'E Jesus disse a Pedro: 'Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu, e o que você ligar na terra será ligado no céu, e o que você desligar na terra será desligado no céu. '
(Mt 16,19)
O Poder da Igreja – A questão das indulgências já deu muito problema para a Igreja Católica. Desempenhou até um papel de relevo nos acontecimentos que acabaram desembocando na Reforma Protestante. Cabe então esclarecer alguns pontos. Poderíamos nos perguntar: Com que autoridade a Igreja Católica pode dizer que concebe indulgências plenas para o fiel? Será a Igreja Católica proprietária ou gerente da graça de Deus?
A resposta para essas perguntas estão na Bíblia e no bom senso. A graça, como a própria palavra indica, é de graça. Deus não é pessoa que se possa manipular ou comandar. Ele é livre mesmo diante da Igreja, que está a seu serviço. Então, perguntamos novamente, como a Igreja se atreve a declarar que o Senhor concederá indulgências a este ou aquele que cumprir determinadas condições? A Igreja faz como certos filhos que conhecem bem a mãe. Imagine um jovem que encontrasse um necessitado e dissesse: venha comigo que minha mãe vai arranjar alguma coisa para você comer e vestir.
Ao dizer isso, o jovem não está achando que manda na mãe. Ele a conhece, sabe em que circunstâncias o seu coração se comove e que tipo de recursos ela terá vontade de pôr em ação diante daquele caso. A garantia que ele dá ao desamparado não vem de um poder exercido sobre a mãe, vem da intimidade que gera confiança na abertura caridosa de alguém que o educou para ter compaixão dos necessitados. Por isso ele garante: pode vir, minha mãe vai atender você!
O Poder das Chaves – É dessa maneira que a Igreja põe em funcionamento o 'poder das chaves'. Jesus disse a seus discípulos: 'tudo o que ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será desligado no céu' (Mt 16,19). Desse modo a Igreja está sendo este jovem que olha para o desamparo do mundo, imerso em pecados, e lhe diz indulgentemente em nome de Deus: 'convertam e creiam no Evangelho' (Mc 1,15), creiam no amor misericordioso do Pai que quer tirá-los das trevas e encaminhá-los à luz.
E ao mesmo tempo que Jesus concede autoridade a sua Igreja, Ele condena os peritos de cada época, quando, julgando-se auto-suficientes, conduzem o povo ao erro e às ideologias que são contrárias aos planos de Deus. 'Ai de vocês, especialistas em leis (leia-se hoje os 'peritos'), porque vocês se apoderaram da chave da Ciência. Vocês mesmos não entraram, e impediram os que queriam entrar' (no Reino de Deus) (Lc 11,52).
A Igreja Católica tem dois mil anos de história, recebeu as chaves da Igreja do próprio Jesus e por isso conhece bem o Pai (como o jovem da história conhecia bem sua mãe) e quer ser sempre fiel a Ele, tal qual o foi Jesus. Assim sendo, a Igreja Católica quer, com as indulgências concedidas nesse ano jubilar, abrir e fechar portas do jeito mesmo que Deus quer que elas sejam abertas e fechadas.
Não há indulgência sem atitudes concretas de amor - Ao oferecer aos fiéis a possibilidade de acolher as indulgências do Ano do Jubileu, a Igreja estabelece alguns requisitos. São gestos concretos que a pessoa deve realizar para se predispor ao recebimento do dom de Deus. Não são ritos mágicos, são sinais exteriores que precisam corresponder a firmes intenções e sentimentos internos. Não é qualquer viagem à Terra Santa que conta como peregrinação. Não é qualquer confissão de pecados que garante a absolvição oferecida no Sacramento da Reconciliação: sem arrependimento não há perdão.
Até mesmo o ato de caridade feito aos necessitados precisa brotar de uma genuína fraternidade. Quem estivesse pensando no socorro aos pobres como simples 'moeda de troca' com Deus estaria equivocado. Mais valeria a caridade desinteressada praticada por um ateu que não espera receber nada em troca no além. É por isso que São Paulo diz no famoso hino à caridade: 'Ainda que eu distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria' (1 Cor 13,3).
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