Uma das passagens
mais terríveis do Novo Testamento é o relato no Evangelho de Mateus sobre a
matança de meninos em Belém. Inúmeras pinturas e filmes têm mostrado as
terríveis cenas de crianças sendo arrancadas dos braços de suas mães e mortos
pelos soldados de Herodes.
Como aconteceu – O capítulo 2 de Mateus conta que, quando
nasceu Jesus, os magos vieram do oriente para Jerusalém e perguntaram ao rei
Herodes onde estava o rei dos judeus que acabara de nascer. Herodes, que se
considerava o único rei dos judeus, se alarmou com a pergunta, pensando se
tratar de alguém que viria tomar-lhe o cargo. Pediu para os magos que, após
encontrarem a criança, lhe avisasse, pois também queria conhecê-la. Os magos
voltaram por outro caminho.
Tirano – Herodes era obcecado pelo poder. Para
mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45
aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos
por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra,
mandou queimar vivo dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos)
mandou matar seu filho Antipater. Também é atribuído a Herodes a morte de sua
mulher Mariana. Em 36 anos de reinado não se passou um só dia sem execução de
inocentes. Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos
os meninos com menos de dois anos nascidos em Belém. Herodes morreu entre março
ou abril do ano 4 a.C. (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus).
Quantos morreram? – Existe uma grande polêmica sobre a
quantidade de meninos que morreram em Belém. Alguns comentaristas da Igreja
primitiva diziam que foram 3.000; a Igreja grega diz que foram 14.000; os
cristãos sírios elevam este número para 64.000; alguns textos antigos citam
144.000, lembrando o livro do Apocalipse 14,1-5 que fala que “foram 144.000 os
mortos que não se contaminaram com mulheres, porque são virgens”. Mas estes
números são reais?
Número real – Na realidade, Belém era uma pequena aldeia
na época de Jesus Cristo, e sua população não chegava a mil habitantes.
Portanto os nascimentos não poderiam ser mais do que 30 crianças por ano. Como
a mortalidade infantil era muito elevada nessa época, é provável que apenas a
metade dos recém-nascidos chegassem a dois anos; o que faz o número de crianças
nascidas por ano (que chegavam a dois anos) cair para 15. Destes, apenas a
metade (meninos) foi perseguida por Herodes, o que faz o número cair para 7
meninos por ano. Como as crianças mortas teriam até dois anos (nascidos nos
últimos dois anos) esse número chega a 14. Como o Evangelho de Mateus (Mt 2,16)
fala em “Belém e seus arredores”, pode ser que esse número seja um pouco maior.
Só 14 – Talvez este pequeno número de mortos explique a não existência de
qualquer documento histórico sobre a matança. Apenas Mateus contou essa
história. Nem mesmo o grande historiador do primeiro século Flavio Josefo se
referiu ao infanticídio. Esse historiador escreveu toda a história do povo
judeu, dando ênfase ao governo de Herodes e suas atrocidades.
Mártires – Desde o início da Igreja, os cristãos
celebram a memória dos meninos mortos em Belém, os primeiros mártires de
Cristo. No século XVI, o Papa Pio V elevou à categoria de “festa litúrgica”
comemorada no mês de dezembro (logo após o Natal) como a festa dos Santos
Inocentes.
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