O Evangelho das missas deste domingo (Mc 6,7-13) descreve a missão dos discípulos de Jesus no meio do mundo. Para refletir sobre este texto transcrevemos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano.
Texto – “Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.”
Costume – Os estudiosos da Bíblia nos explicam que, como de costume, o evangelista Marcos, ao referir os fatos e as palavras de Cristo, leva em conta a situação e as necessidades da Igreja no momento ao qual escreve o Evangelho, isto é, depois da ressurreição de Cristo. Mas o fato central e as instruções que Cristo dá aos apóstolos nesta passagem se referem ao Jesus terreno.
Mundo inteiro – É o início e são as provas gerais da missão apostólica. Até então, tratava-se de uma missão limitada aos povos vizinhos, isto é, aos compatriotas judeus. Após a Páscoa, esta missão será estendida ao mundo inteiro, também aos pagãos: “Ide por todo o mundo e pregai a Boa Nova a toda a criação”.
Missão – Este fato tem uma importância decisiva para entender a vida e a missão de Cristo. Ele não veio para realizar uma proeza pessoal; não quis ser um meteorito que atravessa o céu para depois desaparecer no nada. Não veio, em outras palavras, só para aqueles poucos milhares de pessoas que tiveram a possibilidade de vê-lo e escutá-lo em pessoa durante sua vida. Pensou que sua missão tinha que continuar, ser permanente, de forma que cada pessoa, em todo tempo e lugar da história, tivesse a possibilidade de escutar a Boa Nova do amor de Deus e ser salvo. Por isso, escolheu colaboradores e começou a enviá-los a pregar o Reino e curar os doentes. (...)
Conversão – O Evangelho emprega só uma palavra para dizer o que deviam pregar os apóstolos ao povo (“que se convertessem”), enquanto que descreve longamente como deviam pregar. Com relação a isso, um ensinamento importante está no fato de que Jesus os envia de dois em dois. Isso de ir de dois em dois era habitual naqueles tempos, mas com Jesus assume um significativo novo, já não só prático. Jesus os envia de dois em dois – explicava São Gregório Magno – para inculcar a caridade, porque com menos de duas pessoas não pode haver caridade. O primeiro testemunho a dar de Jesus é o do amor recíproco: “Nisso conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
Sacudindo o pó – É preciso estar atentos para não interpretar mal a frase de Jesus, sobre ir sacudindo também o pó dos pés quando não são recebidos. Este, na intenção de Cristo, devia ser um testemunho “para” eles, não contra eles. Devia servir para fazê-los entender que os missionários não haviam ido por interesse, para tirar-lhes dinheiro ou outras coisas; que, mais ainda, não queriam levar nem sequer seu pó. Haviam ido por sua salvação e, rejeitando-a, eles privavam a si mesmos do maior bem do mundo.
Graça – É algo que também é preciso afirmar hoje. A Igreja não anuncia o Evangelho para aumentar seu poder ou o número de seus membros. Se atuasse assim, trairia primeiramente o Evangelho. Ela o faz porque quer compartilhar o dom recebido, porque recebeu de Cristo o mandato: “de graça o recebestes, de graça deveis dar”.
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