sábado, 29 de maio de 2010

O Espírito vos guiará para a verdade plena


Estamos no contexto da Última Ceia e do discurso de despedida que antecede a “hora” de Jesus. Depois de constituir a comunidade do amor e do serviço (Jo 13,1-17) e de apresentar o mandamento fundamental que deve dar corpo à vida dessa comunidade (Jo 15,9-17), Jesus vai definir a missão da comunidade no mundo: testemunhar acerca de Jesus, com a ajuda do Espírito (Jo 15,26-27).

 

Espírito – Jesus avisa, no entanto, que o caminho do testemunho deparará com a oposição decidida da religião estabelecida e dos poderes de morte que dominam o mundo (Jo 16,1-4a); mas os discípulos contarão com o Espírito: Ele irá ajudar e dará segurança no meio da perseguição (Jo 16, 8-11).

 

Desafios – De resto, a comunidade em marcha pela história irá se encontrar, muitas vezes, diante de circunstâncias históricas novas entre as quais terá de tomar decisões práticas: também aí se verá a presença do Espírito, que ajudará a responder aos novos desafios e a interpretar as circunstâncias à luz da mensagem de Jesus (Jo 16,12-15).

 

Ajuda – O tema fundamental desta leitura tem, portanto, a ver com a ajuda do Espírito aos discípulos em caminhada pelo mundo. Jesus começa por dizer aos discípulos que há muitas outras coisas que eles não podem compreender de momento (vers. 12). Será o “Espírito da Verdade” que guiará os discípulos para a verdade, que comunicará tudo o que ouvir a Jesus e que interpretará o que está para vir (vers. 13).

 

Guia – De maneira alguma, isso significa que Jesus não revelou tudo o que havia para revelar ou que a sua proposta de salvação/libertação ficou incompleta. As palavras de Jesus a respeito da ação do Espírito referem-se ao tempo da existência cristã no mundo, ao tempo que vai desde a morte de Jesus até a “parusia”, isto é, a volta gloriosa de Jesus Cristo, no final dos tempos, para estar presente ao Juízo Final. Como será possível aos discípulos, no tempo da Igreja, continuar a captar, na fé, a Palavra de Jesus e a guiar a vida por ela?

 

A resposta – Jesus é claro ao responder “Quando vier o Espírito da Verdade, ele encaminhará vocês para toda a verdade, porque o Espírito não falará em seu próprio nome, mas dirá o que escutou e anunciará para vocês as coisas que vão acontecer”. Ou seja, afirma que é o Espírito da verdade, que fará com que sua proposta continue a ecoar todos os dias na vida da comunidade e no coração de cada crente; além disso, o Espírito ensinará a entender a nova ordem que se segue à cruz e à ressurreição e a ajudará a discernir, a partir das circunstâncias concretas que a vida vai colocando, como proceder para continuar fiel às suas propostas.

 

Referência – O Espírito não apresentará uma doutrina nova, mas fará com que a Palavra de Jesus seja sempre a referência da comunidade em caminhada pelo mundo e que essa comunidade saiba aplicar a cada circunstância nova que a vida apresentar, a proposta de Jesus.

 

Fonte? – Aonde irá o Espírito buscar essa verdade que vai transmitir continuamente aos discípulos? A resposta é: ao próprio Jesus – “O Espírito da Verdade manifestará a minha glória, porque ele vai receber daquilo que é meu, e o interpretará para vocês” (vers. 14). Assim, Jesus continuará em comunhão, em sintonia com os discípulos, comunicando-lhes a sua vida e o seu amor. Tal é a função do Espírito: realizar a comunhão entre Jesus e os discípulos em marcha pela história.

 

Comunhão – A última expressão deste texto (“Tudo o que pertence ao Pai, é meu também. Por isso é que eu disse: o Espírito vai receber daquilo que é meu, e o interpretará para vocês”) sublinha a comunhão existente entre o Pai e o Filho. Essa comunhão atesta a unidade entre o plano salvador do Pai, proposto nas palavras de Jesus e tornado realidade na vida da Igreja, por ação do Espírito.

sábado, 22 de maio de 2010

Recebam o Espírito Santo


O tema deste domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem Novo. O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus ressuscitado. Para João, esta comunidade passa a ser uma comunidade viva, recriada, nova, a partir do dom do Espírito. É o Espírito que permite aos crentes superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus viveu até as últimas consequências.

