sábado, 29 de setembro de 2012

São Cosme e São Damião


No dia 26 de setembro, a Igreja comemora São Cosme e Damião, santos da Igreja Católica. Aqui no Brasil, a devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto da tradição africana. São muito festejados na Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha a rua e adentra aos barracões de candomblé e terreiros de umbanda, quando crianças saem aos bandos, pedindo doces e esmolas em nome dos santos. Vamos aprender um pouco sobre esses santos. 

Quem eram – Cosme e Damião eram irmãos e cristãos. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio. Na verdade, não se sabe exatamente se eles eram gêmeos, mas nasceram na Arábia e viveram na Ásia Menor. Desde muito jovens, ambos manifestaram um enorme talento para cuidar da saúde humana: um estudou Medicina e o outro, Farmácia, na Síria e depois foram praticar em Egéia. Inspirados pelo Espírito Santo, usavam a fé aliada aos conhecimentos científicos. Com isso, seus tratamentos e curas a doentes, muitas vezes à beira da morte, eram vistos como verdadeiros milagres.  

Curas – Deixavam pasmos os mais céticos dos pagãos, pois não cobravam absolutamente nada por isso. Por isso, eram chamados de anárgiros, ou seja, inimigos do dinheiro. A riqueza que mais os atraía era fazer de sua arte médica também o seu apostolado, para a conversão dos pagãos, o que, a cada dia, conseguiam mais e mais.  

Ira – Isso despertou a ira do imperador Deocleciano (ano 300 d.C.), implacável perseguidor do povo cristão. Na Ásia Menor, o governador deu ordens imediatas para que os dois médicos cristãos fossem presos, acusados de feitiçaria e de usarem meios diabólicos em suas curas. Tendo em vista esta acusação, a resposta deles era sempre: "Nós curamos as doenças, em nome de Jesus Cristo e pelo Seu poder!". Diante da insistência, quanto à adoração aos deuses, responderam: "Teus deuses não têm poder algum, nós adoramos o Criador do céu e da terra!". 

Morte 1 – Há várias versões para suas mortes, mas nenhuma comprovada por documentos históricos. Uma das fontes relata que eram dois irmãos, bons e caridosos, que realizavam milagres e por isso teriam sido amarrados e jogados em um despenhadeiro, sob a acusação de feitiçaria e de serem inimigos dos deuses romanos. 

Morte 2 – Segundo outra versão, na primeira tentativa de matá-los, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados, na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram degolados. 

Mais aceita – A versão mais aceita para a morte de São Cosme e Damião é que o imperador Deocleciano mandou que fossem barbaramente torturados por negarem-se a aceitar os deuses pagãos. Em seguida, foram decapitados. Os fatos ocorreram no ano de 303 d.C. em Ciro, cidade vizinha a Antioquia, Síria, onde foram sepultados. Mais tarde, seus corpos foram transladados para Roma, uma igreja dedicada a eles.  

Roma – Foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV, entre 526 e 530, na Basílica no Fórum de Roma. Tal solenidade ocorreu num dia 26 de setembro; assim, passaram a ser festejados nesta data. 

Padroeiros – Os nomes de São Cosme e São Damião estão no elenco dos mártires da Igreja. São venerados como padroeiros dos médicos, dos farmacêuticos e das faculdades de Medicina.

sábado, 22 de setembro de 2012

O COBRADOR DE IMPOSTOS

 
No dia 21 de setembro, a Igreja comemora São Mateus. Mateus aparece uma única vez nos Evangelhos: no momento em que é convocado por Cristo para segui-lo. O chamamento do publicano Mateus acontece em dois episódios distintos: no primeiro, o convite para segui-Lo (Mt 9,9) e no segundo a descrição de um banquete na casa de Mateus e de uma controvérsia com os fariseus (Mt 9,10-13). Vamos analisar estes textos. 

