A Primeira
Leitura das missas deste domingo (Atos 8) descreve Filipe pregando em uma
cidade da Samaria. Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer
que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Quando
chegaram, rezaram pelos samaritanos, para que recebessem o Espírito Santo.
Igreja primitiva – Durante os primeiros anos, o cristianismo praticamente não saiu de
Jerusalém: os primeiros sete capítulos do livro dos Atos dos Apóstolos
apresentam-nos a Igreja de Jerusalém e o testemunho dado pelos primeiros
cristãos no espaço restrito da cidade.
Perseguição – Por volta do ano 35, com a morte do discípulo Estevão, desencadeou-se
uma perseguição contra os membros da comunidade cristã de Jerusalém. É
interessante observar que esta perseguição não afetou de igualmente todos os
membros da comunidade (pois os apóstolos continuaram em Jerusalém), mas
dirigiu-se, de forma especial, contra os judeu-helenistas do círculo de
Estêvão. Estes, inconformados com a morte de Estevão, deixaram Jerusalém e
espalharam-se pelas outras regiões da Palestina. Tratou-se de um fato
providencial, que permitiu a difusão do Evangelho pelas outras regiões
palestinas.
Explicando – No judaísmo do tempo de Cristo (e dos primeiros discípulos) haviam dois
grupos de judeus: um oriundo da própria Palestina, chamados de cristãos
“hebreus”, falavam aramaico, e mantinham uma fidelidade à Lei e ao judaísmo; e
outro, os judeus helenistas (como Estêvão) originários de fora da Palestina e
falavam grego. Os "helenistas" eram vistos com certo preconceito pelos
judeus da Palestina, pois eles não eram praticantes assíduos de todos os
preceitos judaicos.
Filipe – A primeira leitura deste domingo fala-nos de Filipe – um dos sete
diáconos, do mesmo grupo do mártir Estêvão (At 6,1-7) – que, deixando Jerusalém
foi anunciar o Evangelho aos habitantes da região central da Palestina, a
Samaria.
É curioso – que a difusão do Evangelho fora de Jerusalém ocorra, precisamente, na
Samaria. A Samaria era, para os judeus, uma terra praticamente pagã. Os judeus
desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com
estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé judaica.
O texto – O texto da Primeira Leitura divide-se em duas partes: na primeira parte
(vers. 5-8), temos um sumário que resume a atuação de Filipe entre os
samaritanos. Filipe pregava “o Messias”, isto é, apresentava aos samaritanos
Jesus Cristo e a sua proposta de salvação e de libertação. Lucas (autor dos
Atos dos Apóstolos) descreve esta atividade missionária dizendo que os
samaritanos “aderiam unanimemente às palavras de Filipe”, que os espíritos
impuros abandonavam os possessos e que os coxos e paralíticos eram curados.
Na segunda – parte (vers. 14-17), Lucas refere a chegada à Samaria dos apóstolos
Pedro e João. Quando a comunidade cristã de Jerusalém soube que a Samaria tinha
já acolhido a mensagem de Jesus, enviou para lá Pedro e João para complementar
a pregação. Lucas não diz qual a reação de Pedro e João ao constatarem o avanço
do Evangelho; apenas refere que os samaritanos, apesar de batizados, ainda não
tinham recebido o Espírito Santo.
Que significa isto? – Provavelmente, significa que a adesão dos samaritanos ao Evangelho era
superficial, talvez mais motivada pelos gestos espetaculares que acompanhavam a
pregação de Filipe, do que por uma convicção bem fundada.
Pedro e João – Logo que chegaram – conta Lucas – Pedro e João impuseram as mãos aos
samaritanos, a fim de que também eles recebessem o Espírito. O Espírito
aparece, aqui, como o selo que comprova a pertença dos samaritanos à Igreja de
Jesus Cristo.
Mensagem – Para que uma comunidade se constitua como Igreja, não basta uma
aceitação superficial da Palavra, nem manifestações humanas (por muito
impressionantes que sejam). É preciso que qualquer comunidade cristã tenha
consciência de que não é uma célula autônoma, mas que é convidada a viver a sua
fé em comunhão com a Igreja universal. Só então se manifestará nela o Espírito,
a vida de Deus.
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