sábado, 25 de janeiro de 2014

Quantos eram os apóstolos?





No Evangelho das missas deste domingo (Mt 4,12-23), Jesus chama os primeiros apóstolos. É comum falar dos “doze apóstolos” de Jesus. Pinturas, quadros e esculturas fizeram famosa a cena do Mestre rodeado por seus doze amigos íntimos e contribuíram para imortalizar esse número, que hoje ninguém mais discute. Mas, os apóstolos de Jesus eram realmente doze? No Novo Testamento aparecem quatro vezes a lista com os nomes dos doze apóstolos (Mc 3, 16-19; Mt 10, 2-4; Lucas 6, 14-16 e At 1, 13). Delas, podemos observar alguns dados.

Os mais próximos – Se tomarmos em primeiro lugar a lista de Mateus, veremos que começa com Simão Pedro. É um dos apóstolos de quem mais dados temos. Sabemos que era oriundo de Betsaida (Jo 1, 44), mas tinha sua moradia em Carfanaum (Mt 8, 14), onde ganhava a vida como pescador no Lago da Galileia. Era casado (1 Cor 9,5) e vivia com seu irmão André e sua sogra (Mc 1, 29-30). O segundo da lista é André, irmão de Simão Pedro. Como este, era oriundo de Betsaida e vivia em Carfanaum, dedicando-se à pesca. Tiago e João eram igualmente pescadores do lago da Galileia (Mc 1, 19) e parece que gozavam de boa posição econômica, já que o pai de ambos, Zebedeu, era dono de uma pequena empresa pesqueira. Pedro, Tiago e João (sem André) constituíam um grupo especial dentro dos doze apóstolos e eram, de alguma forma, os preferidos de Jesus, já que lhes concedeu alguns privilégios. E unicamente a eles colocou um nome novo: a Simão chamou “Pedro”, e a Tiago e João, “Boanerges”, que significa “filhos do trovão” (Mc 3, 17).

Os menos famosos – Os outros oito apóstolos são menos conhecidos. De Felipe, o quinto da lista, só sabemos que era também de Betsaida e, ao que parece, muito amigo de André (Jo 12, 20-22). De Bartolomeu, o sexto, não sabemos nada. De Tomé, o sétimo, sabemos que tinha como apelido "Gêmeo", mas não se conta de quem. Foi ele quem convenceu os demais apóstolos a acompanharem Jesus, por ocasião da morte de Lázaro (Jo 11, 6-16); e foi ele quem duvidou das aparições do Senhor Ressuscitado (Jo 20, 24-29), pelo que foi chamado de incrédulo. De Mateus sabemos que era um cobrador de impostos. Dos três apóstolos que seguem – Tiago, filho de Alfeu; Tadeu e Simão, o zelote – não temos nenhum detalhe de suas vidas. E ao final da lista aparece Judas Iscariotes, o que entregou Jesus às autoridades judaicas que o mataram.

Problemas – Esta lista de Mateus coincide com a de Marcos. O problema aparece ao compará-la com as outras duas (de Lucas e Atos), porque nestas aparecem um apóstolo novo: um tal Judas, filho de Tiago (Lc 6, 16, At 1, 13). Quem é este Judas? Como nestas duas listas não há Tadeu, a solução que se encontrou foi que este Judas (de Lucas e Atos) é a mesma pessoa que Tadeu (de Mateus e Marcos). E o chamam Judas Tadeu. Mas, essa identificação carece de fundamento bíblico.

Mais problemas – Se prosseguirmos lendo os Evangelhos, veremos que Marcos narra a vocação de outro apóstolo, chamado Levi, cobrador de impostos. Por que ele tampouco aparece na lista dos doze? Aqui a tradição solucionou o problema do mesmo modo: identificando Levi com Mateus. O que não é possível, porque Marcos apresenta Levi e Mateus como pessoas claramente distintas: uma em uma lista dos nomes (Mc 3, 18) e outra no relato de sua vocação (Mc 2, 13-14). Por sua vez, o Evangelho de João relata a vocação de um apóstolo chamado Natanael (1, 45-51), que não está em nenhuma das quatro listas. Para poder seguir mantendo o número doze, a tradição o identificou com Bartolomeu, sem nenhuma razão válida.