Cobrador de Impostos – Os publicanos estavam catalogados como pecadores públicos notórios. Os cobradores de impostos eram judeus que, além de estarem a serviço do Império Romano, tinham fama de explorarem os pobres. A linguagem oficial associava-os aos ladrões, aos pagãos, aos assassinos e às prostitutas. Os publicanos eram considerados, para todos os efeitos, pecadores públicos, permanentemente afetados de impureza e que nem sequer podiam fazer penitência, pois eram incapazes de reconhecer todos aqueles a quem tinham prejudicado. Os fariseus, muito ciosos da sua santidade, mudavam de passeio, quando viam um publicano, na rua, vir ao seu encontro. Eram, portanto, gente desclassificada (apesar de rica), impura, considerada amaldiçoada por Deus e, portanto, completamente à margem da salvação. 

Publicano Apóstolo? – Vejam a situação extraordinária criada por Jesus: Ele não só chama um publicano para o seu grupo de discípulos, como também aceita sentar-se à mesa com ele (estabelecendo, assim, laços de familiaridade, de fraternidade, de comunhão). O comportamento de Jesus não é só ofensivo à moral e aos bons costumes, mas uma verdadeira provocação. Jesus reúne num mesmo grupo várias classes sociais: pescadores (Pedro, Tiago, João, André), nacionalistas (Simão), publicanos, etc. 

Mateus – O relato da vocação de Mateus é semelhante ao chamamento de outros apóstolos (Mt 4,18-22): são homens que estão trabalhando, a quem Jesus chama e que, deixando tudo, seguem Jesus. Não são “super-homens”, seres perfeitos e santos, estranhos ao mundo, pairando acima das nuvens; mas são pessoas normais, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram… Jesus usa o verbo “akolouthéô”, que significa “ir atrás” e define como deve ser a atitude de um discípulo que aceita ligar‑se a um “mestre”: escutar as suas lições e imitar os seus exemplos de vida… Mateus, sem objeções nem pedidos de esclarecimento, deixa tudo e aceita ser discípulo, numa adesão plena, total e radical a Jesus e às suas propostas de vida. Mateus define aqui o caminho do verdadeiro discípulo: é aquele que, na sua vida normal, se encontra com Jesus, escuta o seu convite, aceita-o sem discussão e segue Jesus de forma incondicional. 

Reino – No relato de vocação de Mateus há, no entanto, um dado novo em relação a outros relatos de vocação: Jesus demonstra que, no “Reino”, há lugar para todos, mesmo para aqueles que o mundo considera desclassificados e marginais. Deus tem uma proposta de salvação para apresentar a todos os homens, sem exceção; e essa proposta não distingue entre bons e maus: é uma proposta que se destina a todos aqueles que estiverem interessados em acolhê-la. 

Banquete – Na segunda parte do Evangelho, temos uma controvérsia entre Jesus e os fariseus, porque Jesus – depois de convidar o publicano Mateus a integrar o seu grupo de discípulos – ainda “desceu mais baixo” e aceitou sentar-se à mesa com os publicanos e pecadores. O “banquete” era, para a mentalidade judaica, o lugar do encontro, da fraternidade, onde os convivas estabeleciam laços de família e de comunhão. Sentar-se à mesa com alguém significava estabelecer laços profundos, íntimos, familiares, com essa pessoa. Por isso, o “banquete” é, para Jesus, o símbolo mais apropriado desse “Reino” de fraternidade, de comunhão, de amor sem limites, que Ele veio propor aos homens (Mt 22,1-14; Mt 8,11-12).  

Proposta de salvação – Ao sentar-se à mesa com os publicanos e pecadores, Jesus demonstra que veio apresentar uma proposta de salvação para todos e que nesse mundo novo, todos os homens e mulheres (independentemente das suas opções ou decisões erradas) têm lugar. A única condição que há para sentar-se à mesa do “Reino” é estar disposto a aceitar essa proposta que é feita por Jesus.
 

