sábado, 9 de novembro de 2002

O Ossário de Tiago

Nos últimos dias, a imprensa mundial publicou a descoberta de um ossário que teria pertencido a Tiago, “irmão de Jesus”.  Muitas informações, citadas nas notícias dos jornais, precisam ser esclarecidas.


O que é ossário – Também chamado de ossuário, é uma caixa onde se depositam os ossos humanos tirados do cemitério.  A caixa encontrada (51 cm de comprimento e 28 cm de largura) é um ossuário de pedra calcária com quase dois mil anos, com a inscrição em aramaico “Ya'akov bar Yosef akhui diYeshua”, que significa “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”.  O aramaico era um idioma comum dos judeus na época de Jesus.


Os três Tiagos – Existem três pessoas com o nome de Tiago que têm participação intensa no Novo Testamento. Dois deles são apóstolos, Tiago Maior e Tiago Menor e o terceiro Tiago, “irmão” de Jesus, aparece na formação das primeiras comunidades cristãs.  Tiago Maior era Filho de Zebedeu e irmão do apóstolo João, sendo chamado pelo próprio Jesus para ser apóstolo (Mt 4,21).  Tiago Menor era filho de Alfeu e recebeu o apelido de “Menor” para distingui-lo do outro apóstolo (mais velho e, possivelmente, mais alto).  Tiago, “irmão” de Jesus não foi apóstolo de Cristo, mas desempenhou um importante papel na Igreja Primitiva, sendo morto por apedrejamento no ano 62 ou 63.  Foi o autor da Primeira Epístola Católica, a Carta de Tiago.  Tiago aparece várias vezes na Bíblia como “irmão” de Jesus (confira em Mt 13,55; Mt 27,56; Mc 6,3; Mc 15,40; Mc 16,1; Lc 24,10).  O ossário encontrado se refere a este terceiro Tiago.


Tradição Judaica – Entre 20 a.C. e 70 d.C. era muito comum que famílias judias armazenassem os ossos de seus familiares em caixas (ossários). Quando uma pessoa morria, o cadáver era colocado em um sepulcro por um ano aproximadamente. Após a decomposição da carne, os ossos eram guardados nos ossários. Já foram encontradas centenas de ossários com inscrições em aramaico, mas apenas dois continham menções a um irmão. Os pesquisadores afirmam que o nome do irmão só era inscrito em um ossário quando o irmão era alguém importante.


Estatística – O nomes de "Tiago" e "José" eram nomes comuns na antiga Jerusalém, uma cidade de cerca de 40 mil habitantes. A estatística calcula que poderia ter existido não mais do que 20 pessoas com o nome "Tiago" e que tivessem um irmão chamado "Jesus" e com um pai chamado "José" ao longo de duas gerações na cidade de Jerusalém. No entanto, é improvável a existência de mais de um "Tiago" com um irmão com tal importância que merecesse ter seu nome gravado em seu ossário.


Erros históricos – As reportagens dos jornais e televisão (até o Jornal Nacional) citam que o ossário seria o primeiro documento histórico sobre a existência de Jesus, pois não existe nenhum documento (extrabíblico) relacionado a Jesus.  Os jornalistas se esqueceram do historiador judeu Flávio Josefo (viveu entre 37 e 105 d.C.), no livro Antiguidades Judaicas, escrito em 93 ou 94 d.C., quando descreve a morte por apedrejamento de Tiago, irmão de Cristo e chefe da comunidade cristã de Jerusalém.  O mesmo autor faz uma descrição detalhada de Cristo.


Mais erros históricos – Os jornalistas também se esqueceram do texto do historiador romano Tácito (55 – 120), intitulado "Anais", escrito em 64 d.C., relatando a origem do nome "cristãos", responsabilizados, pelo imperador Nero, pelo incêndio de Roma. Cita que o nome vem de Cristo, que o Imperador Pôncio Pilatos condenou à morte, sob o reinado de Tibério.


Ainda erros – Existe uma carta de Plínio (datada de 112 d.C.), aristocrata, governador da Ásia Menor, ao imperador romano Trajano (viveu entre 53 e 117), onde relata algumas particularidades dos cristãos. Nesta carta, Plínio pede a Trajano que legalize os cristãos. Eis um trecho da carta: "... os cristãos se reuniam em dias fixos, antes do nascer do sol, e cantavam um hino a Cristo, como se fosse um deus".


Outras provas – Existem ainda outros textos que comprovam a existência de Jesus como personagem histórico. Se você se interessou pelo assunto e quer receber o texto (histórico) do livro de Flávio Josefo, ou do historiado Tácito, ou a carta do governador Plínio solicite por E-mail que lhe enviaremos gratuitamente.


O IMPACTO DA DESCOBERTA


A descoberta do ossário muda vários conceitos sobre a família de Jesus.  Mas isso é assunto para a próxima semana.

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