sábado, 30 de outubro de 2021

A COMUNHÃO DOS SANTOS

  


Muitas pessoas perguntam a razão dos Católicos pedirem ajuda aos santos (em vez de recorrer a Cristo), como se eles pudessem nos salvar. As razões são concretas, muito mais do que os críticos possam pensar.

 Graça – É claro que só Cristo nos salva, como ensina a Bíblia. Mas, também para a Igreja católica, não são os santos que nos concedem as graças que pedimos a eles. Por isso dizemos: Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores. Quando reza aos santos e santas, a Igreja usa sempre a fórmula: rogai por nós. Quer dizer: pede que eles roguem por nós a Deus, para que Ele nos conceda a graça que precisamos. Ao contrário, quando se dirige a Cristo, a Igreja diz: Senhor, tende piedade de nós, como fez o cego do Evangelho; porque Cristo, o Filho de Deus, recebeu do Pai o poder de dar a vida e a salvação a toda a humanidade.

 Orações – Portanto, quando rezamos a um santo, não o colocamos no lugar de Jesus Cristo, como se ele fosse divino e tivesse o poder de nos salvar. Pedimos só que eles orem por nós a Deus. E isso não é absolutamente contra a Bíblia. As cartas de Paulo contêm muitas preces que faz pelos cristãos das Igrejas que tinha fundado (Col 1, 9; 4,3). Também Tiago (5, 16), pede que os cristãos orem uns pelos outros e cita o caso de Elias, que orou fervorosamente e obteve um milagre de Deus. Estes exemplos mostram que é próprio dos cristãos rezar uns pelos outros e pedi-las àqueles que estão mais perto de Deus, pela sua vida santa. Portanto, quando desejamos alcançar uma graça, podemos dirigir-nos diretamente ao Pai; mas também, podemos pedir a outros que intercedam por nós com suas orações.

 Santos – Mas, se recorremos à intercessão de nossos irmãos e irmãs aqui na Terra, com muito maior razão rezamos aos santos, para que obtenham de Deus as graças que precisamos. Durante a sua vida, eles foram amigos de Cristo e, agora, que vivem na sua companhia, não desejam senão ajudar-nos, rogando por nós. Assim, orando aos santos, não nos esquecemos de Cristo; ao contrário, reconhecemos que é Dele que os santos recebem toda sua santidade e poder.

 Comunhão – Nós, católicos, cremos na "comunhão dos santos", como dizemos no "Credo". A palavra "santos" significa aqui todos os que acreditam em Jesus Cristo e são santificados pelo Espírito Santo que receberam no Batismo. A comunhão dos santos é a própria Igreja, família de Deus, formada por todos os fiéis de Cristo. Por meio da oração podemos comunicar-nos também com os que morreram em paz com Deus. Por um lado, podemos ajudar os que ainda não estão completamente purificados de seus pecados, a alcançar a alegria eterna. Nossa prece, unida à prece de Jesus, especialmente o oferecimento da Missa, é escutada por Deus e apressa a sua purificação. Por outro, podemos também pedir a ajuda dos santos que já gozam da presença de Deus e estão prontos a interceder por nós. Eles escutam a nossa oração e obtêm do Pai comum, por meio do único mediador Jesus Cristo, as graças que pedimos.

 Confiança e entrega – Trata-se, portanto, de uma unidade espiritual, na base da fé, da esperança e do amor e não de uma tentativa vã de conhecer o futuro ou saber a sorte de entes queridos. A Igreja condena as tentativas de “comunicar-se” com os espíritos dos mortos. Não é através de vozes do além nem de predições sobre o futuro, mas da entrega cheia de esperança nas mãos de Deus que encontraremos a verdadeira paz. Na medida em que estamos unidos com Deus no mesmo Espírito de Jesus, os cristãos podem unir-se à Igreja Triunfante, desejando e fazendo o bem uns aos outros pela bondade e poder do próprio Deus.

sábado, 23 de outubro de 2021

JESUS CRISTO ERA SACERDOTE?

 

Na segunda leitura da missa deste domingo continuaremos a ler a Carta aos Hebreus. Nesta Carta, o tema mais enfatizado é a proclamação de Jesus como sacerdote, pois este reconhecimento era essencial para proclamar Jesus como o Messias, o Cristo ungido de Deus.