Salvação – Os fariseus, mais preocupados com as obras, com os comportamentos externos, com o cumprimento estrito da Lei, não entendem isto. Jesus recorda-lhes que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes”. Para Deus, o que é decisivo, portanto, não é o cumprimento estrito das regras, das leis e dos atos de culto; para Deus, o que é decisivo é estar disposto a acolher a proposta de salvação que Ele faz e a entregar-se confiadamente em suas mãos. Todos aqueles que, na sua humildade e dependência, estão nesta atitude, podem integrar a comunidade do “Reino” e fazer parte da comunidade de Jesus, da comunidade da salvação.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Natividade de Maria Santíssima


Neste sábado (8 de setembro) a Igreja comemora a Natividade de Nossa Senhora. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre a vida de Maria, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, as figuras do boi e do jumento no presépio) mesmo não constando nos Evangelhos. 

O pai de Maria – Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que retirou-se para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas. 

A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro, nove meses antes do nascimento). 

Nascimento – Ana e Joaquim eram residentes em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santa Ana. Num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa "Senhora da Luz", passado para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos. 

Data – Dados tirados de textos apócrifos indicam que Maria teria entre 13 e 14 anos ao ficar noiva de José (um carpinteiro, viúvo e pai de 6 filhos: 4 homens e 2 mulheres). Como já discutimos nesta coluna, a data mais provável para o nascimento de Jesus é o final do ano 7 antes de nossa era (7 a.C.), ou início do ano 6 a.C. Isso nos leva a localizar o nascimento de Maria por volta do ano 20 a.C. 

Cronograma da vida – Um cronograma aproximado da vida de Maria seria o seguinte: nasceu no ano 20 a.C.. No final do ano 7 a.C. (com 13 anos) deu à luz Jesus, na cidade de Belém. Maria assistiu a crucificação e morte de Jesus em abril do ano 30 d.C., com 50 anos de idade. Segundo Hipólito de Tebas (autor bizantino do século VII), a Virgem Maria viveu onze anos após a morte de Jesus, morrendo no ano de 41 d.C. (com 61 anos de idade). 

Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria. 

Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria. 

Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino. 

A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13). 

José e Maria – Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos. 

Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é um outro assunto ... . 

Quer ler mais – Se você quer ler a história completa de Maria, podemos lhe enviar os textos apócrifos do Proto-evangelho de Tiago e a História de José. Solicite por E-mail.

sábado, 1 de setembro de 2012

Os Anos Anônimos de Jesus


Quando nós lemos os Evangelhos, notamos que existe uma lacuna na descrição da vida de Cristo: descrevem os primeiros anos (anunciação, nascimento, visita dos pastores e dos magos, perseguição de Herodes, fuga para o Egito) e depois saltam para descrição do Batismo, com Jesus adulto, com 33-34 anos. Um único fato é citado por Lucas, que descreve uma visita ao templo quando Jesus tinha 12 anos (Lc 2, 41s). Como existem registros históricos de como era a cultura judaica naquela época, podemos imaginar como teria sido a vida de Jesus nestes anos. 

Educação Religiosa – Como no judaísmo o pai é o principal encarregado da formação religiosa dos filhos, José foi o responsável por ensinar a Jesus as primeiras práticas religiosas. Assim, logo que Jesus começou a falar, aprendeu a recitação diária do Shemá e da prece das Dezoito Bênçãos, e, quando começou a andar, foi à sinagoga e, anualmente, ao Templo de Jerusalém. Dessa maneira, passo a passo, Jesus foi conduzido ao pleno cumprimento da Lei. 

Escola – Como todos os de sua idade, também Jesus, aos cinco ou seis anos, enfrentou o afasta­mento da intimidade familiar, começando a frequentar a escola, que já naqueles tempos era considerada obrigatória. Nos primeiros dias, lá chegava conduzido pelas mãos da jovem mãe (que não completara ainda vinte anos) que o confiava, como atestam as fontes judaicas de então, a um austero mestre. Aprontar os filhos para a escola era a primeira preocupação do dia, para a mãe. Um texto rabínico registra: “a mãe se levanta de manhã cedo, lava o rosto dos meninos antes de apresentá-los ao professor; depois, à sexta hora (meio-dia) sai nova­mente a receber os filhos que deixam a escola”. 

