sábado, 12 de maio de 2001

A Formação dos Evangelhos: Parte 16 – Mateus: o novo Pentateuco

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 12/05/2001


O novo Moisés – O Evangelho de Mateus salienta a figura de Cristo sobre o fundo do novo testamento, fazendo as vezes de novo Moisés, com a clara intenção de provar aos judeus que Cristo era o Messias tão aguardado pelo povo, que veio promulgar o Antigo Testamento.

Os destinatários – O autor de Mateus escreveu seu texto com um objetivo exclusivo: catequizar o público judaico. Isto fica claro quando utiliza-se de termos e costumes judaicos sem qualquer explicação. Seria difícil um leitor não-judeu entender tais expressões como Cidade Santa (Jerusalém), Lugar Santo (Templo de Jerusalém), Casa de Israel ou Povo Eleito (Judeus) ou Filho de Davi (Jesus).

As expressões – O termo "Reino dos Céus" ou a equivalente "Reino de Deus" é citada 33 vezes sem qualquer explicação; "Pai Celeste" aparece 20 vezes; "a consumação do século" aparece 5 vezes. Cita termos exclusivamente judaicos: as cidades de Israel, a terra de Israel, a Cidade do Grande Rei, os filhos do Reino, receber a terra por herança, a carne e o sangue, o jugo da Lei, as portas do inferno, ligar e desligar, os filhos da geena. Estas expressões não têm qualquer sentido para um não-judeu.

A autoridade do Evangelho – O texto do Evangelho de Mateus foi o primeiro a ser aceito por todas as comunidades cristãs. Era considerado como a catequese oficial dos Apóstolos, sendo o texto mais utilizado pelos pregadores cristãos dos primeiros séculos.

O novo Pentateuco – O Pentateuco são os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, também designados como "A Lei", e seguidos de forma radical pelos judeus. Como que em uma comparação com o Pentateuco, o autor de Mateus compôs cinco sermões temáticos (três quintos do Evangelho) que apresentam de maneira bem didática os ensinamentos de Cristo: O ‘Sermão da Montanha’ (cap. 5-7), as ‘instruções aos Apóstolos’ (cap. 10), as ‘sete parábolas’ sobre o Reino (cap. 13), o ‘sermão comunitário’ do Reino de Deus (cap. 18) e o ‘sermão escatológico’ sobre o fim dos tempos (cap. 24-25).

As fontes do texto – Todo o texto de Mateus (com exceção da Infância) foi baseado em Marcos e no documento Q. O texto pode ser dividido em 5 partes, onde realça a didática do autor: A infância de Jesus (cap. 1 e 2), obtida junto a comunidades judaicas; Preparação da Missão, onde descreve as atividades de João Batista no deserto e as tentações de Jesus (Mt 3,1 a 4,11); Missão na Galiléia, com o Sermão da Montanha (cap. 5 a 7), os milagres (cap. 8 e 9), debates sociais (cap. 11 e 12) e parábolas (cap. 13); Missão em Jerusalém, descreve a viagem, a entrada triunfal e prediz a destruição do templo e o fim do mundo (cap. 19 a 25); e Paixão e Ressurreição (cap. 26 a 28) o seu texto é mais catequético.

Alguns problemas – Como vimos o objetivo do autor de Mateus era catequizar os judeus, apresentando Jesus como o Messias, o Cristo descrito e profetizado no Antigo Testamento, o novo Moisés. Para isso, o autor se ampara, por inúmeras vezes, em profecias (130 citações) do A.T., alterando palavras, ou compondo textos de vários profetas para justificar palavras e atos de Jesus. Mas isto é assunto para a próxima semana ...

VOCÊ SABIA QUE ...

... o autor de Mateus comete apenas um erro geográfico ao descrever em Mt 19,1 "... partiu da Galiléia e veio para o território da Judéia além do Jordão", pois a Galiléia e a Judéia estão do mesmo lado do rio Jordão. Talvez trate de uma descrição imprecisa, pois era comum os discípulos evitarem cruzar a Samaria, viajando pela região transjordânica e retornando por Jericó (cruzando 2 vezes o rio).

Nenhum comentário:

Postar um comentário