sábado, 5 de janeiro de 2013

Caindo de joelhos, prostraram-se diante dEle


A Solenidade da Epifania do Senhor, a liturgia apresenta-nos a visita dos Magos ao menino de Belém. Trata-se de um episódio que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos... No entanto, não estamos diante de uma reportagem jornalística que faz a cobertura da visita oficial de três chefes de Estado a outro país; estamos diante de uma catequese sobre Jesus, destinada a apresentá-lO como o salvador/libertador de todos os homens. 

Catequese – Os numerosos detalhes do relato demonstram, claramente, que o propósito de Mateus não é de tipo histórico, mas catequético. Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no fato de Jesus ter nascido em Belém de Judá (Mt 2,1.5.6.7). Para entender esta insistência temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém é ligá-l'O a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (Miq 5,1.3; 2Sam 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para O reconhecerem como Messias.

Estrela – Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela "especial" que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os "Magos" para Belém. A interpretação desta referência como indicação histórica levou alguém a cálculos astronômicos complicados para concluir que, no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenômeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura do cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do Médio Oriente ... Na realidade, não podemos entender esta referência como histórica, mas antes como catequese sobre Jesus. Segundo a crença popular, o nascimento de um personagem importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (Nm 24,17). É com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta a serviço da catequese, vai inventar a "estrela". Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam que Jesus era o Messias esperado. 

Magos – Temos, ainda, as figuras dos "Magos". A palavra grega "mágos", usada por Mateus, abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diferentes: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos ... Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmios, entrados em contato com o messianismo judaico. Seja como for, esses "Magos" representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade. Na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, Jesus é essa luz. 

Reconhecimento – Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os "Magos" do oriente (que são pagãos) O adoram; Herodes e Jerusalém "ficam perturbados" diante da notícia do nascimento de Jesus e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem-n'O como o seu Senhor. 

Caminho – Mateus anuncia, aqui, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que passarão a tomar parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos "Magos" reflete o processo que os pagãos seguiram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para O encontrar, perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer, encontram Jesus e adoram-n'O. É muito possível que um grande número de pagãos-cristãos da comunidade de Mateus descobrisse neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus. 

Refletindo – Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes dos personagens criados por Mateus. Diante de Jesus, eles assumem atitudes diversas que vão desde a adoração (os "Magos") até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas). Identificamo-nos com algum destes grupos? Os "Magos" são apresentados como os "homens dos sinais", que sabem ver na "estrela" o sinal da chegada da libertação. Somos pessoas atentas aos "sinais" - isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos "sinais" a vontade de Deus? 

Procurar – Somos capazes da mesma atitude dos Magos (deixaram tudo para procurar Jesus), ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão, à nossa televisão, à nossa aparelhagem, à nossa internet? Os "Magos" representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo e que se prostram diante d'Ele. É a imagem da Igreja, essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como "o Senhor".

Nenhum comentário:

Postar um comentário