sábado, 9 de março de 2013

Pôncio Pilatos : briguento e obstinado


Uma das críticas feitas ao filme “Paixão de Cristo” é que Pilatos é retratado como uma pessoa fraca e indecisa. De acordo com estudiosos, porém, Pilatos era um Governador enérgico, romano até a medula e com uma idéia fixa: a fidelidade ao imperador.  

Fraco? – De acordo com Marta Sordi (professora de História grega e romana, por 25 anos, na Universidade Católica de Milão e pesquisadora das relações entre cristianismo e império romano), Pôncio Pilatos não era um tipo indeciso, "Era um governador enérgico". Para Giuseppe Ricciotti (escritor do livro Vida de Jesus Cristo), Pilatos era "briguento" e "obstinado". Enfim, era um tipo duro, romano ao extremo; um funcionário que tinha por ideal a fidelidade ao imperador e que pecou por excesso de zelo: em 36, seis anos depois da morte de Cristo, expulsou, com energia, uma multidão de samaritanos para o monte Garizim. 

Saindo da história - Os samaritanos, que eram inimigos dos judeus e aliados dos romanos, recorreram a Tibério. E o pobre Pilatos foi chamado de volta a Roma. Desde então, saiu da história e sua figura foi remodelada por lendas. Tornou-se, para muitos, o homem que urdiu a condenação de Jesus Cristo à morte, o que é um erro: o Sinédrio decretou a morte do Messias. Como não era possível aos judeus, condenar alguém à pena capital, a última palavra cabia a Roma, por isso recorreram a Pilatos. Eis por que ele entrou na história: a condenação, decidida por razões religiosas, foi mascarada com as cores da política e Jesus foi apresentado como um perigoso agitador político.  

Duelo – Para conseguir o que queriam, os judeus usaram uma tática arriscada, mas vitoriosa, levada em frente à base da chantagem: Pilatos algumas vezes já havia provocado os judeus, mostrando os símbolos da dominação romana e os judeus haviam reagido recorrendo a Tibério. O próprio evangelho de Lucas, no capítulo treze, fala de outra intervenção de Pilatos, contra os galileus, que terminou com um banho de sangue. Enfim, os sumos sacerdotes e seus ilustres padrinhos sabiam como atingir o Governador: o imperador Tibério.  

Superarma - A "superarma" (a chantagem), porém, só foi mostrada no final de um extenuante duelo. Pilatos tinha o sentimento do Direito e sua função era fazer respeitar a lei; além disso, nutria por aqueles chefes do judaísmo um sentimento de desprezo e de confronto e via aí, portanto, uma ótima ocasião para contradizê-los em nome da lei. Enfim, tinha boas razões para absolver o acusado e aplicar um golpe nos chefes do povo, que não suportava. Viu naquele momento uma oportunidade de dar uma lição naquelas pessoas.  

Diálogo com Jesus - "Tu és o rei dos judeus?", "Dizes isso por ti mesmo ou foram outros que te disseram a meu respeito?", "O que fizeste?", "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, meus servidores teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. O meu reino não é daqui". Um diálogo breve, mas suficiente para compreender que o Messias não era, de fato, um subversivo; a sua pregação podia até desarmar as mensagens de violência que sempre estavam presentes no meio da Palestina. No máximo, pensou que tinha diante de si um visionário: "Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz". "O que é a verdade?", perguntou. E a tentativa de abrir o diálogo se defrontou com o clamoroso silêncio de Cristo, que havia preenchido todo o cenário com a sua presença. "Não me respondes, não vês de quantas coisas estás sendo acusado?". Jesus tinha se calado, porque a verdade fala sem precisar de palavras e não necessita de didática nem de observações. 

Cartas - Antes de perder a “partida”, Pilatos apostou pelo menos em três “cartas”. Primeiro, enviou o prisioneiro a Herodes Antipas, o rei de um Estado fantoche. Pilatos tentou, assim, reaproximar-se do Tetrarca, com quem estava meio estremecido. Além disso, como pessoa prática e experiente, estava convencido de que seria fácil acabar com o “caso Jesus”. Alcançou o primeiro objetivo, tornando-se bom amigo do tirano; mas fracassou quanto ao segundo. Herodes mandou Jesus de volta. A esta altura, Pilatos, sempre se equilibrando entre as exigências da política e as razões da justiça, tentou uma segunda saída: "Portanto, depois de castigá-lo – comunicou – vou colocá-lo em liberdade". 

O "prêmio de consolação" – Segundo Ricciotti, o verdadeiro erro dialético dessa conclusão está nesse “portanto”. Se nem Pilatos nem Herodes tinham encontrado culpa alguma, nem nada que justificasse condená-lo à morte, como justificar esse “portanto”’? Prometendo o “prêmio de consolação” do flagelo, punição terrível, que em geral terminava com a morte, Pilatos dava mais um passo em falso. E apressou o tombo com a promessa de libertar um prisioneiro, pedindo que o povo escolhesse entre Jesus e Barrabás. A previsão de que Jesus seria o escolhido demonstra que ele tinha pouco conhecimento da nação que governava, bem como dos guias espirituais do povo. A ideia de colocar nas ruas o terrorista Barrabás tornou-se uma faca de dois gumes.

Golpe fatal - E os acusadores foram para o golpe fatal: "Se soltas (Jesus) não és amigo de César. Quem quer que se faça rei, opõe-se a César". Diante desse argumento, Pilatos, homem de carne e osso, magistrado romano despido de qualquer preocupação religiosa, cioso apenas da sua posição em Roma e da sua carreira política, não podia mais permanecer titubeante. Foi tomado pelo medo de ser driblado mais uma vez e ter de ouvir uma repreensão do próprio Tibério. Os inimigos de Jesus contra-atacaram: "Crucifica-o, crucifica-o". "Crucificar o vosso rei?". "Só temos um rei, que é César". Era o fim. Pilatos viu que não havia saída. O povo e seus mais ilustres representantes proclamavam só reconhecer como único e exclusivo rei, o César de Roma: evidentemente, o representante de César em Roma não podia expressar um parecer diverso desse e também, para não ferir os sentimentos religiosos dos acusadores, tinha de mandar crucificar aquele falso rei.

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