sábado, 27 de outubro de 2001

O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 5 – O Cânon do Novo Testamento

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 27/10/2001

Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que os judeus tinham dois cânones – um restrito (da Palestina) e outro mais amplo; os cristãos adotaram o catálogo completo enquanto que Lutero optou pelo cânon restrito.

Comunidades – Na Segunda metade do século I, haviam comunidades cristãs espalhadas por todo Império Romano. Os cristãos eram todos batizados e tinham os apóstolos e discípulos como autoridades divinas. Estas comunidades recebiam o ensinamento da Boa Nova (Evangelho) de duas formas: através dos "apóstolos, profetas e mestres" que visitavam as comunidades (a chamada pregação itinerante; mais detalhes, ler a Didaqué) e pelos textos trocados entre as comunidades.

Liturgia – Nas reuniões dominicais eram lidos os livros do Antigo Testamento e os textos com ensinamentos enviados pelos apóstolos, discípulos e por outras comunidades. O Novo Testamento ainda não havia se formado. Na verdade, o Novo Testamento estava começando a se formar em cada comunidade.

Um exemplo – Vamos tomar como exemplo uma comunidade cristã. Chega a esta comunidade uma carta do apóstolo Tiago. A carta é lida em público na reunião dominical e tomada como norma de fé e de conduta, pois sabem que Tiago foi encarregado por Jesus de ensinar a doutrina com autoridade apostólica. Por sua importância, a carta é copiada e enviada para outras comunidades e o original é guardado na biblioteca da comunidade. Desta forma, outros grupos de cristãos podem se beneficiar com aqueles ensinamentos.

Outro exemplo – Em outra ocasião, chega uma cópia da catequese (Evangelho) de Lucas. Todos sabem que Lucas é discípulo e companheiro de Paulo e, portanto, o documento tem a fidelidade garantida pelo Apóstolo dos gentios. Em conseqüência, o texto é lido com grande interesse pela comunidade, arquivado na biblioteca e cópias são enviadas a outras comunidades.

Mais um exemplo – Em outra ocasião, chega uma carta de Clemente, bispo de Roma. O documento não é considerado como norma de fé e conduta, como os anteriores. Não é lido em público, nem enviado às comunidades, mas é deixado à disposição dos membros da comunidade para leitura particular.

Biblioteca – Desta forma, cada comunidade cristã tinha a sua coleção de textos lidos em público e os textos separados, para leitura particular. Assim, espontaneamente, a Igreja formou seu catálogo de textos considerados canônicos.

Unanimidade – Haviam os textos lidos (aceitos) em todas as comunidades. Na segunda metade do século II, eram unanimidade: os 4 Evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas e João), o Atos dos Apóstolos, as 13 cartas de Paulo, a 1ª carta de Pedro e a 1ª carta de João.

Não unânimes – Alguns textos eram considerados importantes por algumas comunidades, e excluídos por outras: a carta aos Hebreus (por não ter autor), o Apocalipse (dúvidas sobre a autoria), a carta de Tiago (parecia contradizer Paulo), carta de Judas (por citar livros apócrifos), a 2ª carta de Pedro (considerada cópia de Jd) e a 2ª e 3ª cartas de João (por serem bilhetes de pouco conteúdo teológico).

Cânon – Apenas no ano de 393, o Concílio de Hipona definiu o cânon completo da Bíblia Católica, com os 45 (46) livros do Antigo Testamento e os 27 livros do Novo Testamento. Mas isso é assunto para a próxima semana.

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