Pilatos – Poncio Pilatos, o
interlocutor romano de Jesus, governou a Judéia e a Samaria entre os anos 26 e
36. As informações do historiador Flávio Josefo e de Fílon o descrevem como um governante
duro e violento, obstinado e áspero, culpado de ordenar execuções de opositores
sem um processo legal. As queixas de crueldade apresentadas contra ele pelos
samaritanos, no ano 35, levaram Vitélio, o representante romano na Síria, a tomar
a decisão de enviá-lo a Roma, para se explicar diante do imperador. Pilatos foi
deposto do seu cargo de governador da Judéia no ano 36.
Rei? – O interrogatório de Jesus começa
com uma pergunta direta de Pilatos: “Tu és o Rei dos judeus?”. Essa interrogação
já revela qual era a acusação apresentada pelas autoridades judaicas contra
Jesus: a de que Ele tinha pretensões de ser o Salvador prometido, que pretendia
restaurar o reino de David e libertar Israel dos opressores. Esse tipo de acusação fazia de Jesus
um agitador político, empenhado em mudar o mundo pela força, pelo poder das
armas. Esta acusação tem fundamento? Jesus aceita-a?
Messias
– A
resposta de Jesus coloca as coisas nos devidos lugares. Ele assume-se como o Messias
que Israel esperava e confirma, claramente, a sua qualidade de rei; no entanto,
descarta qualquer semelhança com os reis que Pilatos conhece. Os reis deste
mundo apóiam-se na força das armas e impõem aos outros homens o seu domínio e a
sua autoridade; a sua realeza baseia-se na prepotência e na ambição e gera
opressão, injustiça e sofrimento… Jesus, ao contrário, é um prisioneiro
indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado
pelo povo; não se impõe pela força, mas veio ao encontro dos homens para
servi-los; não cultiva os próprios interesses, mas obedece em tudo à vontade de
Deus, seu Pai; não está interessado em afirmar o seu poder, mas em amar os
homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de outra ordem, da ordem de
Deus.
Testemunho
– A
realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em “dar
testemunho da verdade”. Para o autor do Quarto Evangelho, a “verdade” é a
realidade de Deus. Essa “verdade” manifesta-se nos gestos de Jesus, nas suas
palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no seu amor vivido até ao
extremo, com a doação da vida.
Verdade
– A
“verdade” (isto é, a realidade de Deus) é o amor incondicional e sem medida que
Deus derrama sobre o homem, a fim de fazê-lo chegar à vida verdadeira e
definitiva. Essa “verdade” opõe-se à “mentira”, que é o egoísmo, o pecado, a
opressão, a injustiça, tudo aquilo que desfigura a vida do homem e o impede de
alcançar a vida plena. A “realeza” de Jesus concretiza-se, por um lado, na luta
contra o egoísmo e o pecado que escravizam o homem e que o impedem de ser livre
e feliz; por outro lado, a realeza de Jesus se realiza na proposta de uma vida
feita amor e entrega a Deus e aos irmãos. Esta meta não se alcança pela lógica
do poder e da força, mas pelo amor, pela partilha, pelo serviço simples e
humilde em favor dos irmãos. É esse “reino” que Jesus veio propor; é a esse
“reino” que Ele preside.
Renúncia
– A
proposta de Jesus provoca uma resposta livre do homem. Quem escuta a voz de Jesus
adere ao seu projeto e se compromete a segui-lO, renuncia ao egoísmo e ao pecado
e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Passa, então, a integrar
a comunidade do “Reino de Deus”.
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