sábado, 11 de fevereiro de 2012

Além do bem estar físico

No evangelho deste domingo (Mc 1,40-45) Jesus cura um leproso e expõe a situação social e religiosa que excluía o doente de frequentar a assembleia do Povo de Deus.  

Sacerdotes – As elites religiosas de Israel, que assumiram o poder político após o fim da monarquia davídica, escreveram inúmeros preceitos legais, dizendo que tinham sido escritos por Moisés, tido pela tradição como o grande legislador. O povo humilde e simples vivia oprimido com centenas de exigências, difíceis de cumprir e que eram motivo de humilhação para muitos, discriminados como impuros e pecadores.  

Impuro – Assim, por exemplo, era considerado impuro aquele que tocasse em um animal doméstico morto (Lv 5,1-6) ou comesse sem antes lavar as mãos (Mt 7,3 - "tradição dos antigos"), o que poderia acontecer com frequência entre camponeses ou empobrecidos, em contato com criações e em situações de carência de água.  

Oferenda – Quem se tornasse impuro deveria levar ao sacerdote uma fêmea de gado miúdo para que ele fizesse o rito de expiação, que livraria o “impuro” do pecado. A mulher, considerada impura durante a menstruação, deveria – depois dos dias de suas regras – levar ao sacerdote duas rolas ou dois pombinhos, que seriam oferecidos como sacrifício pelo “pecado” (Lv 15,19). Até os doentes eram considerados impuros e pecadores, e ficavam excluídos do convívio com os que eram considerados "puros" e "justos".  

Exclusão – Na narrativa do evangelho lido neste domingo, o que constrange o leproso é ser chamado de impuro e, portanto, pecador, sendo por isso excluído: era determinado que ele morasse a sós, fora da cidade e que se apresentasse com roupas rasgadas, aparência descuidada, de maneira repugnante, proclamando sua impureza (primeira leitura). 

Além da cura – Esta narrativa do evangelho de Marcos revela que o empenho de Jesus não é a simples cura, mas a inclusão social dos marginalizados. O agir de Jesus vai além do proporcionar a recuperação do bem-estar físico particular daquele homem. O seu objetivo maior é inserir os excluídos em um convívio social fraterno e justo, fundamental para uma vida saudável.  

Libertação – Jesus vem para libertar todos os oprimidos pelo sistema religioso centrado no Templo de Jerusalém, com seus códigos de pureza e impureza. Esta libertação passa pela consciência que Ele também quer despertar nos excluídos, de que a sua situação de exclusão é fruto de uma injustiça social e religiosa e que esta não era a vontade de Deus.  

Silêncio – O pedido para o homem purificado, de que deveria guardar silêncio, pode ser entendida como uma tentativa de evitar ser visto como um simples “milagreiro", alguém que resolvia problemas individuais e imediatos das pessoas. O envio do homem curado ao sacerdote testemunhará a ação libertadora e vivificante de Jesus.  

Toque – Ao tocar no leproso, Jesus passa a ser visto como um impuro também, por isso Ele evita entrar nas cidades. Contudo, o gesto de Jesus revela a sua indiferença diante do preceito legal. E, ainda mais, promove uma inversão de valores: ao invés Dele se contagiar, é o leproso que fica purificado. Isso significa uma reviravolta na ordem constituída: o sistema que exclui os impuros e pecadores é abolido pela nova prática amorosa de Jesus, que acolhe a todos sem discriminações.

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