 

João e Lucas – O texto do Evangelho (Jo 20,19-23) situa-nos no cenáculo, no próprio dia da ressurreição. Apresenta-nos a comunidade da nova aliança, nascida da ação criadora e vivificadora do Messias. No entanto, esta comunidade ainda não se encontrou com Cristo ressuscitado e ainda não tomou consciência das implicações da ressurreição. É uma comunidade fechada, insegura, com medo, que necessita fazer a experiência do Espírito; só depois, estará preparada para assumir a sua missão no mundo e dar testemunho do projeto libertador de Jesus. Em Atos dos Apóstolos, Lucas narra a descida do Espírito sobre os discípulos no dia do Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa (por razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa judaica do Pentecostes, a festa da constituição do Povo de Deus); mas João situa no anoitecer do dia de Páscoa a recepção do Espírito pelos discípulos.

 

Medo – João começa por pôr em relevo a situação da comunidade. O “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo” (vers. 19a) são o quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar.

 

Referência – Entretanto, Jesus aparece “no meio deles”. João indica desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, a coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.

 

Paz – Jesus começa por saudá-los, desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em hebraico). A “paz” é um dom messiânico; mas neste contexto significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranquilidade e da confiança, que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a partir desse momento, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.

 

Sinais – Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado, os “sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na cruz. É nesses “sinais que os discípulos reconhecem Jesus.

 

Sopro – Vem, depois, a comunicação do Espírito. O gesto de Jesus, de soprar sobre os discípulos, reproduz o gesto de Deus ao comunicar a vida ao homem de argila (João utiliza o mesmo verbo do texto grego de Gn 2,7). Com o “sopro” de Deus de Gn 2,7, o homem tornou-se um “ser vivente”; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em plenitude e estão capacitados a fazer da sua vida um dom de amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da nova aliança e são chamados a testemunhar – com gestos e com palavras – o amor de Jesus.

 

Missão – Finalmente, Jesus explicita qual a missão dos discípulos: a eliminação do pecado. As palavras de Jesus não significam que os discípulos possam ou não – conforme os seus interesses ou a sua disposição – perdoar os pecados. Significam, apenas, que os discípulos são chamados a testemunhar no mundo essa vida que o Pai quer oferecer a todos os homens. Quem aceitar essa proposta, será integrado na comunidade de Jesus; quem não a aceitar, continuará a percorrer caminhos de egoísmo e de morte (isto é, de pecado). A comunidade, animada pelo Espírito, será a mediadora desta oferta de salvação.

sábado, 15 de maio de 2010

Ascensão de Jesus


O Evangelho das missas deste domingo descreve as últimas instruções de Jesus aos Apóstolos e a sua ascensão.

 

Aparição – Acontece durante a aparição de Jesus aos apóstolos, no domingo seguinte à Paixão. Ele se dirige aos apóstolos, dizendo que o Messias tinha de sofrer e ressuscitar e que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém. Pede que eles fiquem em Jerusalém, que ele vai mandar o que o Pai prometeu. Em seguida, levou os apóstolos para fora da cidade, até o povoado de Betânia. Ali levantou as mãos e os abençoou. Enquanto os estava abençoando, Jesus se afastou deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram e voltaram para Jerusalém cheios de alegria. E passavam o tempo todo no pátio do Templo, louvando a Deus.

 

Os textos de Lucas – O Evangelho de Lucas e o Livro de Atos dos Apóstolos formavam, possivelmente, uma única obra. Posteriormente as narrativas de Lucas sobre a vida e o ministério de Jesus foram separadas, formando, com Marcos, Mateus e João, o conjunto dos Evangelhos. A parte sobre as narrativas das primeiras missões formaram o Livro de Atos. Estes dois textos, que apresentam semelhanças e divergências entre si, estão presentes nas leituras deste domingo: o início de Atos, na primeira leitura e a conclusão do Evangelho de Lucas.