Mais apóstolos? Vemos, pois, como os Evangelhos mencionam mais de doze apóstolos. Porém, se continuarmos buscando no Novo Testamento, encontraremos que Paulo e Barnabé eram também apóstolos (Atos 14, 14); que Silvano e Timóteo figuram como apóstolos (1 Ts 2, 5-7); que “Tiago, irmão do Senhor” é chamado apóstolo (Gálatas 1, 19); que Apolo é apóstolo (1 Cor 4, 6.9); e inclusive Andrônico e Júnia (uma mulher!) tem o título de apóstolos (Rm 16, 7).


Quantos eram, afinal, os apóstolos? A esta altura, já é evidente que não eram doze. Por que, então, nós falamos sempre em doze apóstolos? Bem ....  Isto nós veremos na próxima semana.

domingo, 19 de janeiro de 2014

O preço de testemunhar Jesus Cristo


No Evangelho deste domingo, João Batista vê Jesus e proclama: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. E dá o testemunho: “Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele. Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”. Atualmente, no mundo, quase 400 milhões de fiéis são discriminados ou perseguidos por darem o testemunho de sua religião, dos quais 200 milhões são cristãos.

Um pouco de História – As religiões cristãs nasceram com os ensinamentos de Cristo na Terra. Jesus Cristo nasceu no ano -7 a.C., foi batizado no ano 27 d.C., pregou entre os anos 27 e 30 d.C., foi crucificado e ressuscitou, em abril do ano 30 d.C. Portanto, a partir do ano 30 d.C., começaram a se formar as comunidades cristãs no mundo.

1º Século – No primeiro século do cristianismo (entre os anos 30 e 100 d.C.), os ensinamentos de Jesus são coletados e escritos, formando o Novo Testamento. Os apóstolos morrem, aparecendo a segunda geração de cristãos. As comunidades e igrejas cristãs proliferam dentro do Império Romano, aparecendo uma nova religião dentro do judaísmo. As perseguições aparecem, principalmente em Roma: Nero usa os corpos de cristãos como tochas humanas para iluminar os seus jardins e Dominiano ordena que todos devem cultuá-lo como “Senhor e Deus”. No ano 100 d.C., os cristãos eram 2 milhões (0,6% da população mundial), 25 mil tinham sido assassinados (1,2%), ou seja, 360 cristãos morriam por ano.

2º século – Entre anos 100 e 200 d.C., os martírios continuaram, aparecendo também as seitas heréticas e os apologistas. Os centros fortes da Igreja estavam na Ásia Menor, no Norte da África e em Roma. A Igreja continuou se espalhando e alcançando todas as classes, particularmente a mais baixa. No ano 200 d.C., os cristãos já eram 16 milhões (3,5% da população), 80 mil já tinham sido assassinados.

3º século – O imperador Setimo Severo (202-211 d.C.) foi o principal perseguidor da Igreja, no 3º século, proibindo a conversão para o Cristianismo. Assim mesmo, o cristianismo crescia: somente no Egito, no ano 300 d.C., existiam cerca de um milhão de cristãos. Até esse ano, os mártires cristão já somavam 410 mil.

4º século – O séc. IV foi o século das grandes transformações. No início, deu-se a maior perseguição – instituída pelo imperador Dioclesio, em 305 d.C. – com a intenção de acabar com a Igreja. Em seguida, o imperador Constantino aceita o cristianismo e a Igreja é legalizada. É o século dos Concílios Ecumênicos e é definido o cânon do Novo Testamento. No ano 400 d.C., os cristãos já são 16% da população, o Novo Testamento existe em 11 idiomas e já existem 2 milhões de mártires cristãos.

Séculos seguintes – No 5º século a Igreja passa a usar o calendário cristão. Acontece a desintegração do Império Romano. As perseguições continuam. No ano 500 d.C. os cristãos já são 22% da população e já existem 2,5 milhões de mártires. A partir do 6º século, a Igreja ganha poder junto aos imperadores, diminuindo as perseguições.

Hoje – No início do século 21, 200 milhões de cristãos são perseguidos por causa de sua fé. Os responsáveis por isso são 70 Estados, nos quais impera um regime ateu (China, Vietnã, Cuba, Laos, Coréia do Norte), ou um crescente fundamentalismo religioso (Sudão, Paquistão, Egito, Índia, Indonésia, Arábia Saudita...).

Coreia do Norte – Segundo o “Open Doors 2011 World Watch List”, que avalia as condições em que vivem os cristãos em 77 nações, a Coreia do Norte é (pela nona vez) a que mais persegue os seguidores de Jesus, sendo citada como um dos lugares mais perigosos para um cristão viver.

Iraque – Nos últimos anos, há um êxodo de cristãos deixando o Iraque para escapar da perseguição. Atualmente, restam pouco mais de 300 mil cristãos nesse antigo berço do Cristianismo, onde hoje, milícias organizadas barbarizam famílias apenas pelo fato de não professarem a mesma fé que eles. Em outubro de 2011, um atentado contra uma catedral em Bagdá matou 52 cristãos; em dezembro, um ataque contra casas de cristãos deixou um saldo dois mortos e 16 feridos. No dia de Natal de 2013, atentados mataram ao menos 37 pessoas que saíam da missa num bairro cristão de Bagdá.

Últimos dados – Entre 2001 e 2010, foram assassinados 253 agentes de pastoral em todo o mundo. Na noite do ano novo de 2011, uma bomba em uma igreja cristã matou 21 fiéis e feriu dezenas em Alexandria, no Egito. No dia 22/09/2013, um duplo atentado suicida em frente a uma igreja, no final da missa, matou pelo menos 81 pessoas no Paquistão (37 mulheres, e 131 feridos), sendo considerado o ataque mais sangrento de contra a minoria cristã no país.


Mais mortes – Em dezembro de 2013 D. Warduni, Bispo Auxiliar de Bagdá, e D. Samir Nassar, Arcebispo Maronita de Damasco denunciaram que “O futuro dos Cristãos no Iraque e em todo o Médio Oriente é muito obscuro e pode dizer-se mesmo que existe um plano para o esvaziar de Cristãos.” Estima-se que 75% das vítimas de perseguição religiosa no mundo seja de Cristãos. A cada cinco minutos, um cristão é assassinado por razão da sua fé. A cada ano, 105 mil cristãos no mundo são condenados ao martírio: um verdadeiro holocausto.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O Batismo de Jesus



Neste domingo, o Evangelho relata o batismo de Jesus por João Batista. De acordo com Mateus, a presença de Jesus na fila de pecadores à espera do batismo confundiu João Batista. Sendo o Mestre, o Messias esperado, que sentido tinha fazer-se batizar, como se houvesse sido infiel a Deus? Por outro lado, a atitude de Jesus não condizia com a crença messiânica, pregada pelo Batista, que dizia ser o Messias um juiz inflexível, incapaz de contemporizar com as fraquezas humanas. O gesto de Jesus inaugurava, assim, uma forma diferente de messianismo, em nada parecida com os messianismos em voga. Ele era o Messias-Filho, amado pelo Pai e plenamente disposto a cumprir a vontade paterna. A dificuldade de João consistia em não saber lidar com a imagem de um Deus tão misericordioso e próximo da humanidade decaída. Vejamos suas razões para isso e como se deu o convívio de João e Jesus.

Situação política, social e religiosa da época – No primeiro século da era cristã, a religião judaica havia caído num profundo desinteresse, num profundo estado de abatimento moral e físico das pessoas. A situação política opressora, que reinava no país, com o domínio do Império Romano; a espera por um Salvador que não chegava nunca; a vida escandalosa da classe governante e a degradação dos sacerdotes do Templo (mais preocupados com seus próprios interesses) foi esfriando a devoção das pessoas e desanimando a prática religiosa.

O clamor do deserto – Frente a este panorama, surge João (filho único de Zacarias, sacerdote do Templo), um homem que buscou injetar novas forças ao judaísmo decadente. Com sua linguagem implacável e dureza insensível para um pregador, passou a convocar as pessoas para uma mudança de vida. Dizia que o juízo de Deus era iminente e que, em muito pouco tempo, Deus iria castigar com fogo todos os que não se arrependessem de seus pecados (Mt 3,7).

Deserto com água – As pessoas vinham de todas as regiões para escutar suas pregações e ficavam impressionadas. A todos que aceitavam seus ensinamentos e buscavam uma mudança de vida, João pedia como sinal de arrependimento um banho exterior: o batismo, que ele pessoalmente ministrava no rio Jordão.

No Jordão – Toda a pregação de João se desenvolvia junto ao rio Jordão, o que lhe permitia as cerimônias com água. Mas não tinha um lugar fixo. Às vezes se instalava num braço do rio, próximo ao vilarejo de Betânia, na província da Peréia (Jo 1,28). Outras vezes, mais ao norte, em Enon, próximo a Salim, na Samaria (Jo 3,22). O Evangelho de Lucas afirma que João pregava em toda região do rio Jordão (Lc 3,3), em busca de ouvintes para proclamar sua mensagem e batizar.

Discípulos – Aos poucos, foi se formando ao redor do Batista um pequeno grupo de discípulos que o acompanhava nas sessões batismais (Jo 1, 28.35-37), ajudava nas pregações (Jo 3,23), recebia os ensinamentos mais profundos (Jo 3,26-30), compartilhava sua espiritualidade asceta (Mc 2,18) e a oração (Lc 11.1).

Jesus – No início do ano 27 d.C., Jesus viajou da cidade de Nazaré (na Galiléia) até o vale do rio Jordão, para ver João. Ali, entre as áridas colinas e vales da Judéia, Jesus pôde escutar a mensagem escatológica de João, que podia ser resumida em três idéias: o fim do mundo está próximo; o povo de Israel perdeu seu rumo e pode ser extinto pelo juízo de Deus; é necessário mudar de vida, deixando-se batizar. Jesus aceitou a mensagem de João, como muitos outros judeus, deixando-se batizar (Mt 3,13-17; Mc 1,9-11; Lc 3,21-22).

O novo Mestre – Os Evangelhos descrevem que alguns discípulos de João Batista (André e outro, que se deduz ser Felipe) reconheceram Jesus como Mestre e passaram a segui-Lo (Jo 1,35-37). Logo, esses dois discípulos convidaram outros dois (Pedro e Natanael) para que eles se juntassem ao novo mestre.  Assim, Jesus formou o seu grupo de discípulos, indo para a província da Judéia, onde também batizava (Jo 3,22).


Jesus e João – Os Evangelhos mostram que Jesus integrou o grupo de João Batista, convivendo algum tempo com ele (não se sabe quanto). Depois, como Mestre, passou a empreender seu próprio ministério, com uma metodologia própria, que diferenciava em três pontos de João Batista: não anunciava o castigo iminente de Deus, mas a Sua misericórdia e amor; não permanecia no deserto, mas percorria os povoados e aldeias de toda a Palestina; não jejuava nem fazia abstinência de bebidas, mas comia e bebia com os pecadores.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Magos: verdades e lendas




Evangelho – O Evangelho de Mateus (Mt 1,1) cita que Jesus foi visitado por “alguns magos”.  Descreve que eles foram guiados por uma estrela e que entregaram três presentes para o menino Jesus: ouro, incenso e mirra.  Estas são as únicas informações que temos sobre os magos; tudo o que aparece, além disso, são histórias, tradições, lendas, fábulas.  Vamos ver algumas:

Os três reis magos – No segundo século da era cristã, as comunidades cristãs já diziam que os magos eram reis e eram em número de três. Isto em razão dos presentes recebidos por Jesus: apenas os reis presenteavam com ouro e os três presentes davam a entender que eram três pessoas.  Apareceram também os nomes dos magos: Baltazar (que significa ‘rei da luz’), Melchior (‘protetor de reis’) e Gaspar (‘vencedor de tudo’).  A única evidência histórica que existe nestes nomes é que, na Pérsia (lugar onde havia muitos magos), entre os anos 19 e 65 da era cristã, viveu um príncipe de nome Gundofarr (que apresenta alguma semelhança a Gaspar).
Mais lendas – Passaram-se mais alguns séculos e criaram a descrição física dos magos. Melquior era velho, ponderado, prudente, sisudo, de barba e cabelos longos e grisalhos; Gaspar era jovem, sem barba e louro; Baltazar era negro e totalmente barbado. A ideia da procedência persa dos magos influenciou até as roupas com que aparecem representados: chapéu redondo na cabeça, camisa curta presa por um cinturão, calças estreitas e uma capa por cima. Exatamente como os reis persas se vestiam.
Restos mortais – De acordo com uma tradição medieval, os magos teriam se reencontrado quase 50 anos depois do primeiro Natal, em Sewa, uma cidade da Turquia, aonde viriam a falecer. No ano de 474, os restos mortais dos três magos foram sepultados em Constantinopla e depois transferidos para Milão, na Itália. Em 1164 foram transferidos para a cidade de Colônia, na Alemanha, onde foi erguida a belíssima Catedral dos Reis Magos, que os guarda até hoje.

A Lenda do Quarto Rei Mago – Uma antiga história conta que existia um quarto rei mago, que se chamava Artabam. Os quatro venderam tudo o que tinham e compraram os presentes. Artabam escolheu, como presentes, pedras preciosas: um rubi, uma esmeralda e diamantes. Quando estava a caminho de Belém, escutou gemidos de um homem – assaltado e largado à beira do caminho. Comovido, colocou-o no seu camelo, o levou a uma pousada próxima, cuidando dele até que se recuperasse. Como pagamento entregou o rubi ao dono da pousada.

Sozinho – Procurou a trilha dos outros reis magos, mas a estrela já tinha desaparecido do céu. Continuou sozinho seu caminho, pois no fundo do coração, sabia que algum dia iria encontrar seu Rei. A certa altura da caminhada, avistou uma caravana vindo em sua direção e viu que se tratava de um comboio de escravos, que eram levados para a morte. Sentindo compaixão e amor, pegou a esmeralda e os diamantes e comprou os escravos, libertando-os em seguida.  Quando todos já haviam partido, Artabam ficou sozinho.


Encontro – O Sol se pôs e a escuridão tomou conta do deserto. Não tinha mais presentes para oferecer, não havia mais a estrela-guia, tinha perdido o contato com seus três amigos. Nunca desistiu de encontrar o seu Rei.  Um dia, passando próximo à Jerusalém, encontrou três homens crucificados.  Um deles lhe perguntou o que procurava.  Artabam respondeu que há mais de 30 anos buscava o Rei dos Judeus.  O homem lhe disse: “Pois acaba de encontrar!”.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Foi Jesus desobediente aos 12 anos?


O Evangelho das missas deste domingo (Lc 2, 42-51) apresenta Jesus com 12 anos no Templo entre os doutores. José e Maria foram à Jerusalém na festa da Páscoa e levaram Jesus, que tinha 12 anos. A regressarem para Nazaré, depois de um dia de viagem, notaram que Jesus não estava na caravana. Voltaram à Jerusalém e, depois de três dias, o encontraram no Templo, sentado entre os doutores. Ao ser perguntado da razão de ter permanecido no Templo, Jesus respondeu: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?”

Midrash – O Evangelho que nos é proposto é o final do “Evangelho da infância” de Lucas. Como já comentamos em artigos anteriores, estes textos foram escritos para se desenvolver um conceito teológico ou uma doutrina, criando-se uma história fictícia ou uma narração figurada (uma lenda, um mito). Portanto, a narração de Lucas não pretende ser um relato jornalístico ou uma informação histórica, mas sobretudo, uma catequese (texto escrito para o ensino) sobre Jesus.

Texto inacreditável – A “história” criada por Lucas, além de ser incrível, apresenta detalhes difíceis de ser sustentada como real: é inacreditável que o menino Jesus tenha decidido ficar sozinho em Jerusalém, sem dizer nada aos seus pais; como puderam José e Maria fazer a viagem de regresso de Jerusalém para Nazaré sem se certificarem de que o seu filho, apenas com 12 anos, estava na caravana?; é possível que os seus pais caminhassem durante um dia inteiro (30 km) sem sentirem a falta de Jesus?; é imaginável que José e Maria fizessem as refeições sem se darem conta de que Jesus não estava com eles? por que demoraram três dias para encontrá-lo, se o mais natural era que o procurassem no Templo, onde tinham ido em peregrinação?; onde e com quem passou Jesus as duas noites que esteve só e perdido em Jerusalém? como se atreve Maria a repreender a quem ela sabia ser o Filho do Altíssimo?

Qual a razão do texto? – Qual teria sido a razão de Lucas ter criado este texto? Para isso, devemos ter em conta que, nos primeiros tempos, os pregadores quando comunicavam o Evangelho, começavam sempre contando a vida de Jesus a partir do seu batismo no rio Jordão (como se este fosse o primeiro episódio importante da sua vida), e terminavam com a sua morte e ressurreição em Jerusalém. Um exemplo disso ocorre na eleição do substituto de Judas Iscariotes: puseram como condição que o sucessor conhecesse bem a vida de Jesus “a partir do batismo de João até dia em que nos foi arrebatado para o Alto” (At 1,21-22). Quer dizer que a vida completa do Senhor abrangia este período.

Um problema – Como a pregação da vida de Jesus começava com o seu batismo, alguns cristãos pensaram que Jesus tinha “começado” a ser Filho de Deus a partir do batismo. Isto é, julgavam que Jesus tinha sido um homem comum e normal até os 33 anos e que, a partir do batismo, foi “adotado” por Deus como seu Filho. Por isso, após ser batizado, uma voz do céu lhe dizia pela primeira vez: “Tu és meu Filho”. Esta perigosa crença, começou a espalhar-se pouco a pouco em algumas comunidades (desta crença surgiram várias heresias, como o Adocionismo e Nestorianismo).

Evangelhos da Infância – Quando foram escritos os evangelhos, Marcos (o primeiro a escrever) começou o seu relato de maneira tradicional, isto é, com o batismo de Jesus (Mc 1). Mas Lucas (e Mateus), para evitar a possível interpretação de que Jesus tinha “começado” a ser Filho de Deus a partir do batismo, decidiu acrescentar os “relatos da infância” de Jesus, que mostravam a sua filiação divina desde o nascimento.

Jesus cresceu duas vezes – Quando Lucas já tinha terminado de escrever a infância de Jesus (a anunciação do anjo, a visita de Maria a Isabel, a apresentação do menino recém-nascido no Templo), e tinha escrito a conclusão (“E o menino crescia, e fortalecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele” – Lc 2,40), tomou conhecimento da história de Jesus adolescente perdido no Templo aos doze anos. Resolveu incluí-lo no texto da infância que já havia escrito. Mas se esqueceu que já havia colocado uma frase final no texto e voltou a colocá-la outra vez mais à frente. Assim, o capítulo 2 de Lucas “termina” duas vezes, com a repetição dos versículos 40 e 52.


