sábado, 21 de julho de 2012

São Tiago



No próximo dia 25 de julho, a Igreja comemora o dia de São Tiago, um dos apóstolos escolhidos por Jesus. Transcrevemos a intervenção do Papa Bento XVI na audiência do dia 21/06/06, na qual o Sumo Pontífice apresenta São Tiago.

Queridos irmãos e irmãs: Continuamos com a série de retratos dos apóstolos escolhidos diretamente por Jesus durante sua vida. Hoje, encontramo-nos com a figura de São Tiago. As listas bíblicas dos Doze mencionam duas pessoas com este nome: Tiago, filho de Zebedeu, e Tiago, filho de Alfeu (Marcos 3,17; Mateus 10,2), que são comumente distinguidos com os apelativos de Tiago o Maior e de Tiago o Menor. Estas designações não querem medir sua santidade, mas simplesmente constatar a diferente relevância que recebem nos escritos do Novo Testamento e, em particular, no contexto da vida terrena de Jesus. Hoje dedicamos nossa atenção ao primeiro destes dois personagens do mesmo nome.

Tiago – O nome de Tiago [Jacob] é a tradução de “Iákobos”, variação sob a influência grega do nome do famoso patriarca Jacó. O apóstolo deste nome é irmão de João e, nas listas mencionadas, ocupa o segundo lugar depois de Pedro, como sucede em Marcos (3, 17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e André, como nos Evangelhos de Mateus (10, 2) e de Lucas (6, 14), enquanto nos Atos dos Apóstolos aparece depois de Pedro e de João (1, 13). Este Tiago pertence, junto a Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que foram admitidos por Jesus em momentos importantes de sua vida.

Ocasiões – Pôde participar, junto a Pedro e João, do momento da agonia de Jesus, no Horto de Getsêmani, e no momento da Transfiguração de Jesus. Trata-se, portanto, de situações muito diferentes entre si: em um caso, Tiago, com os outros dois apóstolos, experimenta a glória do Senhor e o vê falando com Moisés e Elias, vê transluzir o esplendor divino em Jesus; no outro, encontra-se ante o sofrimento e a humilhação, vê com seus próprios olhos como o Filho de Deus se humilha, fazendo-se obediente até a morte. Certamente, a segunda experiência constituiu para ele uma oportunidade para amadurecer na fé, para corrigir a interpretação unilateral, triunfalista da primeira: teve de perceber como o Messias, esperado pelo povo judeu como um triunfador, na realidade não só estava rodeado de honra e glória, mas também de sofrimentos e debilidade. A glória de Cristo realiza-se precisamente na Cruz, na participação em nossos sofrimentos.

Testemunho - Este amadurecimento da fé foi levado a cumprimento pelo Espírito Santo em Pentecostes, de maneira que Tiago, quando chegou o momento do supremo testemunho, não ficou para trás: ao início dos anos 40 do século I, o rei Herodes Agripa, neto de Herodes, o Grande, como nos informa Lucas: “mandou prender alguns membros da igreja para maltratá-los. Assim foi que matou, à espada, Tiago, irmão de João” (Atos 12,1). A concisão da notícia, carente de todo detalhe narrativo, revela, por um lado, como era normal para os cristãos testemunhar o Senhor com a própria vida e, por outro, que Tiago tinha uma posição de relevância na Igreja de Jerusalém, em parte por causa do papel desempenhado durante a existência terrena de Jesus.

Espanha – Uma tradição sucessiva, que remonta ao menos até Isidoro de Sevilha, conta que ele esteve na Espanha para evangelizar essa importante região do império romano. Segundo outra tradição, seu corpo teria sido transladado à Espanha, à cidade de Santiago de Compostela. Como todos sabem, aquele lugar converteu-se em objeto de grande veneração e ainda hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da Europa, mas do mundo inteiro. Deste modo, explica-se a representação iconográfica de São Tiago com o bastão do peregrino e o rolo do Evangelho, características do apóstolo itinerante, entregue ao anúncio da “boa notícia”, característica da peregrinação da vida cristã.

Aprender – De Tiago podemos aprender muito: a prontidão para acolher o chamado do Senhor, inclusive quando nos pede que deixemos a “barca” de nossas seguranças humanas; o entusiasmo para segui-Lo pelos caminhos que Ele nos indica, mais além de nossa presunção ilusória: a disponibilidade para dar testemunho dEle com valentia e, se for necessário, com o sacrifício supremo da vida. Deste modo, São Tiago, o Maior, nos é apresentado como exemplo eloquente de generosa adesão a Cristo. Ele, que, inicialmente, havia pedido através de sua mãe, sentar-se com o irmão junto ao Mestre em seu Reino, foi precisamente o primeiro em beber do cálice da paixão, em compartilhar com os apóstolos o martírio.

Caminho – E, ao final, resumindo tudo, podemos dizer que seu caminho, não só exterior, mas, sobretudo interior, desde o monte da Transfiguração até o monte da agonia, é um símbolo da peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e os consolos de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus, como São Tiago, sabemos, inclusive nas dificuldades, que vamos pelo bom caminho. 

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