A descoberta do ossário de Tiago (já comentada nesta coluna) trouxe a público, novamente, a discussão sobre os “irmãos de Jesus”. Agora, porém, com fatos novos.
A descoberta – Nos últimos dias, a imprensa mundial publicou a descoberta de um ossário (uma caixa onde se depositam os ossos humanos tirados do cemitério) que teria pertencido a Tiago, “irmão de Jesus”. A caixa encontrada (51 cm de comprimento e 28 cm de largura) é um ossuário de pedra calcária com quase dois mil anos, com a inscrição em aramaico “Ya'akov bar Yosef akhui di Yeshua”, que significa “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. O aramaico era um idioma comum dos judeus na época de Jesus.
Os “irmãos” – Inúmeras vezes nós encontramos nos textos do Novo testamento referências aos irmãos de Jesus – Tiago, José, Judas e Simão (Mt 13,55 e Mc 6,3), que freqüentemente acompanham a Mãe do Senhor (Mt 12, 46; Mc 3,31; 7, 19; Jo 2, 12). Tiago, “irmão” de Jesus não foi apóstolo de Cristo, mas desempenhou um importante papel na Igreja Primitiva, sendo morto por apedrejamento no ano 62 ou 63. Foi o autor da Primeira Epístola Católica, a Carta de Tiago.
As três possibilidades – Existem três possíveis soluções para os "irmãos de Jesus". Vamos estudar cada uma:
1) Serem primos de Jesus – Serem filhos de Maria e Cleofas (irmão de José). No aramaico não existe diferenciação entre as palavras “irmão” e “primo”. Egesipo (Hegesippus), o mais antigo historiador da Igreja (início do século II) confirma que Tiago, José, Judas e Simão eram filhos de Maria e Cleofas. A tradição judaica também confirma esta hipótese, pois os judeus nunca colocam em seus filhos o mesmo nome dos pais (José).
2) Serem filhos de Maria e José – Portanto, verdadeiros irmãos de Jesus. No texto de Mc 6,3 Jesus é precisamente dito "o filho de Maria" (com artigo definido), negando que Maria tivesse outros filhos: "Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?". As palavras de Jesus na cruz também confirmam que Jesus era filho único de Maria: se Maria tivesse tido algum outro filho, o Senhor na cruz não a teria confiado a João, filho de Zebedeu (Jo 19,26); os filhos propriamente ditos seriam os primeiros indicados como arrimo materno (na época da crucificação, José já havia morrido).
3) Serem filhos de José – do primeiro casamento de José (viúvo ao casar-se com Maria). O livro apócrifo “A História de José” levanta essa possibilidade, citando, além dos quatro filhos, as filhas Lísia e Lídia (confira em Mt 13,56).
A Igreja Católica – Tendo por base a Tradição, a Igreja Católica indica aos seus fiéis a primeira hipótese como verdadeira. Usando os testemunhos dos historiadores Egesipo e Eusébio de Cesaréia e de São Jerônimo, a Igreja afirma que se tratam de primos (ou parentes) de Jesus.
O que mudaria com a descoberta do ossário – Caso seja constatada a veracidade do ossário, este passaria a fazer a ligação direta entre Tiago e José (excluindo a filiação entre Tiago e Cleofas); a inscrição do ossário, portanto, descartaria a hipótese de Tiago ser primo de Jesus, pois indicaria Tiago e Jesus como filhos de um mesmo pai, José. Nesse caso, então, restariam apenas as duas últimas hipóteses citadas anteriormente (2 e 3). Deve-se destacar a importância da descoberta, pois esta pode vir a alterar uma afirmação de quase 20 séculos da Igreja Católica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário