedade
vigente. Na nossa sociedade, uma pessoa vale pelo que produz – logo, quem não
produz não tem valor. Assim, se faz pouco caso do idoso, aposentado, doente, portador
de deficiência... Na parábola, o patrão (símbolo do Pai) usa como critério de
pagamento, não a produção, mas o sustento da vida – também o trabalhador da
última hora precisa sustentar a família e por isso recebe o valor suficiente,
um denário.
Trabalho – Pode-se analisar nestas imagens o significado do trabalho. O trabalho
não é mercadoria que se vende, avaliado pela quantidade da produção que dele
resultou. O trabalho é o meio de subsistência das pessoas e da família, bem
como é serviço à comunidade, pela partilha de seus frutos. Todos têm direito ao
essencial para a sua sobrevivência. Na parábola, a todos foi dado o necessário
para a sobrevivência de um dia, independentemente da quantidade de sua
produção. A venda do fruto do trabalho por um salário é uma alienação da
dignidade do trabalhador. É vender uma parte do seu ser, de seu próprio corpo,
do fruto de seu trabalho, para a acumulação de riqueza e prazer do patrão.
Valores – O Reino de Deus tem valores diferentes da sociedade neoliberal do nosso
tempo - a vida é o critério, não a produção. Por isso, quem procura vivenciar
os valores do Reino estará na contramão da sociedade dominante. O texto nos
convida a imitar o Pai do Céu, lutando por novas relações na sociedade e no
trabalho, baseadas no valor da vida, não na produção e consumo. O critério é a
gratuidade de Deus Pai, pois tudo o que temos recebemos Dele e, sendo todos seus filhos amados, a
comunidade cristã não pode discriminar pessoas, por qualquer motivo que seja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário