sábado, 17 de junho de 2000

Ano 2000 – Ano Jubilar (Parte II)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 17/06/2000



O que é uma indulgência?

Em linguagem simples, indulgência é a misericórdia que vence o pecado. Mesmo na linguagem comum, fora da Igreja, indulgência significa a capacidade de perdoar, de 'passar por cima' do mal feito. Indulgente é quem teria direito de exigir reparação e prefere apagar o erro num ato de confiança e generosidade em relação àquele que errou.

Indulgência tem a ver com pecado, seja pessoal ou social. Precisamos de indulgências porque somos todos pecadores e vivemos num mundo marcado pelas feridas do pecado.



A indulgência deve ser entendida na relação com o pecado

Muitos preferem nem falar em pecado - como se fosse um assunto fora de moda. Infelizmente, na prática, não é um tema ultrapassado: o pecado, em suas muitas formas, nos agride diretamente. Também não é assunto particular que exija simplesmente um acerto privado entre o pecador e Deus.

Qualquer pecado espalha mal e sofrimento ao mundo, de alguma forma. Nesse sentido, o relato do primeiro pecado, no Gêneses, é exemplar. Pelo exemplo de Adão e Eva, pecar é se apossar de um 'fruto' proibido que destrói a harmonia da vida e transforma em sofrimento e perigo o que deveria ser paraíso. Cada novo pecado que praticamos, repete o processo que expulsa a humanidade do paraíso e deixa um rastro de conseqüências desastrosas, para o próprio pecador, para os que convivem com ele, para a humanidade que se torna menos humana na fraqueza de cada um de seus membros.



Por que a indulgência é proclamar um amor maior que o pecado?

O pecado pode ser perdoado por Deus, pelo irmão ofendido, pela Igreja, pela comunidade. Mas sempre ficam os vestígios do mal feito. A volta ao paraíso fica cada vez mais distante, a recuperação do bem se torna mais penosa. Nesse pano de fundo, proclamar uma Indulgência Plena é afirmar um amor capaz de ser maior do que o pecado: uma vontade restauradora de Deus que tudo cicatriza e recompõe.

Vamos falar um pouco das conseqüências do pecado, que são a razão de ser da indulgência. Pensemos, antes de tudo, num ato com que prejudicamos alguém, roubando algo que lhe pertencia ou até ferindo seu corpo. Mesmo se essa pessoa nos perdoar a ofensa, resta ainda a obrigação nossa de indenizá-la (devolver o que tiramos, pagar o tratamento médico que ele fez...). Se ela nos perdoar não só a ofensa, mas também tudo o que lhe devemos, podemos dizer que ela teve 'indulgência' para conosco. Deus, porém, não está querendo ser 'indenizado' depois de ter perdoado o pecado, a ofensa. Deus quer a nossa realização plena, a nossa felicidade. Mas o pecado não ofende apenas a Deus. Sempre deixa conseqüências negativas em nós e em nossos irmãos. A indulgência, então, é a garantia - pela intercessão da Igreja, da comunhão de todos os santos - de que Deus não somente perdoou tudo, mas nos convida a refazer nossa vida, a buscar a perfeição de nosso ser, a restabelecer plenamente a paz e o amor com todos os irmãos.



Indulgência não é um 'passaporte para o céu'

Por isso, é uma interpretação que ofende a Deus dizer (como às vezes foi dito, suscitando o escândalo dos bons cristãos...) que ganhar a indulgência é comprar o 'passaporte para o céu', o direito de entrar no paraíso. Ganhar a indulgência é comprometer-se a corresponder a graça de Deus e, com sua ajuda, procurar uma libertação total do pecado. Por isso, a indulgência exige gestos concretos que revelem a decisão firme do pecador em converter-se. Exclui qualquer atribuição mágica ao Sacramento da Penitência (Confissão) e à prática da indulgência. Exige, antes, mudança radical do modo de vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário