No
dia 25 de julho, a Igreja comemora o dia de São Tiago, um dos apóstolos
escolhidos por Jesus. Transcrevemos a intervenção do Papa Bento XVI na
audiência do dia 21/06/06, na qual o Sumo Pontífice apresenta São Tiago.
Queridos irmãos e irmãs:
Continuamos com a série de retratos dos apóstolos escolhidos diretamente por
Jesus durante sua vida. Hoje, encontramo-nos com a figura de São Tiago. As
listas bíblicas dos Doze mencionam duas pessoas com este nome: Tiago, filho de
Zebedeu, e Tiago, filho de Alfeu (Marcos 3,17; Mateus 10,2), que são comumente
distinguidos com os apelativos de Tiago o Maior e de Tiago o Menor. Estas
designações não querem medir sua santidade, mas simplesmente constatar a
diferente relevância que recebem nos escritos do Novo Testamento e, em
particular, no contexto da vida terrena de Jesus. Hoje dedicamos nossa atenção
ao primeiro destes dois personagens do mesmo nome.
Tiago –
O nome de Tiago [Jacob] é a tradução de “Iákobos”, variação sob a influência
grega do nome do famoso patriarca Jacó. O apóstolo deste nome é irmão de João e,
nas listas mencionadas, ocupa o segundo lugar depois de Pedro, como sucede em
Marcos (3, 17), ou o terceiro lugar depois de Pedro e André, como nos
Evangelhos de Mateus (10, 2) e de Lucas (6, 14), enquanto nos Atos dos
Apóstolos aparece depois de Pedro e de João (1, 13). Este Tiago pertence, junto
a Pedro e João, ao grupo dos três discípulos privilegiados que foram admitidos
por Jesus em momentos importantes de sua vida.
Ocasiões –
Pôde participar, junto a Pedro e João, do momento da agonia de Jesus, no Horto
de Getsêmani, e no momento da Transfiguração de Jesus. Trata-se, portanto, de
situações muito diferentes entre si: em um caso, Tiago, com os outros dois
apóstolos, experimenta a glória do Senhor e o vê falando com Moisés e Elias, vê
transluzir o esplendor divino em Jesus; no outro, encontra-se ante o sofrimento
e a humilhação, vê com seus próprios olhos como o Filho de Deus se humilha,
fazendo-se obediente até a morte. Certamente, a segunda experiência constituiu
para ele uma oportunidade para amadurecer na fé, para corrigir a interpretação
unilateral, triunfalista da primeira: teve de perceber como o Messias, esperado
pelo povo judeu como um triunfador, na realidade não só estava rodeado de honra
e glória, mas também de sofrimentos e debilidade. A glória de Cristo realiza-se
precisamente na Cruz, na participação em nossos sofrimentos.
Testemunho - Este
amadurecimento da fé foi levado a cumprimento pelo Espírito Santo em
Pentecostes, de maneira que Tiago, quando chegou o momento do supremo
testemunho, não ficou para trás: ao início dos anos 40 do século I, o rei
Herodes Agripa, neto de Herodes, o Grande, como nos informa Lucas: “mandou
prender alguns membros da igreja para maltratá-los. Assim foi que matou, à
espada, Tiago, irmão de João” (Atos 12,1). A concisão da notícia, carente de
todo detalhe narrativo, revela, por um lado, como era normal para os cristãos
testemunhar o Senhor com a própria vida e, por outro, que Tiago tinha uma
posição de relevância na Igreja de Jerusalém, em parte por causa do papel
desempenhado durante a existência terrena de Jesus.
Espanha – Uma
tradição sucessiva, que remonta ao menos até Isidoro de Sevilha, conta que ele
esteve na Espanha para evangelizar essa importante região do império romano.
Segundo outra tradição, seu corpo teria sido transladado à Espanha, à cidade de
Santiago de Compostela. Como todos sabem, aquele lugar converteu-se em objeto
de grande veneração e ainda hoje é meta de numerosas peregrinações, não só da
Europa, mas do mundo inteiro. Deste modo, explica-se a representação
iconográfica de São Tiago com o bastão do peregrino e o rolo do Evangelho,
características do apóstolo itinerante, entregue ao anúncio da “boa notícia”,
característica da peregrinação da vida cristã.
Aprender –
De Tiago podemos aprender muito: a prontidão para acolher o chamado do Senhor,
inclusive quando nos pede que deixemos a “barca” de nossas seguranças humanas;
o entusiasmo para segui-Lo pelos caminhos que Ele nos indica, mais além de
nossa presunção ilusória: a disponibilidade para dar testemunho dEle com
valentia e, se for necessário, com o sacrifício supremo da vida. Deste modo,
São Tiago, o Maior, nos é apresentado como exemplo eloquente de generosa adesão
a Cristo. Ele, que, inicialmente, havia pedido através de sua mãe, sentar-se
com o irmão junto ao Mestre em
seu Reino , foi precisamente o primeiro em beber do cálice da
paixão, em compartilhar com os apóstolos o martírio.
Caminho – E,
ao final, resumindo tudo, podemos dizer que seu caminho, não só exterior, mas,
sobretudo interior, desde o monte da Transfiguração até o monte da agonia, é um
símbolo da peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e os
consolos de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus, como São
Tiago, sabemos, inclusive nas dificuldades, que vamos pelo bom caminho.
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