sábado, 23 de agosto de 2014

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja


O Evangelho deste domingo (Mt 16, 13-19) situa-nos no Norte da Galiléia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe. A cidade tinha sido construída, por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande), no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto. O episódio ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus: Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre si próprio. Não se trata, tanto, de medir a sua popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

Duas partes – Vamos dividir o texto em duas partes: na primeira, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade; na segunda, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.

O que dizem de mim? – Na primeira parte, Jesus interroga os discípulos sobre o que as pessoas dizem d’Ele e sobre o que os próprios discípulos pensam. A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Baptista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não capta a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele. É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

E os discípulos? – A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o que sente a comunidade do Reino quando afirma: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Nestes dois títulos resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é, apenas, o Messias: é, também, o “Filho de Deus”.

Filho de Deus – Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai, e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.

Resposta – Na segunda parte, temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro pela clareza da fé que o anima. No entanto, deixa claro que essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que lhe revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus”).

Rocha – O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está afirmando, portanto, que a base firme e sólida, sobre a qual vai assentar a Ekklesia (Igreja) de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.

Chaves – Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio” (aquele que administrava os bens do rei, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes que podiam entrar). Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou reintroduzir alguém na comunidade do Povo de Deus.


Pedro – Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher – ou não – novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (importante: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).

Nenhum comentário:

Postar um comentário