No evangelho deste domingo, Marcos (1,29-39) descreve Jesus e os primeiros apóstolos na casa de Pedro. Ao chegarem, encontram a sogra de Pedro com febre. Jesus cura-a e a muitas outras pessoas que vieram até ele. Para refletir sobre os enfermos na Igreja, reproduzimos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano.
Evangelho – A passagem evangélica deste domingo oferece-nos o informe fiel de um dia típico de Jesus. Quando saiu da sinagoga, Jesus aproximou-se primeiro da casa de Pedro, onde curou a sogra, que estava de cama com febre; ao chegar a tarde, levaram a ele todos os enfermos e Jesus curou muitos afetados de diversas enfermidades; pela manhã, levantou-se quando ainda estava escuro e se retirou a um lugar solitário para orar; depois partiu para pregar o Reino a outros povos.
Curar, orar, pregar – Deste relato, deduzimos que o dia de Jesus consistia em uma trilha de curar os enfermos, oração e pregação do Reino. Dediquemos nossa reflexão ao amor de Jesus pelos enfermos (...).
Cura – As transformações sociais de nosso século mudaram profundamente as condições do enfermo. Em muitas situações, a ciência dá uma esperança razoável de cura ou, ao menos, prolonga em muito o tempo de evolução do mal, em caso de enfermidades incuráveis. Mas a enfermidade, como a morte, não está ainda – e jamais estará – totalmente derrotada. Faz parte da condição humana. A fé cristã pode aliviar esta condição e dar-lhe também um sentido e um valor.
Pecado – É necessário expressar duas propostas: uma para os enfermos, outra para quem deve atendê-los. Antes de Cristo, a enfermidade era considerada como estreitamente ligada ao pecado. Em outras palavras, estava-se convencido de que a enfermidade era sempre consequência de algum pecado pessoal que era necessário expiar.
Dor – Com Jesus, algo mudou a esse respeito. Ele “tomou nossas fraquezas e carregou nossas debilidades” (Mt 8,17). Na cruz, deu um sentido novo à dor humana, inclusive para a enfermidade: já não de castigo, mas de redenção. A enfermidade une a ele, santifica, afina a alma, prepara o dia em que Deus enxugará toda lágrima e já não haverá enfermidade nem pranto nem dor.
Sofrimento – Depois da longa hospitalização que se seguiu ao atentado na Praça de São Pedro, o Papa João Paulo II escreveu uma carta sobre a dor, na qual, entre outras coisas, dizia: “Sofrer significa fazer-se particularmente receptivo, particularmente aberto à ação das forças salvíficas de Deus, oferecidas à humanidade em Cristo”. A enfermidade e o sofrimento abrem entre nós e Jesus na cruz, um canal de comunicação todo especial. Os enfermos não são membros passivos na Igreja, mas os membros mais ativos, mais preciosos. Aos olhos de Deus, uma hora do sofrimento daqueles, suportada com paciência, pode valer mais que todas as atividades do mundo, se se fazem só para si mesmo.
Esperança – Agora uma palavra para os que devem atender os enfermos, no lar ou em estruturas de saúde. O enfermo tem certamente necessidade de cuidados, de competência científica, mas tem ainda mais necessidade de esperança. Nenhum remédio alivia o enfermo tanto como ouvir o médico dizer: “Tenho boas esperanças para ti”. Quando é possível fazê-lo sem enganar, há que dar esperança. A esperança é a melhor “tenda de oxigênio” para um enfermo. Não há que deixar o enfermo na solidão. Uma das obras de misericórdia é visitar os enfermos e Jesus nos advertiu de que um dos pontos do juízo final cairá precisamente sobre isto: “Estava enfermo e me visitastes... Estava enfermo e não me visitastes” (Mt 25, 36.43).
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