Neste domingo, a liturgia nos
apresenta o primeiro milagre de Jesus. João, que provavelmente era um dos
convidados nas bodas de Caná, registrou o episódio em seu evangelho (2, 1-12),
definindo-o como um “sinal” (2,11): “Jesus (...) manifestou a sua glória”.
Caná da Galiléia – Caná é um vilarejo citado três vezes no Evangelho
de João (2, 1; 4, 26; 21, 2), que distava 8 km de Nazaré. O evangelista faz
referência ao fato de que ficava na Província da Galiléia para distingui-la de
outra Caná, de Aser, que ficava mais ao norte, a 12 km do sul de Tiro.
Convidados especiais – Acredita-se que Jesus, sua mãe e alguns
discípulos tenham sido convidados por questões de parentesco ou de amizade.
Natanael, um dos primeiros discípulos chamados por Jesus (Jo 1, 45-51) era
originário de Caná (Jo 21, 2). Além disso, segundo uma tradição cristã do
século XII, Sefforis, cidade vizinha de Caná, era o berço de Santa Ana, mãe de
Maria Santíssima (Protoevangelho de Tiago).
Banquete – Nas bodas, realizava-se sempre um banquete, em geral,
servido na casa do noivo. Elas duravam, geralmente, uma semana – no caso de
primeiras núpcias – mas podiam prolongar-se por duas semanas. Considerando-se o
número de participantes, é fácil entender a importância de manter um bom
sortimento de vinho nessas circunstâncias: a sua falta no meio da festa poderia
provocar duras críticas contra os noivos. Jesus fora convidado e com ele foram
seus apóstolos e quem sabe estes levaram outros parentes e amigos, como era
costume então. Assim, o número de participantes deve ter ultrapassado em muito
o cálculo feito pelos noivos.
Não têm vinho – Era costume da época que as mulheres ajudassem a
servir os convidados. Era, pois, natural, que Maria Santíssima, que se achava
entre as mulheres, percebesse imediatamente a falta do vinho no meio da festa.
Se esse fato se tornasse público, seria muito humilhante para os noivos.
Cuidadosa e atenta, ao se dar conta da situação, Maria se aproxima de Jesus e o
avisa sobre o fato desagradável. O contexto não permite concluir se Maria pede
um prodígio, mas sem dúvida demonstra que suas palavras são inspiradas por um
profundo senso de misericórdia, que parecem mostrar a esperança do milagre. Ela
sabe que Jesus pode realizá-lo.
Resposta enigmática – Jesus responde com uma indagação que
aparentemente é uma recusa ao pedido. Fica evidente que ele e a mãe divergem em
sua opinião: enquanto Maria preocupa-se com o vinho da festa, que faltou, Jesus
pensa na hora culminante de sua missão. No diálogo de Caná, Jesus passa do
plano da realidade material para o da realidade espiritual, das quais a
primeira é símbolo: ele dará o vinho, sim, mas conferirá um significado
profundo a esse dom.
Entrega total – Mesmo que provavelmente não tenha compreendido
exatamente as intenções do Filho, como acontecera no episódio com os doutores
do templo, quando Jesus tinha 12 anos (Lc 2, 48-50), Maria transmite sua fé
aberta ao incógnito, antes que aconteça a evidência do “sinal”: “Fazei tudo o
que ele vos disser” (Jo 2, 5).
As talhas – Os judeus tinham por costume lavar-se antes de certas
cerimônias ou de festas. As grandes talhas eram uma espécie de reservatório, de
onde tiravam a água em vasilhas menores para lavar as mãos, os braços ou a
cabeça. No casamento de Caná havia seis dessas talhas, com uma capacidade
estimada entre 60 e 90 litros cada uma. Além disso, João tem o cuidado de dizer
que as talhas foram cheias até em cima, o que indica a quantidade abundante de
vinho fornecida por Jesus, como todos os outros dons que concede (Jo 1,16; 4, 13-14; 10, 10).
Poder manifestado – Com esse primeiro milagre, Jesus manifestou publicamente
a sua divindade e depois disso, muitos outros milagres se realizariam com o
objetivo de manifestar a sua glória e suscitar a fé Nele. Os milagres de Jesus
são os gestos visíveis que nos remetem a uma realidade invisível, porque nos
convidam a contemplar em profundidade o mistério do “homem que se chama Jesus”
(Jo 9, 11) Tudo o que ocorre com Jesus revela a glória do Verbo que habitou
entre nós.
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