Estamos
no contexto da Última Ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de
Jesus. Depois de constituir a comunidade do amor e do serviço (Jo 13,1-17) e de
apresentar o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade
(Jo 15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca
de Jesus, com a ajuda do Espírito (Jo 15,26-27).
Espírito –
Jesus avisa, no entanto, que o caminho do testemunho deparará com a oposição decidida
da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo (Jo
16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele irá ajudar e dará segurança
no meio da perseguição (Jo 16, 8-11).
Desafios –
De resto, a comunidade em marcha pela história irá se encontrar, muitas vezes,
diante de circunstâncias históricas novas entre as quais terá de tomar decisões
práticas: também aí se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder aos
novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus (Jo
16,12-15).
Ajuda –
O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a ajuda do Espírito
aos discípulos em caminhada pelo mundo. Jesus começa por dizer aos discípulos
que há muitas outras coisas que eles não podem compreender de momento (vers.
12). Será o “Espírito da Verdade” que guiará os discípulos para a verdade, que
comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que interpretará o que está para vir
(vers. 13).
Guia –
De maneira alguma, isso significa que Jesus não revelou tudo o que havia para
revelar ou que a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta. As
palavras de Jesus a respeito da ação do Espírito referem-se ao tempo da
existência cristã no mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até a “parusia”,
isto é, a volta gloriosa de Jesus Cristo, no final dos tempos, para estar
presente ao Juízo Final. Como será possível aos discípulos, no tempo da Igreja,
continuar a captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela?
A resposta – Jesus
é claro ao responder “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês
para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá
o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer”. Ou seja, afirma
que é o Espírito da verdade, que fará com que sua proposta continue a ecoar
todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada crente; além disso, o
Espírito ensinará a entender a nova ordem que se segue à cruz e à ressurreição
e a ajudará a discernir, a partir das circunstâncias concretas que a vida vai
colocando, como proceder para continuar fiel às suas propostas.
Referência –
O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de
Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa
comunidade saiba aplicar a cada circunstância nova que a vida apresentar, a
proposta de Jesus.
Fonte? –
Aonde irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos discípulos?
A resposta é: ao próprio Jesus – “O Espírito da Verdade manifestará a minha
glória, porque ele vai receber daquilo que é meu, e o interpretará para vocês” (vers.
14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos, comunicando-lhes
a sua vida e o seu amor. Tal é a função do Espírito: realizar a comunhão entre
Jesus e os discípulos em marcha pela história.
Comunhão –
A última expressão deste texto (“Tudo o que pertence ao Pai, é meu também. Por
isso é que eu disse: o Espírito vai receber daquilo que é meu, e o interpretará
para vocês”) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão
atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus
e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.