 

Jerusalém – Na conclusão do Evangelho, após a memória da paixão e ressurreição, redigida em forma de querigma paulino, Jesus orienta os discípulos para a missão: o anúncio da conversão à justiça para o perdão dos pecados. Este é o mesmo anúncio de João Batista. Enquanto nos Evangelhos de Marcos, Mateus e João, Jesus e os discípulos retornam para a Galiléia, Lucas, no seu Evangelho, narra como se tivessem permanecido em Jerusalém: "voltaram para Jerusalém e estavam sempre no Templo".

 

Espírito Santo – Esta interpretação corresponde à teologia de Lucas, que apresenta o movimento de Jesus como a continuidade das doze tribos de Israel, e sua missão partindo de Jerusalém, capital do Judaísmo de seu tempo. Neste mesmo sentido, no Evangelho de João, enquanto Jesus comunica o Espírito Santo, soprando sobre os discípulos no dia da ressurreição, Lucas, em Atos, apresenta a vinda do Espírito, cinquenta dias após a ressurreição, com uma teofania na festa judaica de Pentecostes.

 

Missão – Os discípulos, que fizeram a experiência do encontro pessoal com Jesus ressuscitado, são agora convocados para a missão: Jesus os envia, como testemunhas, a pregar a conversão e o perdão dos pecados. Para essa enorme tarefa, os discípulos contam com a ajuda e a assistência do Espírito. A partir de Jerusalém, esta proposta deve ser anunciada a todas as nações.

 

Ascensão – Lucas descreve que a ascensão acontece em Betânia. Fica claro a semelhança com a subida do profeta Elias. Há duas indicações de Lucas, que importa realçar. A primeira é a bênção que Jesus dá aos discípulos antes de ir para junto do Pai: essa bênção sugere um dom que vem de Deus e que afeta positivamente toda a vida e toda a ação dos discípulos, capacitados para a missão pela força de Deus. A segunda é a alegria dos discípulos: a alegria é o grande sinal messiânico e escatológico; indica que o mundo novo já começou, pois o projeto salvador e libertador de Deus está em marcha.

 

S. Gregório Magno (540-604), papa, doutor da Igreja, assim escreveu o texto “Que o amor nos atraia a seguir Jesus” sobre a Ascensão:

 

"O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus" (Mc 16,19). Partia assim para o lugar de onde era, regressava de um lugar onde continuava a permanecer; com efeito, no momento em que subia ao céu com a sua humanidade, unia pela sua divindade o céu e a terra. O que temos de destacar na solenidade de hoje, irmãos bem amados, é a supressão do decreto que nos condenava e do julgamento que nos votava à corrupção. Na verdade, a natureza humana a quem se dirigem estas palavras: "Tu és terra e regressarás à terra" (Gn 3,19), essa natureza subiu hoje ao céu com Cristo. É por isso, caríssimos irmãos, que temos de segui-Lo com todo o nosso coração, até ao lugar onde sabemos pela fé que Ele subiu com o seu corpo. Fujamos dos desejos da terra: que nenhum dos lugares cá de baixo nos entrave, a nós que temos um Pai nos céus.

 

Pensemos também no fato de que, Aquele que subiu aos céus cheio de suavidade, regressará com exigência... Eis, meus irmãos, o que deve guiar a vossa ação; pensai nisso continuamente. Mesmo se estais presos na confusão dos assuntos deste mundo, lançai desde hoje a âncora da esperança para a pátria eterna (He 6,19). Que a vossa alma procure apenas a verdadeira luz. Acabamos de ouvir que o Senhor subiu ao céu; pensemos seriamente naquilo em que acreditamos. Apesar da fraqueza da natureza humana que nos retém ainda cá em baixo, que o amor nos atraia a segui-Lo, porque estamos certos de que Aquele que nos inspirou este desejo, Jesus Cristo, não nos decepcionará na nossa esperança.

sábado, 8 de maio de 2010

Que desça teu Espírito e renove a face da terra


No Evangelho das missas deste domingo (João 14,23-29), ainda encontramos Jesus na Última Ceia, na quinta-feira, dia 6 de abril do ano 30, no dia anterior a sua morte. Jesus, que acaba de fundar a sua comunidade, dando-lhe por estatuto o mandamento do amor, vai agora explicar como é que essa comunidade manterá, após a sua partida, a relação com Ele e com o Pai.

