No Evangelho deste domingo, Jesus estava caminhando com os
apóstolos perto da cidade de Cesaréia de Felipe. Em meio ao caminho, pergunta
aos apóstolos: “Quem o povo diz que eu sou?” E os discípulos responderam: “Alguns
dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é um dos
profetas“. Jesus torna a perguntar: “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?”
Pedro então responde: “O senhor é o Messias!”
Estranho
– Qual a razão dos apóstolos citarem
os nomes de Elias e João Batista se eles já estavam mortos? Os judeus
acreditavam em reencarnação? Certamente, seria muito estranho os judeus acharem
que Jesus fosse uma pessoa morta que “voltou”... O caso não é bem esse... Mas,
primeiramente, vamos recordar quem foram Elias e João Batista.
Elias
– Originário
de Tesbi, Elias foi um profeta do Antigo Testamento que exerceu seu ministério
no reino do Norte, no século 9 a.C. Ele manteve a fé do povo em Deus e lutou
com vigor contra todo sincretismo religioso. Assim, é descrito no Antigo
Testamento como o profeta que "surgiu como fogo e cuja palavra queimava
como uma tocha”. O seu desaparecimento é descrito
como um arrebatamento por um carro de fogo (2Rs 2-13). Dessa descrição se
originou a antiga crença hebraica de que o profeta não teria morrido, mas, teria sido levado para junto de Deus. Sobre ele Malaquias (3, 23) profetizou: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias,
antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”. Assim, surgiu a crença
judaica de que Elias haveria de
regressar antes do "Grande dia de Yavéh" ou da "parusia"
do Messias, para preparar a vinda do Salvador. Essa convicção foi descrita
pelos evangelistas em Mc 6, 14-16; Mc 9,11;
Mt 17,10-13, Lc 9, 7; Jo 1, 21.
João
Batista – João Batista nasceu cerca de cinco
meses antes de Cristo, numa região montanhosa de Judá. Tanto seu pai, o
sacerdote Zacarias, como sua mãe, Isabel, eram descendentes de Aarão. Sua mãe
era prima de Maria, a mãe de Jesus. Sobre ele o Anjo Gabriel anunciou uma
profecia muito semelhante à de Malaquias: “Ele
reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. Caminhará à frente
deles, com o espírito e o poder de Elias,
a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria
dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1, 16).
Marcos 9, 13 e Mt 11, 14 também confirmam que João Batista tinha o mesmo ideal e o zelo do profeta Elias. O
próprio Jesus declara que: “E se vocês o
quiserem aceitar [o reino do céu], João é Elias que devia vir” (Mt 11,
14).
Crença – Como tinham
aprendido que Elias tinha sido arrebatado para junto de Deus e que haveria de
ser reenviado para preparar a vinda do Salvador, os judeus na época de Jesus
acreditavam que em algum momento ele “voltaria”. Por isso o evangelho de João (1,
21) relata que perguntam a João Batista se ele era Elias. Ou seja, esperavam o retorno do
próprio Elias para anunciar a chegada do Messias. Assim, não tinham a preocupação de
identificar o Messias e sim de reconhecer Elias, pois apenas após o seu reaparecimento
viria o Messias.
João
Batista, o profeta do anúncio – Em
Mt 17,10-13 (Mc 9, 11) lemos que os discípulos interrogaram Jesus perguntando a
razão de os escribas dizerem que era necessário que Elias viesse primeiro. Jesus
respondeu que “De fato, Elias virá e
restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o
reconheceram; antes, fizeram com ele tudo quanto quiseram. Assim também o
Filho do Homem há de padecer nas mãos deles”
O texto de Mateus termina dizendo que, então, os discípulos entenderam que Jesus
estava falando de João Batista. Mais uma vez, Jesus atesta que João Batista
veio cumprir a mesma missão designada a Elias, de zelar com vigor pelas coisas
de Deus e cumprir a profecia de ser o precursor do Messias.
Sem
dúvidas, mas ainda sem compreender... –
Tendo visto todas as coisas que Jesus realizara e tendo compreendido que João
Batista era o profeta que viria anunciar a chegada de Jesus, quando são
interrogados pelo Mestre sobre quem pensam que Ele é, a resposta de Pedro é
categórica: “Tu és o Messias”, atestando que Jesus é o Libertador que Israel
esperava, enviado por Deus para livrar o seu Povo e para lhe oferecer a
salvação definitiva. Jesus, entretanto, não é o Messias triunfante ou vingador,
que busca as glórias humanas, preenchendo as esperanças político-nacionalistas
dos judeus. Por isso, para evitar equívocos, instrui-os para que não falem
sobre quem Ele é e explica-lhes que a sua missão deve ser entendida à luz da
cruz (isto é, como dom da vida aos homens, por amor), dando-lhes instruções
sobre o significado e as exigências de ser um discípulo seu.
Atualizando
– E para nós, quem é Jesus? Responder
a esta questão não significa repetir lições de catequese ou tratados de
teologia e sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que
Cristo ocupa na nossa existência… Obriga-nos a pensar no significado que Cristo
tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que
os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não
fazemos para o seguir… Quem é Cristo para mim? Ele é o Messias libertador, que
o Pai enviou ao meu encontro com uma proposta de salvação e de vida plena?
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