QUER SABER MAIS? – Esta história de “Jesus no Templo” é contada em detalhes em alguns textos apócrifos (não reconhecidos pela Igreja). No “Evangelho apócrifo de Tomé – narrações da infância de Jesus” e no “Evangelho apócrifo de Pedro sobre a infância do Senhor” são descritas todas as conversas de Jesus com os doutores do Templo e a conversa dos fariseus com Maria. Se você quiser receber estes textos solicite por E-mail que lhe enviaremos o arquivo gratuitamente.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Quando nasceu Jesus?


Hoje vamos apresentar detalhes sobre o nascimento de Jesus com informações tiradas dos Evangelhos Canônicos e de textos históricos.

Cronologia – A cronologia do nascimento de Jesus não é encontrada, diretamente, nos Evangelhos.  No entanto, é possível a reconstrução do quadro cronológico a partir de alguns dados evangélicos, históricos e astronômicos.
         
O que dizem os Evangelhos – O ano em que Jesus nasceu pode ser calculado em função de dois dados evangélicos: alguns anos antes da morte de Herodes (Mt 2,1-19) e por ocasião de um recenseamento, quando Públio Sulpício Quirino era governador da província romana da Síria (Lc 2,2).

Um pouco de História – De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo, Herodes governou 37 anos (desde o 714º ano do calendário romano, que conta os anos a partir da fundação de Roma – ou 40 a.C. – até a sua morte no ano 750º, ou 4 a.C.).   Herodes morreu alguns dias após um eclipse lunar e cerca de 10 dias antes da Páscoa.  A astronomia confirma um eclipse lunar visível em Jerusalém na noite de 12 de março de 4 a.C. e a Páscoa daquele ano ocorreu em 11 de abril.  Portanto, Herodes morreu no final de março do ano 4 a.C.

Herodes – Sabe-se também, que no princípio do inverno do ano de 5 a.C. Herodes, já doente (problemas pulmonares), se transferiu para Jericó e, depois, para as termas de Calliroe, no Mar Morto.  Portanto, a visita dos magos a Jesus e a Herodes em Jerusalém se deu antes dessa data (Mt 2).  Por outro lado, Herodes, calculando a época desde o nascimento de Jesus, fez matar todos os meninos com menos de dois anos.  Isso nos leva a concluir que Jesus deveria ter nascido pelo menos dois anos antes da morte de Herodes.

O ano do nascimento de Jesus – Essas considerações nos levam a situar o nascimento de Jesus nos anos 7 (mais provável) ou 6 antes de nossa era e, portanto, se não fosse um paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 "antes de Cristo".

Jesus não nasceu em dezembro – Quanto ao mês do nascimento de Jesus, a única informação está em Lc 2,8: "na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias montavam guarda a seu rebanho".   Sabe-se que, em dezembro, quando comemoramos o Natal, a temperatura na região de Belém é abaixo de zero e, normalmente, há geadas.   Portanto, certamente não haveria gado, no mês de dezembro, nos pastos próximos a Belém.   Atualmente, naquela região, os rebanhos são levados para o campo em março e recolhidos no fim de outubro.

A época mais provável – Portanto, o nascimento de Jesus se deu antes do inverno (do hemisfério norte), talvez no mês de setembro ou outubro do ano 7 (talvez 6) antes de nossa era.

25 de dezembro – Nada sabemos sobre o dia do nascimento de Jesus. Os romanos comemoravam em 25 de dezembro o ‘Dia do Sol Invencível’ pois, os dias começavam a ficar mais longos.  No século IV, os cristãos adotaram esta data para proclamar o nascimento de Cristo.


QUER SABER MAIS? – Flávio Josefo foi um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. No primeiro século escreveu a obra “A História dos Hebreus” que, depois da Bíblia, é a maior fonte de informações sobre os impérios da Antiguidade, o povo judeu e o Império Romano. Se você quiser receber o texto completo deste livro (1.627 páginas) solicite por E-mail que lhe enviaremos o arquivo gratuitamente.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Tu és mesmo o Messias?


