O Evangelho deste domingo (Mt 16,
13-19) situa-nos no Norte da Galiléia, perto das nascentes do rio Jordão, em
Cesareia de Filipe. A cidade tinha sido construída, por Herodes Filipe (filho
de Herodes o Grande), no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto. O episódio ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus: Jesus
dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio. Não se trata,
tanto, de medir a sua popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas
mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de
apostar no Reino.
Duas partes – Vamos dividir o texto em duas
partes: na primeira, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade; na segunda,
centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
O que dizem de
mim? – Na primeira parte,
Jesus interroga os discípulos sobre o que as pessoas dizem d’Ele e sobre o que
os próprios discípulos pensam. A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade
com o passado (“João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”).
Não capta a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade.
Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo
com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso.
Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso,
que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus,
como tantos outros homens antes d’Ele. É muito, mas não é o suficiente:
significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a
profundidade do mistério de Jesus.
E os
discípulos? – A opinião dos
discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da
comunidade dos discípulos, resume o que sente a comunidade do Reino quando
afirma: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Nestes dois títulos resume-se a
fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o
Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel
esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a
salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus
não é, apenas, o Messias: é, também, o “Filho de Deus”.
Filho de Deus – Definir Jesus como o “Filho de
Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total
comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e
que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa
reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai, e que Jesus
conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são
convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Resposta – Na segunda parte, temos a
resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada
pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro pela clareza da fé que o
anima. No entanto, deixa claro que essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de
Deus (“não foram a carne e o sangue que lhe revelaram, mas sim o meu Pai que
está nos céus”).
Rocha – O que é que significa Jesus dizer
a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico
“Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As
palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente.
Mateus está afirmando, portanto, que a base firme e sólida, sobre a qual vai
assentar a Ekklesia (Igreja) de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos
discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Chaves – Para que seja possível a Pedro
testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do
Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e
desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do
palácio” (aquele que administrava os bens do rei, fixava o horário da abertura
e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes que podiam
entrar). Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os
judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o
que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do
Povo de Deus.
Pedro – Jesus nomeia Pedro para
“administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as
palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e
situações, e para acolher – ou não – novos membros na comunidade dos discípulos
do Reino (importante: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do
Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não
podem aí ser admitidos).
Nenhum comentário:
Postar um comentário