sexta-feira, 14 de março de 2014

Este é o meu Filho Amado


O Evangelho deste domingo (Mt 17,1-9) relata a transfiguração de Jesus, uma catequese cheia de a elementos simbólicos do Antigo Testamento, que apresenta-nos Jesus, como o Filho amado de Deus, Aquele que vai concretizar o projeto libertador do Pai, em favor dos homens, pelo dom da vida.

Desânimo – O relato da transfiguração de Jesus é precedido pelo primeiro anúncio da paixão (Mt 16,21-23) e de uma instrução sobre as atitudes que discípulo deve ter (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – Mt 16,24-28). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece caminhar para um rotundo fracasso; eles veem desaparecer, pouco a pouco – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e se perguntam se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem a oferecer do que a morte na cruz.

Projeto – É nesse contexto que Mateus coloca o episódio da transfiguração. A cena representa uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projeto que Jesus apresenta é um projeto que vem de Deus e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nele.

Teofania – A narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato coloca no quadro que descreve todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isso quer dizer: não estamos diante de um acontecimento real, mas de uma catequese construída de acordo com o imaginário judaico.

Catequese – Esta catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus e que traz aos homens um projeto que vem de Deus, está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que elementos são esses?

O monte: situa-nos num contexto de revelação; é sempre num monte que Deus Se revela e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma Aliança com o seu Povo. A mudança do rosto e das vestes – de brancura resplandecente – recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as Tábuas da Lei.

A nuvem: indica a presença de Deus; era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo pelo deserto (Ex 40,35). Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “Dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (Dt 18,15-18).

Reação: o temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer homem ou mulher diante da manifestação da grandeza, da onipotência e da majestade de Deus (Ex 19,16). As tendas parecem aludir à “Festa das Tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.


Filho amado – A mensagem fundamental pretende dizer quem é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: ele é um novo Moisés – isto é, aquele por meio de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a Nova Lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova aliança.

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