sábado, 17 de janeiro de 2015

Quem é Jesus?


No Evangelho das missas deste domingo (Jo 1,29-34) João Batista vê Jesus e proclama: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. E dá o testemunho: “Eu vi o Espírito Santo descer do Céu como uma pomba e repousar sobre Ele. Ora eu vi e dou testemunho de que Ele é o Filho de Deus”.

Questão – O texto que nos é proposto integra a seção introdutória do Quarto Evangelho (Jo 1,19-3,36). Aí o autor, com consumada mestria, procura responder à questão: “quem é Jesus?”

Testemunho – João Baptista, o profeta/precursor do Messias, desempenha aqui um papel especial na apresentação de Jesus (o seu testemunho aparece no início e no fim da do texto – Jo 1,19-37; 3,22-36). Ele vai definir aquele que chega e apresentá-lo aos homens. Ao não assinalar-se o auditório, sugere-se que o testemunho de João é perene, dirigido aos homens de todos os tempos e com eco permanente na comunidade cristã.

Apresentador – João é o apresentador oficial de Jesus. A catequese sobre Jesus que aqui é feita se expressa através de duas afirmações com um profundo impacto teológico: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; e é o Filho de Deus que possui a plenitude do Espírito.

Cordeiro – A primeira afirmação (“o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”) evoca duas imagens tradicionais extremamente sugestivas. Por um lado, evoca a imagem do “servo sofredor”, o cordeiro levado para o matadouro, que assume os pecados do seu Povo e realiza a expiação (Is 52,13-53,12); por outro lado, evoca a imagem do cordeiro pascal, símbolo da ação libertadora de Deus em favor de Israel (Ex 12,1-28). Qualquer uma destas imagens sugere que a pessoa de Jesus está ligada à libertação dos homens.

Pecado – A ideia é explicitada pela definição da missão de Jesus: Ele veio para tirar (“eliminar”) “o pecado do mundo”. A palavra “pecado” aparece, aqui, no singular: não designa os “pecados” dos homens, mas um “pecado” único que oprime a humanidade inteira; esse “pecado” parece ter a ver, no contexto desta catequese, com a recusa da proposta de vida com que Deus, desde sempre, quis presentear a humanidade (é dessa recusa que resulta o pecado histórico, que oprime os homens). O “mundo” designa, neste contexto, a humanidade que resiste à salvação. Deus propôs-se tirar a humanidade da situação de escravidão em que se encontra; enviou ao mundo Jesus, com a missão de realizar um novo êxodo, que leve os homens da terra da escravidão para a terra da liberdade.

Filho de Deus – A segunda afirmação (o “Filho de Deus” que possui a plenitude do Espírito Santo e que batiza no Espírito – Jo 1,32-34) completa a anterior. Há aqui vários elementos bem sugestivos: o “cordeiro” é o Filho de Deus; Ele recebeu a plenitude do Espírito; e tem por missão batizar os homens no Espírito.

Fez-se carne – Dizer que Jesus é o Filho de Deus é dizer que Ele é o Deus que se faz pessoa, que vem ao encontro dos homens, que monta a sua tenda no meio dos homens, a fim de lhes oferecer a plenitude da vida divina. A sua missão consiste em eliminar “o pecado” que torna o homem escravo e que o impede de abrir o coração a Deus.

Messias – Dizer que o Espírito desce sobre Jesus e permanece sobre Ele sugere que Jesus possui definitivamente a plenitude da vida de Deus, toda a sua riqueza, todo o seu amor. Por outro lado, a descida do Espírito sobre Jesus é a sua investidura messiânica, a sua unção (“messias” = “ungido”).

Batismo – Jesus é, finalmente, aquele que batiza no Espírito Santo. O verbo “batizar” aqui utilizado tem, em grego, duas traduções: “submergir” e “embeber (como a chuva ensopa a terra)”; refere-se, em qualquer caso, a um contato total entre a água e o sujeito. “Batizar no Espírito” significa, portanto, um contacto total entre o Espírito e o homem, uma chuva de Espírito que cai sobre o homem e lhe ensopa o coração. A missão de Jesus consiste, portanto, em derramar o Espírito sobre o homem; e o homem que adere a Jesus, “embebido” do Espírito e transformado por essa fonte de vida que é o Espírito, abandona a experiência da escuridão (“o pecado”) e alcança o seu pleno desenvolvimento, a plenitude da vida.


Convite – A declaração de João convida os homens de todas as épocas a voltarem-se para Jesus e acolherem a proposta libertadora que, em nome de Deus, Ele faz: só a partir do encontro com Jesus será possível chegar à vida plena, à meta final do Homem Novo.

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