sábado, 17 de fevereiro de 2001

A Formação dos Evangelhos: Parte 5 – Os primeiros textos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 17/02/2001


A catequese – Entre os anos 40 e 50 (lembrar que Jesus foi crucificado em abril do ano 30) os primeiros cristãos foram obrigados a mudar a forma de pregação da Boa Nova (o Evangelho de Cristo). Duas foram as razões desta mudança: a morte de alguns apóstolos (e testemunhas oculares) e a formação de comunidades fora de Jerusalém. As perseguições aos cristãos também contribuíram para esta mudança.

Perícopes – Por estas razões surgiu a preocupação de registrar por escrito a catequese primitiva. Entre os anos de 45 e 50 d.C., surgiram textos avulsos que relatavam partes da vida do mestre. Eram perícopes (pequenas histórias), escritas em folhas separadas, sem qualquer preocupação de formar um todo. Os relatos mais famosos deveriam ser a paixão e morte do Senhor, os milagres, os sermões, as parábolas, as discussões com os judeus, etc.

Corpus – Houve também a necessidade de gerar um texto completo (corpus), que condensasse um perfil mais amplo sobre a vida do Mestre. Assim, a partir dos anos 50 d.C. começaram a aparecer os relatos mais amplos sobre a vida pública de Cristo. Estes textos não são os Evangelhos que conhecemos hoje, mas foi o material que serviu de base para os evangelistas.

Lembrar Lc 1,1 – O início do Evangelho de Lucas comprova a existência destes relatos: "Muitos se propuseram escrever uma narração dos fatos que ocorreram entre nós como nô-los transmitiram os que deles foram testemunhas oculares desde o começo e, depois, se tornaram ministros da Palavra".

A Coleção "Q" – É unanimidade entre os estudiosos da Bíblia a existência de uma coleção de frases e sermões de Cristo, que serviu de base para os Evangelhos de Marcos, Lucas e Mateus. Este suposto texto, chamado de "documento Q" (do alemão Quelle = fonte) era apenas uma série de discursos do Mestre, sem uma biografia ou histórias, mas apenas uma coleção de frases (detalharemos o documento Q na próxima semana).

Evangelho da Cruz – Uma das maiores dificuldades dos discípulos durante as pregações seria explicar as circunstâncias da morte de Jesus. Como havia sido preso? Como foi a condenação? Acusado de quê? Sofreu torturas? Porque foi crucificado? Se ele era um Deus, porque não se safou? Como um Deus poderia ter morrido? Se ele era o Messias, Filho de Deus, porque Deus não o salvou? Para dar subsídios à pregação dos apóstolos, supõem-se a existência de um texto que descrevia a prisão, julgamento, condenação, crucificação e ressurreição de Jesus, também composto nos anos 50 d.C. Alguns autores designam este texto de "Evangelho da Cruz", embora não se trate de um evangelho.

Outros textos – Ainda é provável que tenham surgido outros textos, como uma coletânea dos atos e milagres de Jesus, descrições sobre o nascimento, etc. Um texto bastante discutido é o chamado "Evangelho de Tomé", descoberto em 1945 nas grutas de Nag Hammadi, no Egito. Trata-se de uma coleção de 114 frases de Cristo, considerada como o principal documento fora dos 4 Evangelhos. Falaremos sobre o "Evangelho de Tomé" nas próximas colunas.

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