 

O texto – Jesus ensina aos discípulos: “A pessoa que me ama obedecerá à minha mensagem, e o meu Pai a amará. Tenho dito isso enquanto estou com vocês. Mas o Auxiliador, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará com que se lembrem de tudo o que eu disse a vocês. Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou; não lhes dou a paz como o mundo a dá. Eu vou, mas voltarei para ficar com vocês."

 

Caminho – Nos versículos anteriores ao texto que nos é proposto, Jesus apresentou-Se como “o caminho” (Jo 14,6) e convidou os discípulos a percorrer esse mesmo “caminho” (Jo 14,4-5). O que é que isso significa? Jesus, enquanto esteve no mundo, percorreu um “caminho” – o da entrega ao homem, o do serviço, o do amor total; é nesse “caminho” que o Homem Novo, que Jesus veio criar, se realiza. A comunidade de Jesus tem, portanto, que percorrer esse “caminho”. A metáfora do “caminho” expressa o dinamismo da vida que é progressão; percorrê-lo, é alcançar a plena maturidade do Homem Novo, do homem que desenvolveu todas as suas potencialidades, do homem recriado para a vida definitiva. O final desse “caminho” é o amor radical, a solidariedade total com o homem. Nesse “caminho”, encontra-se o Pai.

 

Como? – Os discípulos, no entanto, estão inquietos e desconcertados. Será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como receberão dele a força para doar, dia a dia, a própria vida?

 

Palavra – Para seguir esse “caminho” é preciso amar Jesus e guardar a sua Palavra (Jo 14,23). Quem ama Jesus e O escuta, identifica-se com Ele, isto é, vive como Ele, na entrega da própria vida em favor do homem… Ora, viver nesta dinâmica é estar continuamente em comunhão com Jesus e com o Pai. O Pai e Jesus, que são um, estabelecerão a sua morada no discípulo; viverão juntos, na intimidade de uma nova família.

 

Paráclito – Para que os discípulos possam continuar a percorrer esse “caminho” no tempo da Igreja, o Pai enviará o “Paráclito”, isto é, o Espírito Santo. A palavra “paráclito” pode traduzir-se como “advogado”, “auxiliador”, “consolador”, “intercessor”. A função do “Paráclito” é “ensinar” e “recordar” tudo o que Jesus propôs. Trata-se, portanto, de uma presença dinâmica, que auxiliará os discípulos trazendo-lhes continuamente à memória os ensinamentos de Jesus e ajudando-os a ler as propostas de Jesus à luz dos novos desafios que o mundo lhes colocar.

 

Espírito – Assim, os crentes poderão continuar a percorrer, na história, o “caminho” de Jesus, numa fidelidade dinâmica às suas propostas. O Espírito garante, dessa forma, que o crente possa continuar a percorrer esse “caminho” de amor e de entrega, unido a Jesus e ao Pai. A comunidade cristã e cada homem tornam-se a morada de Deus: na ação dos crentes revela-se o Deus libertador, que reside na comunidade e no coração de cada crente e que tem um projeto de salvação para o homem.

