No Evangelho
das missas deste domingo (Mt 22,1-14), o evangelista Mateus apresenta a
parábola dos convidados para o banquete nupcial: um rei que preparou um
banquete nupcial para o seu filho. Mandou chamar os convidados, mas eles não
quiseram vir. Chamou todas as pessoas que encontrou, maus e bons, e a sala do
banquete encheu-se de convidados. Ao entrar na sala, o rei viu um homem que não
estava vestido com o traje nupcial e mandou retira-lo da festa. No final
conclui: “Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.
Publicamos o
comentário do padre Raniero Cantalamessa OFM, pregador da Casa Pontifícia, ao
Evangelho do próximo domingo.
O que é importante? É instrutivo observar quais são os motivos pelos quais os convidados da
parábola rejeitaram participar do banquete. O evangelista Mateus diz que eles
“não fizeram caso” do convite e “se foram um para seu campo, outro para seus
negócios”. O Evangelho de Lucas, sobre este ponto, é mais detalhado e apresenta
assim as motivações da rejeição: “Comprei um campo e tenho de ir vê-lo...
Comprei cinco juntas de bois e vou aprová-las... Casei-me, e por isso não posso
ir” (Lc 14, 18-20). Que têm em comum estes personagens? Os três têm algo
urgente a fazer, algo que não pode esperar, que reclama imediatamente sua
presença. E que representa o banquete nupcial? Este indica os bens messiânicos,
a participação na salvação trazida por Cristo, portanto a possibilidade de
viver eternamente. O banquete representa, pois, o importante na vida, mais
ainda, o único essencial. Está claro então em que consiste o erro cometido pelos
convidados; está em deixar o importante pelo urgente, o essencial pelo contingente!
Isto é um
risco tão difundido e insidioso, não só no plano religioso, mas também no puramente
humano, que vale a pena refletir sobre isso um pouco. Antes de tudo no plano religioso.
Deixar o importante pelo urgente significa adiar o cumprimento dos deveres religiosos
porque cada vez se apresenta algo urgente que fazer. É domingo e é hora de ir à
Missa, mas tem-se que fazer aquela visita, aquele trabalho no jardim, e tem-se
que preparar a comida. A liturgia dominical pode esperar, a comida não; então
se adia a Missa.
Disse que o
perigo de omitir o importante pelo urgente está presente igualmente no âmbito humano,
na vida de todos os dias, e queria aludir também a isto. Para um homem é
certamente importante dedicar tempo à família, estar com os filhos, dialogar
com eles se são maiores, brincar com eles se são pequenos. Mas no último
momento se apresentam sempre coisas urgentes que despachar no escritório,
extras para fazer no trabalho, e se prorroga para outra ocasião, acabando por
regressar à casa demasiado tarde e demasiado cansado para pensar em outra
coisa.
Para um homem
e uma mulher é uma obrigação moral ir cada tanto visitar o ancião progenitor que
vive só em casa ou em uma residência. Para alguns é importante visitar um
conhecido enfermo para mostrar-lhe o próprio apoio e talvez fazer-lhe algum
serviço prático. Mas é urgente, se se prorroga aparentemente o mundo não cai,
ou melhor ninguém se dá conta. E assim se adia.
O mesmo se faz
no cuidado da própria saúde, que também está entre as coisas importantes. O médico,
ou simplesmente o físico, adverte que deve cuidar-se, tomar um período de
descanso, evitar aquele tipo de estresse... Responde-se sim, sim, o farei sem
falta, quando eu terminar esse trabalho, quando tiver arrumado a casa, quando
tiver liquidado todas as dívidas... Até que se perceba que é tarde demais.
Eis aqui onde
está a insídia: passa-se a vida perseguindo os mil pequenos afazeres que há que
despachar e não se encontra tempo para as coisas que incidem de verdade nas
relações humanas e que podem dar a verdadeira alegria (e descuidam-se, a
verdadeira tristeza) na vida. Assim, vemos como o Evangelho, indiretamente, é
também escola de vida; ensina-nos a estabelecer prioridades, a tender ao
essencial. Em uma palavra: a não perder o importante pelo urgente, como sucedeu
aos convidados de nossa parábola.
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