A liturgia deste domingo
convida-nos a refletir sobre a Igreja: é a comunidade dos discípulos que seguem
o “caminho” de Jesus – “caminho” de obediência ao Pai e de dom da vida aos
irmãos.
Despedida – O
ambiente em que este trecho nos coloca é o de uma ceia de despedida. Nessa ceia
(realizada na quinta-feira à noite, pouco tempo antes da prisão, na véspera da
morte), estão Jesus e os discípulos. Durante a ceia, Jesus despede-Se dos
discípulos e faz-lhes as suas últimas recomendações. As palavras de Jesus soam
a “testamento” final: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos
vão continuar no mundo.
Incertezas –
Os discípulos, por sua vez, já perceberam que o ambiente é de despedida e que,
daí a poucas horas, o Mestre vai ser tirado deles. Estão inquietos e
preocupados. A aventura que eles começaram com Jesus, na Galiléia, terá chegado
ao fim? Essa relação que eles construíram com o Mestre irá morrer? Os
discípulos não sabem o que vai acontecer nem que caminho vão, a partir daí,
percorrer. Sobretudo, não sabem como é que manterão, após a partida de Jesus, a
sua relação com Ele e com o Pai.
Comunhão –
A catequese desenvolvida pelo autor do Quarto Evangelho, neste diálogo de Jesus
com os discípulos, é de uma impressionante densidade teológica. Vamos tentar
esmiuçar o conteúdo e pôr em relevo os pontos fundamentais. O plano de salvação
de Deus passa por estabelecer com os homens uma relação de comunhão, de
familiaridade, de amor. Por isso Jesus veio ao mundo: para tornar os homens
“filhos de Deus”.
Método –
Como é que Jesus concretizou esse projeto? Ele “montou a sua tenda no meio dos
homens” (Jo 1,14) e ofereceu aos homens um “caminho” de vida em plenitude:
mostrou aos homens, na sua própria pessoa, como é que eles podem ser Homens
Novos – isto é, homens que vivem na obediência total aos planos do Pai e no amor
aos irmãos. Viver desse jeito é viver numa dinâmica divina, entrar na
intimidade do Pai, tornar-se “filho de Deus”.
Homem Novo –
Na ceia de despedida, Jesus sente que está começando o último ato da missão que
o Pai lhe confiou (criar o Homem Novo). Falta oferecer aos discípulos a última
lição – a lição do amor que se dá até à morte; falta também o dom do Espírito,
que capacitará os homens para viverem como Jesus, na obediência a Deus e na
entrega aos homens. Para que esse último ato se cumpra, Jesus tem que passar
pela morte: tem que “ir para o Pai”. Ao dizer “vou preparar-vos um lugar”,
Jesus sugere que tem que ir ao encontro do Pai, para que os homens possam fazer
parte da família de Deus.
Família – Nessa
família há lugar para todos os homens (“na casa de meu Pai há muitas moradas”):
basta que sigam “o caminho” de Jesus” – isto é, que escutem as suas propostas e
que aceitem viver como Homens Novos, no amor e no dom da vida. A “casa do Pai”
é a comunidade dos seguidores de Jesus (a Igreja). Qual é o “caminho” para
chegar a fazer parte dessa família de Deus?
Caminho –
A resposta é simples… O “caminho” é Jesus: é a sua vida, os seus gestos de amor
e de bondade, a sua morte (dom da vida por amor) que mostram aos homens o
itinerário que eles devem percorrer. Ao aceitarem percorrer esse “caminho” de
identificação com Jesus, os homens estão indo ao encontro da verdade e da vida
em plenitude. Quem aceita percorrer esse “caminho” de amor, de entrega, de dom
da vida, chega até ao Pai e torna-se – como Jesus – “filho de Deus”.
Pai e Jesus –
Ao identificarem-se com Jesus, os discípulos estabelecem uma relação íntima e
familiar com o Pai, porque o Pai e Jesus são um só. O Pai está presente em
Jesus. Quem adere a Jesus e estabelece com Ele laços de amor, já faz parte da
família do Pai, porque Jesus é Deus que veio ao encontro dos homens: as obras
de Jesus são as obras do Pai; o seu amor é o amor do Pai; a vida que Ele
oferece é a vida que o Pai dá aos homens.
Conclusão –
Os discípulos de Jesus têm que percorrer um “caminho”, até chegarem a ser
família de Deus. Esse “caminho” foi traçado por Jesus, na obediência a Deus e
no amor aos homens. É no final desse “caminho” que os discípulos – tornados
Homens Novos – encontrarão o Pai e serão integrados na família de Deus.
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