Na primeira
leitura das missa deste domingo, é apresentada a Profecia de Jonas (Jn
3,1-5,10).
O texto - Jonas é enviado por Deus para ir a cidade de Nínive, capital da
Assíria. A sua missão era pregar a mensagem de Javé. Durante a viagem acontece
um violenta tempestade, que só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é
engolido por um “grande peixe” (Jonas 1,17) permanecendo três dias e três
noites no estômago do peixe. Sentindo como se estivesse sepultado e, nesta
situação, arrependido, reconsidera a sua decisão. É vomitado pelo "grande
peixe" numa praia e segue rumo para Nínive.
O Livro de Jonas – Este texto foi escrito na segunda metade do séc. V a.C.
(talvez entre 440 e 410 a.C.). É uma história bonita e edificante, mas não é
real. Trata-se de um texto que poderíamos classificar no gênero “ficção didática”.
Dito de outra forma: o livro de Jonas não é uma coleção de oráculos proféticos
proferidos por um homem chamado Jonas, nem sequer um relato de caráter
histórico; mas é uma obra de ficção, escrita com a finalidade de ensinar e
educar.
Povo de Deus – Estamos numa época em que a política de Esdras e Neemias
favorecia o nacionalismo e o fechamento do Povo de Deus aos outros povos. Por
um lado, sublinhava-se o fato de Judá ser o Povo Eleito de Deus, o povo
preferido de Deus, um povo diferente de todos os outros; por outro,
considerava-se que todos os outros povos eram inimigos de Deus, odiados por
Deus, que deviam ser inapelavelmente condenados e destruídos por Deus.
Deus universal – Reagindo contra a ideologia dominante, o autor do “Livro de
Jonas” apresenta Javé como um Deus universal, cuja bondade e misericórdia se
estendem a todos os povos, sem exceção. A escolha de Nínive como a cidade
destinatária da ação salvadora de Deus não é casual: Nínive, capital do império
assírio, tinha ficado na consciência dos habitantes de Judá como símbolo do
imperialismo e da mais cruel agressividade contra o Povo de Deus (Is 10,5-15;
Sof 2,13-15).
Convite – É precisamente esta cidade que Javé quer salvar. Por isso,
chama Jonas e convida-o a ir a Nínive pregar a conversão. No entanto, Jonas,
como os outros seus contemporâneos, não está interessado em que Javé perdoe aos
opressores do Povo de Deus e recusa-se a cumprir o mandato divino. Em lugar de
se dirigir para Nínive, no Oriente, toma o barco para Társis, no Ocidente. Na
sequência de uma tempestade, Jonas é atirado ao mar e engolido por um peixe.
Mais tarde, o peixe vai depositá-lo em terra firme. Jonas é, de novo, chamado
por Deus para a missão em Nínive.
O nosso texto – A primeira leitura deste domingo começa com Jonas recebendo
o segundo mandato de Javé para ir a Nínive. Desta vez, Jonas aceita a missão,
vai a Nínive e anuncia aos ninivitas a destruição da sua cidade. Contra todas
as expectativas, os ninivitas escutam-no, fazem penitência e manifestam a sua
vontade de conversão. Finalmente, Deus desiste do castigo.
1ª Lição – É a da universalidade do amor de Deus. Deus ama todos os
homens, sem exceção, e sobre todos quer derramar a sua bondade e a sua
misericórdia. Mais: Deus ama até mesmo os maus, os injustos e opressores e a eles
oferece a possibilidade de salvação. Deus não ama o pecado, mas ama os
pecadores. Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva.
2ª Lição – É a resposta dada pelos ninivitas ao desafio de Deus. Ao
descrever a forma imediata e radical como os ninivitas “acreditaram em Deus” e
se converteram “do seu mau caminho”, o autor sugere que os pagãos são capazes
de estar mais atentos aos desafios de Deus do que o próprio Povo eleito. Desta
forma, o autor desta história denuncia uma certa visão nacionalista que estava
em moda na sua época entre os seus contemporâneos. Desafia o seu Povo a aceitar
que Javé seja um Deus misericordioso, que oferece o seu amor e a sua salvação a
todos os homens, até aos maus. Desafia, ainda, os habitantes de Judá a
assumirem a mesma lógica de Deus – lógica de bondade, de misericórdia, de
perdão, de amor sem limites – e a não verem, nos outros homens, inimigos que
merecem ser destruídos, mas irmãos que é preciso amar.
CURIOSIDADE: O texto da
Profecia de Jonas diz que Jonas foi engolido por um grande peixe. A história
que se tratava de uma baleia, apareceu no Evangelho de Mateus (Mt 12,40),
escrito 500 anos depois.
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