No Evangelho das missas deste domingo (Mc 3, 20-35), Jesus
está em sua casa com os discípulos e uma multidão que queria ouvir sua pregação.
Então disse: “Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfêmias
que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá
perdão: será réu de pecado eterno”.
João Paulo II – Para refletir sobre este ensinamento, vamos
transcrever o item 46 da Encíclica “Dominum
et vivificantem”, escrita por João
Paulo II.
Blasfêmia – Por que é que a “blasfêmia” contra o Espírito Santo é
imperdoável? Em que sentido se deve entender esta “blasfêmia”? São Tomás de
Aquino responde que se trata de um pecado “imperdoável por sua própria
natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos quais é concedida a
remissão dos pecados”.
Vinda do Espírito
– Segundo tal exegese,
a “blasfêmia” não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com
palavras; consiste, antes, na recusa em aceitar a salvação que Deus oferece ao homem
mediante o mesmo Espírito Santo, que age em virtude do sacrifício da Cruz. Se o
homem rejeita o deixar-se “convencer quanto ao pecado”, que provém do Espírito
Santo e tem carácter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a “vinda” do
Consolador: aquela “vinda” que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o
poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que “purifica a consciência das
obras mortas”.
Recusa – Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos
pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas
“obras mortas”, no pecado. E a “blasfêmia contra o Espírito Santo” consiste exatamente
na recusa radical de aceitar esta remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e
que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência.
Recusa radical – Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não
pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta “não-remissão” está
ligada, como à sua causa, à “não-penitência”, isto é, à recusa radical a
converter-se. Isto equivale a uma recusa radical de ir até às fontes da Redenção;
estas, porém, permanecem “sempre” abertas na economia da salvação, na qual se realiza
a missão do Espírito Santo. Este tem o poder infinito de haurir destas fontes:
“receberá do que é meu”, disse Jesus. Deste modo, Ele completa nas almas
humanas a obra da Redenção, operada por Cristo, distribuindo os seus frutos.
Recusa a redenção
– Ora a blasfêmia
contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu
pretenso “direito” de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por
isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da
sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos
pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida. É uma
situação de ruína espiritual, porque a blasfêmia contra o Espírito Santo não
permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou e abrir-se às
fontes divinas da purificação das consciências e da remissão dos pecados.
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