No Evangelho das missas deste domingo, João Batista manda os seus discípulos irem até Jesus e perguntar-lhe: “És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar outro?”. João Batista, como todo o povo judeu, aguardava a chegada de um Messias (o Cristo, o Ungido de Deus), como estava prometido no Antigo Testamento. Por essa razão, ele manda seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele realmente o Messias esperado, ou devemos esperar por outro.


Messias – Nos primeiros séculos, uma das dificuldades do cristianismo era provar aos judeus que Jesus era o Messias, o Cristo esperado pelos judeus. Conforme o Antigo Testamento, este personagem deveria ter três características prometidas por Deus para o final dos tempos: um profeta, um rei e um sacerdote. Para Jesus ser o Messias, ele deveria ter as três qualidades.
 
Profeta, rei, sacerdote – A vinda de um profeta no final dos tempos foi comunicada por Deus a Moisés no livro do Deuteronômio (18,18): “Suscitarei um profeta como tu entre teus irmãos”. A promessa de um rei está no 2º Livro de Samuel (7,12), onde Deus diz a Davi: “Quando tu morreres eu mandarei um descendente teu e manterei o seu trono para sempre”. Finalmente, a promessa de um futuro sacerdote santo foi para Eli: “Mandarei um sacerdote fiel, que atue segundo a minha vontade” (1Sam 2, 35).

Jesus: Profeta e Rei – Cristo foi reconhecido como “profeta” (Mc 9,8), como “grande profeta” (Lc 7,16) e como “o profeta” (Jo 6,14). Também foi reconhecido como “rei” (Mt 21,9), como “o rei que vem em nome do Senhor” (Lc 19,38), como “o rei de Israel” (Jo 12,13).  O próprio Pedro reconhece Jesus como o profeta prometido (Hb 3,22) e como rei esperado (Hb 2,36).

Por que a pergunta de João? – João Batista e os judeus esperavam um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (Mt 3,11-12). Ao contrário, Jesus aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão, mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (Mt 8-9). João e os seus discípulos ficaram desconcertados: Jesus será o Messias esperado, ou é preciso esperar um outro que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e mais justiceira?

Jesus Sacerdote – Porém jamais, em nenhuma ocasião, Jesus foi reconhecido como sacerdote. Isto por uma clara razão: para ser sacerdote ele deveria pertencer a tribo de Levi, e Jesus pertencia à tribo de Judá. Portanto, para os judeus, Jesus era um leigo. Explicando melhor: Quando os Hebreus chegaram à Terra Prometida, se dividiram em 12 tribos. Só poderiam ser sacerdotes os descendentes da tribo de Levi (chamados levitas). Jesus pertencia à tribo de Judá, portanto nunca poderia ser aceito como sacerdote.

Solução – Por volta do ano 80 d.C. apareceu na cidade de Roma um personagem de grande cultura e grande conhecimento da língua grega. Este autor, que para nós permanece anônimo, escreveu a Carta aos Hebreus, esclarecendo que Jesus poderia ser sacerdote. Nos capítulos 7 a 10 da Carta, ele desenvolve o seguinte raciocínio: interpretando o Salmo 110 (vers. 4), em que Deus diz “tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”, ele afirma que Deus criou uma nova ordem de sacerdotes, distinta da ordem dos levitas. Jesus Cristo desceu dos céus para ser o sumo sacerdote desta nova ordem.
 
Quem era? – Melquisedec é proclamado como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14). Foi ao encontro de Abrão, abençoou-o, entregando-lhe pão e vinho. Trata-se de um personagem estranho, pois o texto não indica as suas origens nem a sua ordem sacerdotal.


Nova ordem – Portanto Cristo é o primeiro sacerdote, protagonista e iniciador de uma nova ordem de sacerdotes. Pela interpretação do Salmo (110, 4) e da Carta aos Hebreus (cap.7 a 10) a Igreja Católica proclama Jesus como “sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”.