Messias – Nos primeiros séculos, uma das dificuldades do cristianismo era provar aos judeus que Jesus era o Messias, o Cristo esperado pelos judeus. Conforme o Antigo Testamento, este personagem deveria ter três características prometidas por Deus para o final dos tempos: um profeta, um rei e um sacerdote. Para Jesus ser o Messias, ele deveria ter as três qualidades.

 

Profeta, rei, sacerdote – A vinda de um profeta no final dos tempos foi comunicada por Deus a Moisés no livro do Deuteronômio (18,18): “Suscitarei um profeta como tu entre teus irmãos”. A promessa de um rei está no 2º Livro de Samuel (7,12), onde Deus diz a Davi: “Quando tu morreres eu mandarei um descendente teu e manterei o seu trono para sempre”. Finalmente, a promessa de um futuro sacerdote santo foi para Eli: “Mandarei um sacerdote fiel, que atue segundo a minha vontade” (1Sam 2, 35).

 

Jesus: Profeta e Rei – Cristo foi reconhecido como “profeta” (Mc 9,8), como “grande profeta” (Lc 7,16) e como “o profeta” (Jo 6,14). Também foi reconhecido como “rei” (Mt 21,9), como “o rei que vem em nome do Senhor” (Lc 19,38), como “o rei de Israel” (Jo 12,13).  O próprio Pedro reconhece Jesus como o profeta prometido (Hb 3,22) e como rei esperado (Hb 2,36).

 

Jesus Sacerdote – Porém jamais, em nenhuma ocasião, Jesus foi reconhecido como sacerdote. Isto por uma clara razão: para ser sacerdote ele deveria pertencer a tribo de Levi, e Jesus pertencia à tribo de Judá. Portanto, para os judeus, Jesus era um leigo. Explicando melhor: Quando os Hebreus chegaram à Terra Prometida, se dividiram em 12 tribos. Só poderiam ser sacerdotes os descendentes da tribo de Levi (chamados levitas). Jesus pertencia à tribo de Judá, portanto nunca poderia ser aceito como sacerdote.

 

Solução – Por volta do ano 80 d.C. apareceu na cidade de Roma um personagem de grande cultura e grande conhecimento da língua grega. Este autor, que para nós permanece anônimo, escreveu a Carta aos Hebreus, esclarecendo que Jesus poderia ser sacerdote. Na Carta ele desenvolve o seguinte raciocínio: interpretando o Salmo 110 (vers. 4), em que Deus diz “tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”, ele afirma que Deus criou uma nova ordem de sacerdotes, distinta da ordem dos levitas. Jesus Cristo desceu dos céus para ser o sumo sacerdote desta nova ordem.

 

Quem era? – Melquisedec é proclamado como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14). Foi ao encontro de Abrão, abençoou-o, entregando-lhe pão e vinho. Trata-se de um personagem estranho, pois o texto não indica as suas origens nem a sua ordem sacerdotal.

 

Nova ordem – Portanto Cristo é o primeiro sacerdote, protagonista e iniciador de uma nova ordem de sacerdotes. Pela interpretação do Salmo (110, 4) e da Carta aos Hebreus a Igreja Católica proclama Jesus como “sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”.

 

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sábado, 16 de outubro de 2021

A ambição pelo poder

  


Evangelho – No Evangelho deste domingo (Mc 10,35-45), Jesus é procurado pelos apóstolos Tiago e João (filhos de Zebedeu) que lhe pedem uma posição de destaque no Reino de Deus: “Deixai-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!" (v. 37). Jesus responde que não depende dele conceder o lugar à direita ou à esquerda; estes lugares pertencem àqueles a quem foi reservado. Os outros dez apóstolos, ao ouvirem o pedido, se revoltam contra Tiago e João.

 Situação – No esquema do evangelho de Marcos, o texto situa-se quase no fim da caminhada de Jesus com os seus discípulos para Jerusalém, o lugar do desfecho de toda a sua missão. Pela terceira vez, ele tem dado aos seus mais íntimos colaboradores o anúncio sobre a sua paixão de morte: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão caçoar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo (v.33).

 Cegos – De novo, a afirmação deixa mais do que claro o que significa ser o Messias de Deus. Mas, não surte efeito: os discípulos, cegos pela ideologia dominante, são incapazes de entender o sentido da vida de Jesus e, por conseguinte, o sentido de ser discípulo dele. Como Pedro, depois do primeiro anúncio e todos os Doze, depois do segundo, João e Tiago conseguem resistir o ensinamento de Jesus numa tentativa de impor seus próprios interesses.

