No dia 21 de setembro, a Igreja comemora São Mateus. Mateus aparece uma única vez nos Evangelhos: no momento em que é convocado por Cristo para segui-lo. O chamamento do publicano Mateus acontece em dois episódios distintos: no primeiro, o convite para segui-Lo (Mt 9,9) e no segundo a descrição de um banquete na casa de Mateus e de uma controvérsia com os fariseus (Mt 9,10-13). Vamos analisar estes textos.
Cobrador de Impostos – Os publicanos estavam catalogados como pecadores públicos
notórios. Os cobradores de impostos eram judeus que, além de estarem a serviço
do Império Romano, tinham fama de explorarem os pobres. A linguagem oficial
associava-os aos ladrões, aos pagãos, aos assassinos e às prostitutas. Os publicanos eram considerados, para todos os efeitos,
pecadores públicos, permanentemente afetados de
impureza e que nem sequer podiam fazer penitência, pois eram incapazes de
reconhecer todos aqueles a quem tinham prejudicado. Os fariseus, muito ciosos
da sua santidade, mudavam de passeio, quando viam um publicano, na rua, vir ao seu encontro. Eram, portanto,
gente desclassificada (apesar de rica), impura, considerada amaldiçoada por
Deus e, portanto, completamente à margem da salvação.
Publicano Apóstolo? – Vejam a
situação extraordinária criada por Jesus: Ele não só chama um publicano para o seu grupo de discípulos, como também
aceita sentar-se à mesa com ele (estabelecendo, assim, laços de familiaridade,
de fraternidade, de comunhão). O comportamento de Jesus não é só ofensivo à
moral e aos bons costumes, mas uma verdadeira provocação. Jesus reúne num mesmo
grupo várias classes sociais: pescadores (Pedro, Tiago, João, André),
nacionalistas (Simão), publicanos, etc.
Mateus – O relato da
vocação de Mateus é semelhante ao chamamento de outros apóstolos (Mt 4,18-22):
são homens que estão trabalhando, a quem Jesus chama e que, deixando tudo,
seguem Jesus. Não são “super-homens”, seres perfeitos e santos, estranhos ao
mundo, pairando acima das nuvens; mas são pessoas normais, que vivem uma vida normal, que trabalham, lutam, riem e choram…
Jesus usa o verbo “akolouthéô”, que significa “ir
atrás” e define como deve ser a atitude de um discípulo que aceita ligar‑se a
um “mestre”: escutar as suas lições e imitar os seus exemplos de vida… Mateus,
sem objeções nem pedidos de esclarecimento, deixa
tudo e aceita ser discípulo, numa adesão plena, total e
radical a Jesus e às suas propostas de vida. Mateus define aqui o
caminho do verdadeiro discípulo: é aquele que, na sua vida normal, se encontra
com Jesus, escuta o seu convite, aceita-o sem
discussão e segue Jesus de forma incondicional.
Reino – No relato de
vocação de Mateus há, no entanto, um dado novo em relação a outros relatos de
vocação: Jesus demonstra que, no “Reino”, há lugar para todos, mesmo para
aqueles que o mundo considera desclassificados e marginais. Deus tem uma
proposta de salvação para apresentar a todos os homens,
sem exceção; e essa proposta não distingue entre bons
e maus: é uma proposta que se destina a todos aqueles que estiverem
interessados em acolhê-la.
Banquete – Na segunda
parte do Evangelho, temos uma controvérsia entre Jesus e os fariseus, porque Jesus
– depois de convidar o publicano Mateus a integrar o
seu grupo de discípulos – ainda “desceu mais baixo” e aceitou sentar-se à mesa
com os publicanos e pecadores. O “banquete” era, para
a mentalidade judaica, o lugar do encontro, da fraternidade, onde os convivas
estabeleciam laços de família e de comunhão. Sentar-se à mesa com alguém
significava estabelecer laços profundos, íntimos, familiares, com essa pessoa.
Por isso, o “banquete” é, para Jesus, o símbolo mais apropriado desse “Reino”
de fraternidade, de comunhão, de amor sem limites, que Ele veio propor aos
homens (Mt 22,1-14; Mt 8,11-12).
Proposta de salvação – Ao sentar-se
à mesa com os publicanos e pecadores, Jesus demonstra
que veio apresentar uma proposta de salvação para todos e que nesse mundo novo,
todos os homens e mulheres (independentemente das suas opções ou decisões
erradas) têm lugar. A única condição que há para sentar-se à mesa do “Reino” é
estar disposto a aceitar essa proposta que é feita por
Jesus.
Salvação – Os fariseus,
mais preocupados com as obras, com os comportamentos externos, com o
cumprimento estrito da Lei, não entendem isto. Jesus recorda-lhes que “não são
os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes”. Para Deus, o que
é decisivo, portanto, não é o cumprimento estrito das regras, das leis e dos atos de culto; para Deus, o que é decisivo é estar disposto
a acolher a proposta de salvação que Ele faz e a entregar-se confiadamente em suas mãos. Todos aqueles que, na sua humildade e
dependência, estão nesta atitude, podem integrar a comunidade do “Reino” e
fazer parte da comunidade de Jesus, da comunidade da salvação.
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