sábado, 1 de março de 2014

Deus e o dinheiro


O Evangelho deste domingo (Mt 6,24-34) continua no contexto do “Sermão da Montanha”. Jesus continua aqui, a apresentar a “nova Lei” (como, no Antigo Testamento, Deus apresentou ao seu Povo, na montanha do Sinai, a antiga Lei) que deve guiar a comunidade cristã na sua caminhada histórica. Jesus adverte os discípulos para o uso das riquezas e procura definir a atitude vital e o caminho do cristão

Mamonas – O versículo 24 afirma a incompatibilidade entre o amor a Deus e o amor aos bens materiais (o evangelista Mateus usa o termo “mamonas”, que significa o dinheiro como um poder que domina o mundo). Qual a razão dessa incompatibilidade?

Deus – Deus deve ser o centro ao redor do qual o homem constrói a sua existência, o valor supremo do homem… Mas, sempre que a lógica do “ter” domina o coração, o dinheiro ocupa o lugar de Deus e passa a ser o ídolo a quem o homem tudo sacrifica. O verdadeiro Deus passa, então, a ocupar um lugar perfeitamente secundário na vida do homem; e o dinheiro – ídolo exigente, ciumento, exclusivo, que não deixa espaço para qualquer outro valor – é promovido à categoria de motor da história e de referência fundamental para o homem.

Dinheiro – O amor ao dinheiro fecha totalmente o coração do homem, num egoísmo estéril, e não deixa qualquer espaço para o amor aos irmãos. Na sua vida, o homem deixa de ter lugar para aqueles que o rodeiam e, por amor do dinheiro, torna-se injusto, prepotente, corrupto, explorador, autossuficiente…

O que buscar primeiro? – Nos versículos 25-34, que se seguem aos “ditos” sobre a riqueza, Mateus procura responder às seguintes questões: como deve ser ordenada a hierarquia de valores dos discípulos de Jesus? Os membros da comunidade cristã não devem se preocupar, nem minimamente, com as suas necessidades básicas? Para os discípulos de Jesus, o “Reino” deve ser o valor mais importante, a principal prioridade, a preocupação mais séria, aquilo que, dia a dia, “faz correr” o homem e que domina todo o seu horizonte (“procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça”).

Desafio do Reino – E as preocupações mais “primárias” da vida do homem: a comida, a bebida, a roupa, a segurança? São valores secundários, que não devem sobrepor-se ao “Reino”. De resto, não precisamos viver obcecados com essas coisas, pois o próprio Deus Se encarregará de suprir as necessidades materiais dos seus filhos (“tudo o mais vos será dado por acréscimo”). Aliás, quem aceita o desafio do “Reino” descobre rapidamente que Deus é esse Pai bondoso que preside a história humana, que cuida dos seus filhos, que vela por eles com amor, que conhece as suas necessidades: se Deus, cada dia, veste de cores os lírios do campo e alimenta as aves do céu, não fará o mesmo – ou até mais – pelos homens? Aquele que crê e que escolhe o “Reino” passa, então, a viver nessa serena tranquilidade que resulta da confiança absoluta no Deus que não falha.


Comodismo? – A proposta de Jesus será um convite a viver na alegre despreocupação, na inconsciência, na passividade, no comodismo, na indiferença? Não. As palavras de Jesus são um convite a pôr em primeiro lugar as coisas verdadeiramente importantes (o “Reino”), a relativizar as coisas secundárias (as preocupações exclusivamente materiais) e, acima de tudo, a confiar totalmente na bondade e na solicitude paternal de Deus. De resto, viver na dinâmica do “Reino” não é cruzar os braços, à espera que Deus faça cair do céu aquilo que necessitamos; mas é viver comprometido, trabalhando todos os dias, a fim de que o sonho de Deus – o mundo novo da justiça, da verdade e da paz – se concretize

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