sábado, 24 de janeiro de 2015

A Profecia de Jonas


Na primeira leitura das missa deste domingo, é apresentada a Profecia de Jonas (Jn 3,1-5,10).

O texto - Jonas é enviado por Deus para ir a cidade de Nínive, capital da Assíria. A sua missão era pregar a mensagem de Javé. Durante a viagem acontece um violenta tempestade, que só acaba quando Jonas é lançado ao mar. Ele é engolido por um “grande peixe” (Jonas 1,17) permanecendo três dias e três noites no estômago do peixe. Sentindo como se estivesse sepultado e, nesta situação, arrependido, reconsidera a sua decisão. É vomitado pelo "grande peixe" numa praia e segue rumo para Nínive.

O Livro de Jonas – Este texto foi escrito na segunda metade do séc. V a.C. (talvez entre 440 e 410 a.C.). É uma história bonita e edificante, mas não é real. Trata-se de um texto que poderíamos classificar no gênero “ficção didática”. Dito de outra forma: o livro de Jonas não é uma coleção de oráculos proféticos proferidos por um homem chamado Jonas, nem sequer um relato de caráter histórico; mas é uma obra de ficção, escrita com a finalidade de ensinar e educar.

Povo de Deus – Estamos numa época em que a política de Esdras e Neemias favorecia o nacionalismo e o fechamento do Povo de Deus aos outros povos. Por um lado, sublinhava-se o fato de Judá ser o Povo Eleito de Deus, o povo preferido de Deus, um povo diferente de todos os outros; por outro, considerava-se que todos os outros povos eram inimigos de Deus, odiados por Deus, que deviam ser inapelavelmente condenados e destruídos por Deus.

Deus universal – Reagindo contra a ideologia dominante, o autor do “Livro de Jonas” apresenta Javé como um Deus universal, cuja bondade e misericórdia se estendem a todos os povos, sem exceção. A escolha de Nínive como a cidade destinatária da ação salvadora de Deus não é casual: Nínive, capital do império assírio, tinha ficado na consciência dos habitantes de Judá como símbolo do imperialismo e da mais cruel agressividade contra o Povo de Deus (Is 10,5-15; Sof 2,13-15).

Convite – É precisamente esta cidade que Javé quer salvar. Por isso, chama Jonas e convida-o a ir a Nínive pregar a conversão. No entanto, Jonas, como os outros seus contemporâneos, não está interessado em que Javé perdoe aos opressores do Povo de Deus e recusa-se a cumprir o mandato divino. Em lugar de se dirigir para Nínive, no Oriente, toma o barco para Társis, no Ocidente. Na sequência de uma tempestade, Jonas é atirado ao mar e engolido por um peixe. Mais tarde, o peixe vai depositá-lo em terra firme. Jonas é, de novo, chamado por Deus para a missão em Nínive.

O nosso texto – A primeira leitura deste domingo começa com Jonas recebendo o segundo mandato de Javé para ir a Nínive. Desta vez, Jonas aceita a missão, vai a Nínive e anuncia aos ninivitas a destruição da sua cidade. Contra todas as expectativas, os ninivitas escutam-no, fazem penitência e manifestam a sua vontade de conversão. Finalmente, Deus desiste do castigo.

1ª Lição – É a da universalidade do amor de Deus. Deus ama todos os homens, sem exceção, e sobre todos quer derramar a sua bondade e a sua misericórdia. Mais: Deus ama até mesmo os maus, os injustos e opressores e a eles oferece a possibilidade de salvação. Deus não ama o pecado, mas ama os pecadores. Ele não quer a morte do pecador, mas que este se converta e viva.

2ª Lição – É a resposta dada pelos ninivitas ao desafio de Deus. Ao descrever a forma imediata e radical como os ninivitas “acreditaram em Deus” e se converteram “do seu mau caminho”, o autor sugere que os pagãos são capazes de estar mais atentos aos desafios de Deus do que o próprio Povo eleito. Desta forma, o autor desta história denuncia uma certa visão nacionalista que estava em moda na sua época entre os seus contemporâneos. Desafia o seu Povo a aceitar que Javé seja um Deus misericordioso, que oferece o seu amor e a sua salvação a todos os homens, até aos maus. Desafia, ainda, os habitantes de Judá a assumirem a mesma lógica de Deus – lógica de bondade, de misericórdia, de perdão, de amor sem limites – e a não verem, nos outros homens, inimigos que merecem ser destruídos, mas irmãos que é preciso amar.


CURIOSIDADE: O texto da Profecia de Jonas diz que Jonas foi engolido por um grande peixe. A história que se tratava de uma baleia, apareceu no Evangelho de Mateus (Mt 12,40), escrito 500 anos depois.

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