sábado, 16 de março de 2013

Houve cataclismos no dia em que morreu Jesus?


Conforme a Bíblia, coisas estranhas aconteceram na longínqua sexta-feira, 7 de abril do ano 30, que os cristãos chamam de Sexta-feira Santa.  

Condenação – O governador da Judéia, Pôncio Pilatos, acabava de autorizar a morte de Jesus sob uma tríplice acusação política: era um agitador social, incitava o povo a não pagar impostos ao Imperador e havia se autoproclamado rei (Lc 23,2). O castigo era a crucifixão, um dos mais comuns da época. 

Execução – Por volta das nove horas da manhã (Mc 15,25), o pelotão de soldados romanos partiu do palácio do governador até uma colina próxima, onde executou a sentença. E esperou ao pé da cruz a morte do condenado.  

Cataclismos – Mas, de repente, aconteceu o inesperado: “Desde o meio-dia até às três da tarde toda a Terra ficou coberta de escuridão” (Mt 27,45). Na Palestina, ver o Sol ardente do meio-dia obscurecer-se, deve ter sido um espetáculo impressionante. Mas isso não foi tudo. São Mateus conta que lá pelas três da tarde Jesus deu um forte grito e expirou. E então “eis que o véu do Templo se rasgou de alto a baixo em duas partes, a terra tremeu e fenderam-se as rochas. Abriram-se os túmulos e muitos corpos de santos ressuscitaram e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição de Jesus, vieram à cidade santa e apareceram a muitos” (Mt 27,51-53).  

Cinco fenômenos – Segundo Mateus (27,51-53), no dia em que Jesus morreu aconteceram cinco prodígios: trevas ao meio-dia, tremor de terra, rochas que se partiram, tumbas que se abriram, corpos de santos falecidos que se levantaram e apareceram a muitos. É possível explicar isso? 

A escuridão – Uns 750 anos antes do nascimento de Jesus, o profeta Amós vivia na cidade de Samaria, capital do reino de Israel. Enormes injustiças e um contraste brutal entre ricos e pobres afligia o povo. Amós anunciava uma mensagem da intervenção de Deus: “Acontecerá naquele dia que farei o sol declinar em pleno meio-dia e escurecerei a terra em um dia de luz” (Am 8,9). O povo, então, começou a aguardar a chegada deste novo amanhecer, o dia em que Deus livraria todo o povo de sua dor e de suas injustiças. Começou a memorizar o sinal e a suspirar por este dia e passou a chamá-lo de “o dia de Javé”. 

O terremoto – Poucos anos mais tarde apareceu outro grande profeta, cujo nome era Isaías. A ele coube viver numa época muito difícil do reino de Judá. E foi lá pelo ano 740 a.C., que pronunciou um célebre sermão, proclamando a chegada do “dia de Javé” (Is 2,6-22). E três vezes repete este mesmo sinal (terremotos) em seu discurso (Is 2,10.19.21) para que o povo não se esqueça. O povo viu renascer novamente sua esperança no dia da manifestação de Deus. 

As rochas – Em 587 a.C., o povo de Israel foi levado cativo para a Babilônia onde permaneceu durante 50 anos. Ao regressar, surgiu o profeta Zacarias (300 a.C.), que falou sobre a necessidade de purificar o povo. Em uma de suas últimas predições (Zc 14,1-21), afirma que o “dia de Javé” não está muito longe. Nesse dia as rochas se fenderão, especialmente as do Monte das Oliveiras, localizado defronte a Jerusalém (Zc 14,4). Assim Zacarias predisse o terceiro sinal do dia de Javé. 

As tumbas – Três séculos antes (592 a.C.), muitos quilômetros dali, na Babilônia, surgia o profeta Ezequiel. O seu anúncio consistia na chegada de uma nova época para o mundo todo. Ezequiel faz um anúncio impressionante da chegada daquele dia de Javé: “Assim diz o Senhor Deus: ó meu povo, vou abrir vossas sepulturas! Eu vos farei sair de vossas sepulturas e vos conduzirei para a terra de Israel” (Ez 37,12). Acrescenta assim um quarto sinal aos três já dados pelos profetas anteriores sobre o “dia de Javé”.  

Os mortos – Faltava um último sinal, aquele dado pelo livro de Daniel. Esta obra foi provavelmente escrita por volta do ano 167 a.C., num momento muito difícil para os judeus. Daniel dá um sinal sobre aqueles santos que morreram dolorosamente na perseguição: “Muitos que dormem na terra poeirenta despertarão” (Dn 12,2). É a primeira vez que na Bíblia se anuncia a ressurreição dos mortos. Podemos imaginar o impacto que isso produziu entre os judeus, que fixaram para sempre a lembrança do fato como sinal da chegada do “dia de Javé”.
 
Sinais – Vemos, pois, como os profetas do Antigo Testamento foram dando esses cinco sinais indicadores que serviriam para conhecer a chegada de um dia muito especial, o “dia de Javé”. Na verdade tratava-se de uma linguagem simbólica. Queriam dar a entender que haveria mudanças muito notáveis na história. Mateus, quando descreve os cinco fenômenos que acompanham a paixão de Cristo, não pretendia relatar fatos realmente acontecidos. Simplesmente se propôs a afirmar uma verdade teológica, mediante imagens tomadas dos profetas do Antigo Testamento. Estamos, pois, diante de um relato simbólico que é preciso interpretar corretamente e não entender literalmente. Com sua descrição, pretendeu evocar o “fim do mundo” ou, pelo menos, o “fim de um mundo”. Com a morte de Jesus iniciou-se uma nova era na humanidade, o novo tempo da salvação.

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