Conforme
a Bíblia, coisas estranhas aconteceram na longínqua sexta-feira, 7 de abril do
ano 30, que os cristãos chamam de Sexta-feira Santa.
Condenação –
O governador da Judéia, Pôncio Pilatos, acabava de autorizar a morte de Jesus
sob uma tríplice acusação política: era um agitador social, incitava o povo a
não pagar impostos ao Imperador e havia se autoproclamado rei (Lc 23,2). O
castigo era a crucifixão, um dos mais comuns da época.
Execução –
Por volta das nove horas da manhã (Mc 15,25), o pelotão de soldados romanos
partiu do palácio do governador até uma colina próxima, onde executou a
sentença. E esperou ao pé da cruz a morte do condenado.
Cataclismos –
Mas, de repente, aconteceu o inesperado: “Desde o meio-dia até às três da tarde
toda a Terra ficou coberta de escuridão” (Mt 27,45). Na Palestina, ver o Sol
ardente do meio-dia obscurecer-se, deve ter sido um espetáculo impressionante. Mas
isso não foi tudo. São Mateus conta que lá pelas três da tarde Jesus deu um
forte grito e expirou. E então “eis que o véu do Templo se rasgou de alto a
baixo em duas partes, a terra tremeu e fenderam-se as rochas. Abriram-se os
túmulos e muitos corpos de santos ressuscitaram e, saindo dos sepulcros, depois
da ressurreição de Jesus, vieram à cidade santa e apareceram a muitos” (Mt
27,51-53).
Cinco fenômenos – Segundo
Mateus (27,51-53), no dia em que Jesus morreu aconteceram cinco prodígios:
trevas ao meio-dia, tremor de terra, rochas que se partiram, tumbas que se
abriram, corpos de santos falecidos que se levantaram e apareceram a muitos. É
possível explicar isso?
A escuridão –
Uns 750 anos antes do nascimento de Jesus, o profeta Amós vivia na cidade de
Samaria, capital do reino de Israel. Enormes injustiças e um contraste brutal
entre ricos e pobres afligia o povo. Amós anunciava uma mensagem da intervenção
de Deus: “Acontecerá naquele dia que farei o sol declinar em pleno meio-dia e
escurecerei a terra em um dia de luz” (Am 8,9). O povo, então, começou a
aguardar a chegada deste novo amanhecer, o dia em que Deus livraria todo o povo
de sua dor e de suas injustiças. Começou a memorizar o sinal e a suspirar por
este dia e passou a chamá-lo de “o dia de Javé”.
O terremoto –
Poucos anos mais tarde apareceu outro grande profeta, cujo nome era Isaías. A
ele coube viver numa época muito difícil do reino de Judá. E foi lá pelo ano
740 a.C., que pronunciou um célebre sermão, proclamando a chegada do “dia
de Javé” (Is 2,6-22). E três vezes repete este mesmo sinal (terremotos)
em seu discurso (Is 2,10.19.21) para que o povo não se esqueça. O povo viu
renascer novamente sua esperança no dia da manifestação de Deus.
As rochas – Em
587 a.C., o povo de Israel foi levado cativo para a Babilônia onde permaneceu durante
50 anos. Ao regressar, surgiu o profeta Zacarias (300 a.C.), que falou sobre a
necessidade de purificar o povo. Em uma de suas últimas predições (Zc 14,1-21),
afirma que o “dia de Javé” não está muito longe. Nesse dia as rochas se
fenderão, especialmente as do Monte das Oliveiras, localizado defronte a Jerusalém
(Zc 14,4). Assim Zacarias predisse o terceiro sinal do dia de Javé.
As tumbas –
Três séculos antes (592 a.C.), muitos quilômetros dali, na Babilônia, surgia o
profeta Ezequiel. O seu anúncio consistia na chegada de uma nova época para o
mundo todo. Ezequiel faz um anúncio impressionante da chegada daquele dia de
Javé: “Assim diz o Senhor Deus: ó meu povo, vou abrir vossas sepulturas! Eu vos
farei sair de vossas sepulturas e vos conduzirei para a terra de Israel” (Ez
37,12). Acrescenta assim um quarto sinal aos três já dados pelos profetas
anteriores sobre o “dia de Javé”.
Os mortos –
Faltava um último sinal, aquele dado pelo livro de Daniel. Esta obra foi
provavelmente escrita por volta do ano 167 a.C., num momento muito difícil para
os judeus. Daniel dá um sinal sobre aqueles santos que morreram dolorosamente
na perseguição: “Muitos que dormem na terra poeirenta despertarão” (Dn 12,2). É
a primeira vez que na Bíblia se anuncia a ressurreição dos mortos. Podemos imaginar
o impacto que isso produziu entre os judeus, que fixaram para sempre a
lembrança do fato como sinal da chegada do “dia de Javé”.
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