sábado, 3 de janeiro de 2015

O massacre em Belém


Uma das passagens mais terríveis do Novo Testamento é o relato no Evangelho de Mateus sobre a matança de meninos em Belém. Inúmeras pinturas e filmes têm mostrado as terríveis cenas de crianças sendo arrancadas dos braços de suas mães e mortos pelos soldados de Herodes.

Como aconteceu – O capítulo 2 de Mateus conta que, quando nasceu Jesus, os magos vieram do oriente para Jerusalém e perguntaram ao rei Herodes onde estava o rei dos judeus que acabara de nascer. Herodes, que se considerava o único rei dos judeus, se alarmou com a pergunta, pensando se tratar de alguém que viria tomar-lhe o cargo. Pediu para os magos que, após encontrarem a criança, lhe avisasse, pois também queria conhecê-la. Os magos voltaram por outro caminho.

Tirano – Herodes era obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivo dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater. Também é atribuído a Herodes a morte de sua mulher Mariana. Em 36 anos de reinado não se passou um só dia sem execução de inocentes. Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de dois anos nascidos em Belém. Herodes morreu entre março ou abril do ano 4 a.C. (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus).

Quantos morreram? – Existe uma grande polêmica sobre a quantidade de meninos que morreram em Belém. Alguns comentaristas da Igreja primitiva diziam que foram 3.000; a Igreja grega diz que foram 14.000; os cristãos sírios elevam este número para 64.000; alguns textos antigos citam 144.000, lembrando o livro do Apocalipse 14,1-5 que fala que “foram 144.000 os mortos que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens”. Mas estes números são reais?

Número real – Na realidade, Belém era uma pequena aldeia na época de Jesus Cristo, e sua população não chegava a mil habitantes. Portanto os nascimentos não poderiam ser mais do que 30 crianças por ano. Como a mortalidade infantil era muito elevada nessa época, é provável que apenas a metade dos recém-nascidos chegassem a dois anos; o que faz o número de crianças nascidas por ano (que chegavam a dois anos) cair para 15. Destes, apenas a metade (meninos) foi perseguida por Herodes, o que faz o número cair para 7 meninos por ano. Como as crianças mortas teriam até dois anos (nascidos nos últimos dois anos) esse número chega a 14. Como o Evangelho de Mateus (Mt 2,16) fala em “Belém e seus arredores”, pode ser que esse número seja um pouco maior.

Só 14 – Talvez este pequeno número de mortos explique a não existência de qualquer documento histórico sobre a matança. Apenas Mateus contou essa história. Nem mesmo o grande historiador do primeiro século Flavio Josefo se referiu ao infanticídio. Esse historiador escreveu toda a história do povo judeu, dando ênfase ao governo de Herodes e suas atrocidades.

Mártires – Desde o início da Igreja, os cristãos celebram a memória dos meninos mortos em Belém, os primeiros mártires de Cristo. No século XVI, o Papa Pio V elevou à categoria de “festa litúrgica” comemorada no mês de dezembro (logo após o Natal) como a festa dos Santos Inocentes.

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