Aprendizado – O pequeno aluno Jesus, entregue aos cuidados do mestre, era introduzido desde cedo no conhecimento do alfabeto hebraico: o professor, com um estilete, escrevia letra após letra sobre uma pequena tábua recoberta de cera, pronunciando distintamente o nome de cada uma delas. Aprendidas as letras, passava-se aos exercícios iniciais de leitura sobre o texto da Bíblia: o professor lia cada palavra de algum versículo do Levítico e solicitava que os alunos o repetissem, junto com ele, em voz alta. Poucas semanas depois, os meninos recém-acolhidos na escola haviam se integrado ao grupo dos veteranos e seguiam com eles o ciclo normal das lições. Estas consistiam, com exclusividade, durante cinco anos, no ensino de uma só matéria: leitura declamada (e repetida infinitas vezes) da Bíblia hebraica. O professor mos­trava um versículo no manuscrito bíblico aos alunos sentados diante dele; lia-o, explicava-o e depois mandava que as crianças o repetissem, em coro, diversas vezes. Dessa maneira, de versículo em versículo, de livro em livro, em cinco anos se aprendia toda a Bíblia, em especial os seus primeiros cinco livros (Livro da Lei ou Torah). Com esse sistema, Jesus aprendeu praticamente de cor as Sagradas Escrituras. 

Ciclo Superior – Transcorrido esse período (sobre os manuscritos bíblicos), sem interrupção para férias, o garoto Jesus, com dez ou onze anos de idade, passou a um ciclo superior, com a duração de dois anos. Essa etapa acarretava um sacrifício ainda maior para a exuberância infantil. Agora, o comparecimento à escola não se limitava ao período matutino, como no ciclo primário, mas comportava também uma sessão à tarde. Além disso, a matéria abordada no segundo ciclo era mais árida e abstrata, com relação à Bíblia. O aluno aprendia tradições que remontavam ao próprio Moisés ou que tinham sido desenvolvidas pelos doutores da Lei. No final desse ciclo, Jesus viajou até o templo em Jerusalém, onde deixou os doutores do templo maravilhados “da sua sabedoria e das suas respostas” (Lucas 2,47). 

Em casa – Aos doze ou treze anos, findo o curso escolar, Jesus retornou definitivamente para casa e seu pai, que devia encaminhá-lo em uma profissão, em geral a sua própria. Só poucos jovens podiam prosseguir os estudos, ingressando na escola de algum mestre romano. Em Nazaré, José guiou Jesus para o próprio ofício de carpinteiro e o menino retornou à vida cotidiana, interrompida apenas quando do singular episódio entre os doutores no templo de Jerusalém. Daí em diante, passou a ser conhecido como “filho do carpinteiro” (Mateus 13,55), ou como “o carpinteiro” (Marcos 6,3).

Sinagoga – Desde a primeira infância e acompanhado dos pais, o menino Jesus começou a familiarizar-se com os complicados rituais da sinagoga aos sábados (o ofício se iniciava antes da aurora e findava pouco antes do meio-dia). As preces eram, na maior parte, em língua hebraica, portanto, difíceis de acompanhar, visto que se falava comumente o aramaico. A assimilação das orações e dos ritos durou vários anos, até que chegou o dia em que ele mesmo subiu ao púlpito para ler o trecho escolhido da Torah. Tal cerimônia tinha ocasião quando o garoto completava treze anos, ao atingir a puberdade; depois disso, era oficialmente declarado um bar mitzvà, ou seja, um adulto dedicado à observância de toda a Lei. 

Sábado – Vivido nesse compasso simples e espontâneo, o sábado era uma ocasião de descoberta das coisas mais importantes da vida. Ficava claro que “não só de pão vive o homem”, mas também da palavra de Deus, da contemplação serena da natureza, da troca de afetos entre os amigos e conhecidos, da comunhão pura e direta entre, pai, mãe e filhos no íntimo da família. Dessa forma, o sábado era uma verdadeira pausa para o aprimoramento do homem. Assim o viveu também Jesus: primeiro em Nazaré, ao lado de Maria e José, e depois nas aldeias da Galiléia, em companhia dos discípulos. Jesus dirá que, esse sábado libertador, dedicado ao homem e a Deus, é o caminho para “ver o Pai”.