sábado, 18 de julho de 2015

Descansai um pouco

"Descansai um pouco"

O Evangelho deste domingo (Marcos 6,30-34) é uma continuação do texto do domingo anterior. Jesus se encontra na cidade de Betsaida (talvez na casa de Pedro), à margem do Mar da Galiléia (ou Lago de Tiberíades). Os apóstolos retornam de suas viagens apostólicas e contam para Jesus tudo o que haviam feito e ensinado. Em razão da presença de Jesus, havia muitas pessoas na casa, que não tinham tempo nem para comer. Então Jesus convidou os apóstolos para irem para um lugar deserto, descansar um pouco. Foram até o lago, tomaram o barco, e foram para um lugar deserto e afastado. Mesmo assim, foram reconhecidos pelo povo, que vinha de todas as cidades, e esperava na outra margem do lago. Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.

Para refletir sobre este texto transcrevemos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano.

Descansar – Na passagem do Evangelho, Jesus convida seus discípulos a separar-se da multidão, do seu trabalho, e retirar-se com Ele a “um lugar deserto”. Ele lhes ensina a fazer o que Ele fazia: equilibrar ação e contemplação, passar do contato com as pessoas ao diálogo secreto e regenerador consigo mesmo e com Deus.

Agitação – O tema é de grande importância e atualidade. O ritmo de vida adquiriu uma velocidade que supera nossa capacidade de adaptação. A cena de Charlot  concentrado na linha de montagem em Tempos Modernos [célebre personagem de Chaplin, que revela a desumanização do trabalho em série, sem espaço para o mínimo de criatividade ou de realização pessoal] é a imagem exata desta situação. Perde-se, desta forma, a capacidade de separação crítica que permite exercer um domínio sobre o fluir, frequentemente caótico e desordenado, das circunstâncias e das experiências diárias.

Calmaria – Jesus, no Evangelho, jamais dá a impressão de estar agitado pela pressa. Às vezes, ele até perde o tempo: todos o buscam e Ele não se deixa encontrar, absorto como está na oração. Às vezes, como em nossa passagem evangélica, Ele inclusive convida seus discípulos a perderem tempo com Ele: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Ele recomenda frequentemente que não se agitem. Também o nosso físico, quanto bem recebe através de tais “folgas”.

Pausas – Entre essas “pausas”, estão precisamente as férias (...) que estamos vivendo. Elas são, para a maioria das pessoas, a única oportunidade de descansar um pouco, para dialogar de forma distendida com o próprio cônjuge, brincar com os filhos, ler algum bom livro ou contemplar a natureza em silêncio; em resumo, para relaxar. Fazer das férias um tempo mais frenético que o resto do ano significaria arruiná-las.

Ao mandamento – “Lembrai-vos de santificar as festas”, seria preciso acrescentar: “Lembrai-vos de santificar as férias. Parai (literalmente: vacate, tirai férias!), sabei que eu sou Deus”, diz Deus em um salmo (Salmo 46). Um meio simples de fazer isso poderia ser entrar em uma igreja ou em uma capela de montanha, em uma hora onde estiver deserta, e passar um pouco de tempo “solitário” lá, a sós conosco mesmos, a sós frente a Deus.

Missionários – Esta exigência de tempos de solidão e de escuta se apresenta de forma especial aos que anunciam o Evangelho e aos animadores da comunidade cristã, que devem permanecer constantemente em contato com a fonte da Palavra que devem transmitir aos seus irmãos. Os leigos deveriam alegrar-se, não se sentir descuidados, cada vez que o próprio sacerdote se ausenta para um tempo de recarga intelectual e espiritual.

Ovelhas – É preciso dizer que as férias de Jesus com os apóstolos foram de breve duração, porque as pessoas, vendo-o partir, seguiram-no a pé até o lugar de desembarque. Mas Jesus não se irrita com as pessoas que não lhe dão trégua, senão que “se comove”, vendo-as abandonadas a si mesmas, “como ovelhas sem pastor”, e começa a “ensinar-lhes muitas coisas”.


Misericórdia – Isso nos mostra que é preciso estar dispostos a interromper até o merecido descanso, frente a uma situação de grave necessidade do próximo. Não se pode, por exemplo, abandonar ou estacionar em um hospital, um idoso sobre quem se tem a responsabilidade, para desfrutar de umas férias sem incômodos. Não podemos esquecer das muitas pessoas cuja solidão elas não escolheram, senão que a sofrem, e não por algumas semanas ou um mês, senão por anos, talvez durante a vida toda. Também aqui cabe uma pequena sugestão prática: olhar à nossa volta e ver se existe alguém a quem ajudar a sentir-se menos sozinho na vida, com uma visita, uma ligação, um convite a vê-lo um dia, no lugar das férias: aquilo que o coração e as circunstâncias sugiram.

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