 

Paz – A última parte do texto que nos é proposto contém a promessa da “paz”. Desejar a “paz” (“shalom”) era a saudação habitual à chegada e à partida. No entanto, neste contexto, a saudação não é uma despedida trivial, pois Jesus não vai estar ausente. O que Jesus pretende é inculcar nos discípulos apreensivos a serenidade e evitar-lhes o temor. São palavras destinadas a tranquilizar os discípulos e a assegurar-lhes que os acontecimentos que se aproximam não porão fim à relação entre Jesus e a sua comunidade. As últimas palavras referidas por este texto (v. 28-29) sublinham que a ausência de Jesus não é definitiva, nem sequer prolongada. De resto, os discípulos devem alegrar-se, pois a morte não é uma tragédia sem sentido, mas a manifestação suprema do amor de Jesus pelo Pai e pelos homens.

sábado, 1 de maio de 2010

Um mandamento novo


No Evangelho das missas deste domingo (João 13, 31-33a. 34-35), Jesus está na Última Ceia, na quinta-feira, dia 6 de abril do ano 30, no dia anterior a sua morte. Depois que Judas sai do Cenáculo, Jesus diz aos seus discípulos: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.

 

Glorificação – Este texto situa-se no contexto do Último Discurso de Jesus na Ceia Pascal. Começa logo após a saída de Judas, depois que Jesus lhe disse "o que você pretende fazer, faça-o logo” (Jo 13,27). Com a “licença oficial” para iniciar o processo que iria matá-lo, Jesus começa o processo da sua glorificação. A sua fidelidade ao projeto do Pai vai levá-lo à Cruz e à morte. No Quarto Evangelho, entretanto, ela não é sinal de derrota, mas da vitória última e permanente de Deus. Por isso, a aparente vitória do mal, será a glorificação de Jesus, e Nele, a glorificação do Pai.

 

Novo – O anúncio da partida iminente, para os judeus uma ameaça (v. 33), é para a comunidade dos discípulos um momento de emoção e carinho: “Filhinhos: vou ficar com vocês só mais um pouco. Vocês vão me procurar, e eu digo agora a vocês o que eu já disse aos judeus: para onde eu vou, vocês não podem ir”. A última dádiva de Jesus aos discípulos é um novo mandamento: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros" (v. 34).

 

Mandamento – O que há de novo neste mandamento? O que diferencia a proposta de amor de Jesus e dos seus seguidores de outras propostas já conhecidas? O mundo do tempo de Jesus, tanto na sociedade pagã como judaica, já conhecia propostas de amor mútuo. O mandamento de Jesus é novo, primeiro porque ele se impõe como exigência essencial para entrar na comunidade do Reino de Deus.

 

Reino – Essa é a comunidade que já experimenta a presença do Reino de Deus, mesmo que ainda espere a sua plena realização, ou seja, uma comunidade que já experimenta a salvação já realizada em Jesus, enquanto ainda experimenta a sua situação permanente de fraqueza. Também é novo, porque não se fundamenta nas leis sobre o amor da tradição judaica, mas na entrega de si, de Jesus.

 

Modelo – O modelo deste amor é o exemplo do próprio Jesus "assim como eu vos amei!". E como ele nos amou? Entregando-se até a morte, para que todos pudessem "ter a vida e a vida plenamente" (Jo 10,10). Este amor não é sinônimo de simpatia ou sentimento de atração. Exige humildade e a disposição para o serviço que leva a morrer pelos outros. E este "morrer" normalmente não se expressa através de uma morte literal, mas morrendo diariamente ao egoísmo e à busca do poder dominador, para que sejamos servidores, especialmente dos mais humildes, ao exemplo do Mestre que "não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45).

 

Sinal – Este amor e tão fundamental para a comunidade dos discípulos de Jesus que deve ser tornar o seu sinal característico: "Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (v.35). Mais do que uma lista de doutrinas, mais do que práticas litúrgicas ou rituais, embora essas tenham o seu lugar, é o amor mútuo e concreto que deve distinguir os discípulos de Jesus.

 

Cristãos – Os Atos dos Apóstolos nos lembram que "foi em Antioquia que os discípulos receberam, pela primeira vez, o nome de "cristãos" (At 11,26). Receberam uma nova designação, da parte dos outros, porque a sua maneira de viver era marcadamente diferente das outras comunidades religiosas da cidade – era marcada pelo amor mútuo. O evangelho nos convida para que, honestamente, nos examinemos, para verificar se este amor-serviço ainda é a nossa marca característica na nossa vida individual e comunitária!