sábado, 6 de outubro de 2012

JESUS E O DIVÓRCIO

 
No Evangelho das missas deste domingo os fariseus interrogam Jesus sobre a legalidade do divórcio. 

Fariseus – Neste trecho do Evangelho de Marcos, os fariseus se encontram com Jesus e tentam colocá-lo à prova com a pergunta: “Pode um homem repudiar a sua mulher?” (Mc 10, 2). Cabe lembrar que Jesus e seus discípulos estavam em território da Peréia (transjordânico),  governado por Herodes Antipas. Foi nessa mesma região que João Batista foi preso e degolado, por denunciar o divórcio ilegal e o casamento ilícito de Herodes Antipas com sua cunhada Herodiades. Os fariseus instigavam Jesus a ter a mesma atitude de João, pensando que com isso Ele teria o mesmo destino. O que os fariseus queriam era que Jesus se tornasse intolerável política e religiosamente. 

Divórcio – O assunto gerava grandes discussões entre os fariseus, pois havia várias interpretações para as escrituras. Os judeus não sabiam o verdadeiro sentido do texto do livro Deuteronômio (Dt 24, 1), que diz: “Quando um homem se casa com uma mulher e consuma o matrimônio, se depois ele não gostar mais dela, por ter visto nela alguma coisa inconveniente, escreva para ela um documento de divórcio e o entregue a ela, deixando-a sair de casa em liberdade”. Eles consideravam que não eram totalmente claras as razões que poderiam fundamentar a rejeição da mulher pelo marido. A Lei, que era atribuída a Moisés, com seu caráter patriarcal machista, relegava a mulher a uma posição de submissão. 

Dois grupos – Na época de Jesus, duas grandes escolas teológicas judaicas divergiam na interpretação da Lei do divórcio: a escola de Hillel e a de Shammai. Hillel (viveu entre os anos 60 a.C. e 9 d.C.) foi um conhecido líder religioso judeu, estudioso respeitado em seu tempo, fundador de uma escola para ensino de mestres no judaísmo (Beit Hillel). Hillel tinha uma visão mais liberal dos textos bíblicos. Shammai, por sua vez, liderava uma escola conservadora, que proibia até o comércio de qualquer mercadoria com gentios (pagãos).  

Coisa inconveniente O grande problema dos fariseus é a interpretação dada ao termo “alguma coisa inconveniente” de Dt 24, 1. Hillel, mais liberal, entendia que o marido podia despedir sua mulher por qualquer motivo, como queimar o jantar, falar alto ou mesmo se esse marido encontrasse uma mulher mais interessante. Shammai, mais conservador, acreditava que o divórcio só poderia ser dado no caso de o marido encontrar na mulher alguma coisa inconveniente. Esse termo hebraico para descrever “coisa inconveniente”, erwath dabar, era entendido por Shammai como falta de castidade ou adultério. 

Pegadinha – Na verdade, os fariseus tentavam incriminar Jesus: se Ele dissesse que era lícito, afrouxaria o ensinamento de Moisés sobre o divórcio; se dissesse que era ilícito estaria condenando o matrimônio de Herodes Antipas com a cunhada, Herodíades. A pergunta dos fariseus insere-se, provavelmente, na tentativa de encontrar razões para eliminar Jesus. 

Proposta – Jesus recorda a perspectiva da Lei (“Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio para se repudiar a mulher”); contudo, essa condescendência da Lei não resulta do projeto de Deus para o homem e para a mulher, mas é o resultado da “dureza do coração” dos homens. As prescrições de Moisés não definem o quadro ideal do amor do homem e da mulher, mas apenas regulam o compromisso matrimonial, tendo em conta a mediocridade humana.  

Projeto de Deus – Em contraste com a permissividade da Lei, Jesus vai apresentar o projeto primordial de Deus para o amor do homem e da mulher. Citando livremente Gn 1,27 e Gn 2,24, Jesus explica que, no projeto original de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão “uma só carne”. Ser “uma só carne” implica viverem em comunhão total um com o outro, dando-se um ao outro, partilhando a vida um com o outro, unidos por um amor que é mais forte do que qualquer outro vínculo. A separação será sempre o fracasso do amor; não está prevista no projeto ideal de Deus, pois Deus não considera um amor que não seja total e duradouro. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher.  

Reino de Deus – A perspectiva de Jesus sobre a questão é a seguinte: nessa nova realidade que Deus quer propor ao homem (o Reino de Deus), chegou o momento de abandonar a facilidade, a mesquinhez, as meias-verdades e de apontar para um patamar mais alto. Ora, no que diz respeito ao matrimônio, o patamar mais alto é o projeto inicial de Deus para o homem e para a mulher, que previa um compromisso de amor estável, duradouro, indissolúvel.

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