sábado, 20 de outubro de 2012

A ambição pelo poder


Evangelho – No Evangelho deste domingo (Mc 10,35-45), Jesus é procurado pelos apóstolos Tiago e João (filhos de Zebedeu) que lhe pedem uma posição de destaque no Reino de Deus: “Deixai-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!" (v. 37). Jesus responde que não depende dele conceder o lugar à direita ou à esquerda; estes lugares pertencem àqueles a quem foi reservado. Os outros dez apóstolos, ao ouvirem o pedido, se revoltam contra Tiago e João. 

Situação – No esquema do evangelho de Marcos, o texto situa-se quase no fim da caminhada de Jesus com os seus discípulos para Jerusalém, o lugar do desfecho de toda a sua missão. Pela terceira vez, ele tem dado aos seus mais íntimos colaboradores o anúncio sobre a sua paixão de morte: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão caçoar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo (v.33).  

Cegos – De novo, a afirmação deixa mais do que claro o que significa ser o Messias de Deus. Mas, não surte efeito: os discípulos, cegos pela ideologia dominante, são incapazes de entender o sentido da vida de Jesus e, por conseguinte, o sentido de ser discípulo dele. Como Pedro, depois do primeiro anúncio e todos os Doze, depois do segundo, João e Tiago conseguem resistir o ensinamento de Jesus numa tentativa de impor seus próprios interesses. 

O poder – Apesar de ouvirem que Jesus veio para dar a sua vida em serviço de todos, os irmãos pedem os primeiros lugares quando Jesus entrasse na sua glória. O desejo de dominar estava muito enraizado neles. É tão gritante o descompasso entre o ensinamento de Jesus e os desejos dos dois irmãos, que Mateus, relatando a mesma historia, suaviza o texto de Marcos, fazendo com que a mãe deles fizesse o pedido! (Mt 20,20). A queixa de Deus no Antigo Testamento, de que o seu povo era um povo “cabeça dura”, se atualiza nos Doze!
Os outros – Mas não podemos pensar que só os dois filhos de Zebedeu sentiram o gosto pela dominação. É interessante notar a reação dos outros dez diante do pedido feito: “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João” (v. 41). Porque ficaram com raiva? Não porque achavam sem sentido o pedido dos dois, mas porque, no fundo, cada um deles queria ter o lugar de honra e poder!! O vírus de dominação é mais do que contagioso!
 

Servir – Mais uma vez, Jesus demonstra paciência histórica com os seus seguidores. Contrasta o sistema de organização da sociedade com aquele que queria para a comunidade dos seus discípulos: “Não deve ser assim entre vós: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos” (v. 43-44). Deixa bem claro o motivo – não por causa de uma humildade qualquer, mas porque ele nos deu o exemplo: “porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (v.45). Ser discípulo de Jesus é ter o mesmo ideal, a mesma prática do que ele!

Hoje – O texto torna-se muito atual para os dias de hoje. Infelizmente o contraste feito por Jesus entre os seus seguidores e o sistema da sociedade secular nem sempre se verifica. Ninguém pode se achar imune diante desta tentação, pois está bem enraizada dentro de todos nós. Somente uma mística bem cultivada do seguimento de Jesus, fundamentada na Palavra da Escritura, poderá nos ajudar para que realmente construamos uma Igreja onde se demonstra que “entre vocês não deve ser assim”.

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