sexta-feira, 16 de junho de 2017

O 13º Apóstolo de Cristo

 

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 9,36-10,8), Mateus apresenta o nome dos doze Apóstolos que seguiram Jesus durante os 30 meses de sua pregação na Terra. São eles: Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou.

 

Problemas – Esta lista de Mateus coincide com a de Marcos. O problema aparece ao compará-la com as outras duas (de Lucas e Atos), porque nestas aparecem um apóstolo novo: um tal Judas, filho de Tiago (Lc 6, 16, At 1, 13). Quem é este Judas? Como nestas duas listas não há Tadeu, a solução que se encontrou foi que este Judas (de Lucas e Atos) fosse a mesma pessoa que Tadeu (de Mateus e Marcos). E o chamam Judas Tadeu. Mas, essa identificação carece de fundamento bíblico.

 

Mais problemas – Se prosseguirmos lendo os Evangelhos, veremos que Marcos narra a vocação de outro apóstolo, chamado Levi, cobrador de impostos. Por que ele tampouco aparece na lista dos doze? Aqui a tradição solucionou o problema do mesmo modo, identificando Levi com Mateus. Isto não é possível, porque Marcos apresenta Levi e Mateus como pessoas claramente distintas: compare a lista dos nomes em Mc 3,18 e outra no relato de sua vocação (Mc 2, 13-14).

 

Existe o 13º Apóstolo? – O capítulo 1 do Evangelho de João descreve a convocação dos primeiros apóstolos.  A partir do versículo 43, Jesus chama Filipe para ser apóstolo e Felipe convida Natanael. Ele, porém, não aparece nas listas de apóstolos de Jesus, nem em nenhum episódio da vida pública de Jesus, apesar de ter reconhecido Jesus como o Filho de Deus e Rei de Israel. Volta a ser citado em João 21,1 apenas quando Jesus aparece ressuscitado à beira do mar de Tiberíades.

 

Natanael – Chamado de Natanael de Caná, por ser natural de Caná da Galiléia, cidade próxima cerca de 6 km de Nazaré, aldeia de Jesus, esse discípulo parece ser um estudioso das escrituras.  Em Jo 1,48, Jesus diz que havia visto Natanael sob a figueira, numa referência à vida consagrada ao estudo das Escrituras (a expressão é bem conhecida na literatura rabínica, na qual a figueira é comparada à árvore da ciência do bem e do mal).

 

O convite de Filipe – Filipe foi convidado por Jesus para segui-lo.  Filipe vai até Natanael e fala com convicção sobre o encontro com o Messias. Natanael ouve atentamente, porém, ao falar, demonstra algum preconceito: “De Nazaré (...) será que pode sair alguma coisa boa?” Na sua mente, de Jerusalém ou de Belém, a cidade de Davi, poderia vir o Messias, mas de Nazaré...? Parecia ser impossível a Natanael. Felipe, então, o convida a provar por si próprio: “Vem e vê!”. (Veja Jo 1, 46)


Natanael e Jesus – Ao encontrar-se com Cristo, Natanael ouve uma saudação elogiosa que o desconcerta: “Aqui está um verdadeiro israelita, em quem não há nada falso”. Jesus então afirma que o viu assentado sob uma figueira, antes de Felipe o convidar. Natanael, ao ouvi-Lo crê e vê em Jesus a pessoa do Filho de Deus, o Rei de Israel. Jesus afirma que Natanael veria “coisas maiores que esta...”, até mesmo “... o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1, 47s).

 

Natanael era apóstolo? – A leitura dos versículos de Jo 1,43s deixa uma clara impressão que Natanael tenha sido convidado para integrar o grupo dos doze.  Os Evangelhos citam que apenas seis foram convidados pessoalmente por Jesus: Simão Pedro e seu irmão André (Mt 4,18), Tiago e seu irmão João (Mt 4,21), Mateus (Mt 9,9) e Filipe (Jo 1, 43). Natanael não aparece nas listas dos doze apóstolos, mas certamente foi seguidor de Jesus, presenciando a aparição de Jesus ressuscitado e a pesca milagrosa no mar de Tiberíades (confira em Jo 21,1).

 

Natanael e Bartolomeu – Desde o princípio da Idade Média, alguns historiadores afirmavam que Natanael poderia ser a mesma pessoa que Bartolomeu (para manter a tradição de doze apóstolos), mas não existe qualquer prova sobre isso.  Pesquisas mais recentes mostram que não existe qualquer fundamento em reconhecer Natanael como o apóstolo Bartolomeu.

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