 O poder – Apesar de ouvirem que Jesus veio para dar a sua vida em serviço de todos, os irmãos pedem os primeiros lugares quando Jesus entrasse na sua glória. O desejo de dominar estava muito enraizado neles. É tão gritante o descompasso entre o ensinamento de Jesus e os desejos dos dois irmãos, que Mateus, relatando a mesma historia, suaviza o texto de Marcos, fazendo com que a mãe deles fizesse o pedido! (Mt 20,20). A queixa de Deus no Antigo Testamento, de que o seu povo era um povo “cabeça dura”, se atualiza nos Doze!!

Os outros – Mas não podemos pensar que só os dois filhos de Zebedeu sentiram o gosto pela dominação. É interessante notar a reação dos outros dez diante do pedido feito: “Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar com raiva de Tiago e João” (v. 41). Porque ficaram com raiva? Não porque achavam sem sentido o pedido dos dois, mas porque, no fundo, cada um deles queria ter o lugar de honra e poder!! O vírus de dominação é mais do que contagioso!

 Servir – Mais uma vez, Jesus demonstra paciência histórica com os seus seguidores. Contrasta o sistema de organização da sociedade com aquele que queria para a comunidade dos seus discípulos: “Não deve ser assim entre vós: Quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos” (v. 43-44). Deixa bem claro o motivo – não por causa de uma humildade qualquer, mas porque ele nos deu o exemplo: “porque o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos” (v.45). Ser discípulo de Jesus é ter o mesmo ideal, a mesma prática do que ele!

Hoje – O texto torna-se muito atual para os dias de hoje. Infelizmente o contraste feito por Jesus entre os seus seguidores e o sistema da sociedade secular nem sempre se verifica. Ninguém pode se achar imune diante desta tentação, pois está bem enraizada dentro de todos nós. Somente uma mística bem cultivada do seguimento de Jesus, fundamentada na Palavra da Escritura, poderá nos ajudar para que realmente construamos uma Igreja onde se demonstra que “entre vocês não deve ser assim”.

sábado, 2 de outubro de 2021

Judeus usam a ‘pegadinha’ do divórcio

 

O texto do Evangelho das missas deste domingo (Mc 10,2-16) acontece durante a última viagem de Jesus a Jerusalém. Estamos em fevereiro do ano 30. Em pouco mais de um mês, Jesus será preso, condenado e crucificado. Alguns fariseus, tentando obter uma prova para condenar Jesus, perguntam: “Um homem pode mandar a sua esposa embora?”

 Fariseus – Neste trecho do Evangelho de Marcos, os fariseus se encontram com Jesus e tentam colocá-lo à prova com a pergunta: “Pode um homem repudiar a sua mulher?” (Mc 10, 2). Cabe lembrar que Jesus e seus discípulos estavam em território da Peréia (transjordânico), governado por Herodes Antipas. Foi nessa mesma região que João Batista foi preso e degolado, por denunciar o divórcio ilegal e o casamento ilícito de Herodes Antipas com sua cunhada Herodiades. Os fariseus instigavam Jesus a ter a mesma atitude de João, pensando que com isso Ele teria o mesmo destino. O que os fariseus queriam era que Jesus se tornasse intolerável política e religiosamente.

 Judaísmo – No judaísmo, duas correntes de opiniões se contrapunham: para uma delas (escola de Hillel, mais liberal), era lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo (até se “o feijão queimasse”), e a decisão do marido era soberana, conforme o seu julgamento ou vontade; para a outra (escola de Shammai, mais conservadora), ao contrário, era preciso um motivo grave, previsto pela Lei.

 Resposta – Os fariseus submeteram esta questão a Jesus, esperando que adotasse uma postura a favor de uma ou outra tese. Mas, receberam uma resposta que não esperavam: “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento.  Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar”.

 Moisés – A lei de Moisés sobre o repúdio é vista por Cristo como algo não desejado, mas tolerado por Deus por causa da dureza de coração e da imaturidade humana. Jesus não critica Moisés pela concessão feita; reconhece que, nesta matéria, o legislador humano não pode deixar de levar em conta a realidade. Mas, volta a propor a todos o ideal originário da união indissolúvel entre o homem e a mulher (uma só carne) que, ao menos para seus discípulos, deverá ser a única forma possível de matrimônio.