O tema deste
domingo é, evidentemente, o Espírito Santo. Dom de Deus a todos os crentes, o
Espírito dá vida, renova, transforma, constrói comunidade e faz nascer o Homem
Novo. O Evangelho apresenta-nos a comunidade cristã, reunida à volta de Jesus
ressuscitado. Para João, ao receber o dom do Espírito, esta comunidade passa a
ser uma comunidade viva, recriada, nova. É o Espírito que permite aos crentes
superar o medo e as limitações e dar testemunho no mundo desse amor que Jesus
viveu até às últimas conseqüências.
Comunidade de Jesus – Este texto situa-nos
no Cenáculo, no mesmo dia da ressurreição. Apresenta-nos a comunidade da Nova
Aliança, nascida da ação criadora e vivificadora do Messias. No entanto, essa
comunidade ainda não se encontrou com Cristo ressuscitado e ainda não tomou
consciência das implicações da ressurreição. É uma comunidade fechada,
insegura, com medo… Precisa fazer a experiência do Espírito; só depois, estará
preparada para assumir a sua missão no mundo e dar testemunho do projeto
libertador de Jesus.
A 1ª Leitura – Nos “Atos dos
Apóstolos” (primeira leitura da missa), Lucas narra a descida do Espírito sobre
os discípulos no dia do Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa (sem dúvida
por razões teológicas e para fazer coincidir a descida do Espírito com a festa
judaica do Pentecostes, a festa do dom da Lei e da constituição do Povo de
Deus); mas, João situa a recepção do Espírito pelos discípulos no anoitecer do
dia de Páscoa.
Desorientados – João começa colocando
em relevo a situação da comunidade. O “anoitecer”, as “portas fechadas”, o
“medo” delineiam o quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada
no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma
comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe,
agora, a que se agarrar.
Jesus – Entretanto, Jesus aparece “no meio
deles”. João indica desta forma que os discípulos, fazendo a experiência do
encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de
referência, a coordenada fundamental à volta do qual a comunidade se constrói e
toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe de forma
consistente se está centrada em Jesus ressuscitado.
Paz – Jesus começa por saudá-los,
desejando-lhes “a paz” (“shalom”, em hebraico). A “paz” é um dom messiânico;
mas, neste contexto, significa, sobretudo, a transmissão da serenidade, da tranqüilidade,
da confiança que permitirão aos discípulos superar o medo e a insegurança: a
partir desse momento, nem o sofrimento, nem a morte, nem a hostilidade do mundo
poderão derrotar os discípulos, porque Jesus ressuscitado está “no meio deles”.
Sinais – Em seguida, Jesus “mostrou-lhes as mãos
e o lado”, “sinais” que evocam a entrega de Jesus, o amor total expresso na
cruz. É nesses “sinais” (na entrega da vida, no amor oferecido até à última
gota de sangue) que os discípulos reconhecem Jesus. O fato de esses “sinais”
permanecerem no ressuscitado, indica que Jesus será, de forma permanente, o
Messias cujo amor se derramará sobre os discípulos e cuja entrega alimentará a
comunidade.
Sopro – Vem, depois, a comunicação do Espírito.
O gesto de Jesus de soprar sobre os discípulos reproduz o gesto de Deus ao
comunicar a vida ao homem de argila (João utiliza, aqui, precisamente o mesmo
verbo do texto grego de Gn 2, 7). Com o “sopro” de Deus de Gn 2, 7, o homem
tornou-se um “ser vivente”; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a
vida nova e faz nascer o Homem Novo. Agora, os discípulos possuem a vida em
plenitude e estão capacitados – como Jesus – para fazerem da sua vida um dom de
amor aos homens. Animados pelo Espírito, eles formam a comunidade da Nova
Aliança e são chamados a testemunhar – com gestos e com palavras – o amor de
Jesus.
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