sexta-feira, 29 de julho de 2022

Que pecado cometeram os habitantes de Sodoma?

 


 Na semana passada descrevemos o cataclismo que destruiu, por ordem divina, a cidade de Sodoma e outras cinco cidades do Mar Morto (conforme Gn 19). Trata-se de uma das punições mais terríveis relatadas na Bíblia (Gn 19,24-25). Mas, que pecado haviam cometido aqueles homens, para merecer tal condenação? Quais as atitudes, das pessoas de Sodoma e Gomorra, levaram Deus a condená-los?

 

Homossexualidade? – Costuma-se dizer, que o pecado dos sodomitas era a homossexualidade. Existe até, nas línguas modernas, uma série de palavras, como sodomia, sodomita, sodomizar, derivadas do nome da cidade. No entanto, se analisarmos o relato bíblico, vemos que esta é uma interpretação errada. O que era realmente a culpa os habitantes da cidade de Sodoma?

 

No Antigo Testamento – O primeiro a se lembrar dos pecados de Sodoma é o profeta Isaías, no século VIII a.C., que disse que os sodomitas praticavam um culto superficial, oprimiam os mais pobres (Is 1,10-17) e corrompiam os juízes (Is 3,9). No século VII a.C., Jeremias dá outra versão: dizia que o mal era o adultério, a mentira e a impenitência (Jr 23,14). No século VI a.C., Ezequiel afirma que os vícios dos sodomitas eram o orgulho, a gula e a preguiça (Ez 16,49-50). No século II a.C., o livro Eclesiástico identifica o vício com orgulho (Eclo 16,8). No século I a.C., o terceiro livro dos Macabeus afirma que o pecado sodomita era a arrogância (3Mac 2,5). Ou seja, em nenhum livro do Antigo Testamento, composto ao longo de vários séculos, é possível encontrar um único testemunho de que Sodoma praticava a homossexualidade.

 

Novo Testamento – O Novo Testamento também fala várias vezes do pecado de Sodoma: São Mateus (10,14-15; 11,23-24), São Lucas (10,12; 17,29), a Segunda Carta de Pedro (2,6-8), o Apocalipse (11,7-8). Mas ninguém especifica qual foi o pecado. Portanto, nenhum autor bíblico, quando fala do pecado de Sodoma, refere-se à homossexualidade. Isto é muito curioso, porque naquela época, as práticas homossexuais eram duramente condenadas e reprovadas em várias passagens bíblicas.

 

A mudança – No século II a.C., uma mudança na interpretação começou a ocorrer. Os judeus tiveram maior contato com as cidades de cultura grega, nas quais a homossexualidade não era apenas frequente, mas aceita socialmente. Para expressar com força o mal dessa prática, começaram a citar a história de Sodoma, como exemplo de rejeição divina para com ela. A primeira referência à nova interpretação encontra-se em um livro apócrifo judaico, do ano 50 a.C., chamado Testamento de Naphtali (4,1), no qual, pela primeira vez, identifica-se os sodomitas como homossexuais. A segunda menção é encontrada em outra obra judaica apócrifa, Livro dos Segredos de Enoque, do ano 50 d.C. Mais tarde, o historiador Flávio Josefo, em seu livro Antiguidades Judaicas, do ano 93 d.C., conta a mesma coisa e é o primeiro a usar a palavra "sodomia" para se referir, em geral, à prática homossexual.

 

Um pecado mais grave – Hoje, os estudiosos sustentam que o pecado dos sodomitas era a falta de hospitalidade. De fato, no mundo antigo, especialmente em Israel, uma das principais obrigações era oferecer hospedagem aos estrangeiros. Os profetas a tinham entre as principais virtudes (Is 58,7). Jó diz que sempre a praticou em sua vida (Jó 31,32). Era considerada uma ação tão nobre que até Deus a praticou (Sl 39,13). Sua observância era capaz de purificar qualquer pecado, como se vê na história da destruição de Jericó, em que Deus matou todos os seus habitantes, exceto uma prostituta, a quem ele protegeu, pois, poucos dias antes, havia hospedado dois hebreus em sua casa (Js 6,22-25). Por esta razão, quando os mensageiros divinos chegaram a Sodoma, Ló ofereceu-lhes hospedagem em sua casa, em conformidade com esta regra. Em vez disso, os sodomitas, sem qualquer solidariedade, preferiram humilhá-los, para mostrar seu desprezo pelos estrangeiros.

 

Jesus – Um último fato que corrobora essa interpretação é oferecido pelo próprio Jesus, quando envia seus discípulos para pregar de casa em casa. Ele lhes diz: “Se não vos receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés. Em verdade vos digo: no dia do juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade." Vemos que Jesus compara Sodoma com as cidades que não querem acomodar seus discípulos. Portanto, na época de Jesus, Sodoma era famosa por não ter sido hospitaleira.

 

Fico Curioso? – Se você gostou do assunto e quer ler mais, podemos lhe oferecer os textos citados: o apócrifo “Testamento de Naphtali” (6 pág. em português), o “Livro dos Segredos de Enoque” (30 pág. em português) as “Antiguidades Judaicas” do historiador “Flavio Josefo” (1.627 pág. em português). Solicite por E-mail.

sábado, 23 de julho de 2022

Sodoma e Gomorra existiram?


 

Na primeira leitura das missas deste domingo, Abraão conversa com Deus sobre a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. Estas cidades realmente existiram? Elas foram destruídas? O que teria causado a destruição das cinco cidades citadas no capítulo 19 do Gênesis?

 

Lendas e mitos – Os capítulos 12 até 36 do Livro do Gênesis são um conjunto de textos sem característica histórica ou de reportagem jornalística de acontecimentos. Estamos diante de uma mistura de mitos, lendas e relatos, pelos quais se expressa a realidade da vida nômade durante o segundo milênio antes de Cristo. O autor do Gênesis recuperou essas velhas lendas e apresentou uma catequese.

 

Abraão em Mambré – Nas missas da semana passada, foi lida a passagem do Gênesis em que Abraão recebe três figuras divinas junto do carvalho sagrado de Mambré (perto de Hebron), tendo sido recompensado com um filho. Esta lenda era contada entre os cananeus, mais de mil anos antes de Abraão. O autor do Gênesis, usando a história de Abraão ter se estabelecido em Hebron, recuperou a antiga lenda cananeia, tornando-o herói desse encontro.

 

Outra catequese – Nesta semana, o texto do Gênesis usa a mesma fórmula: recorda um cataclismo que destruiu toda a região ao sul do Mar Morto na época dos cananeus, inserindo Abraão como personagem da história. O autor de Gênesis toma um acontecimento pré-histórico muito remoto, criando uma fantasia religiosa e indicando as causas da terrível catástrofe.

 

A cidade - Sodoma era uma cidade antiga, que se supõe ter existido nas margens do Mar Morto, ao sul da península de El-Lisan. De acordo com as lendas, foi uma das cidades destruídas (as outras teriam sido Gomorra, Adama, Seboim e Segor) por um cataclismo, que ficou na memória do povo hebreu. Estas cidades teriam sido extintas por Deus com fogo e enxofre descido do céu. A confirmação histórica destes fatos continua como um dos maiores mistérios arqueológicos para os cientistas e estudiosos da Bíblia.

 

Evidências – Em meados dos anos 1960, os arqueólogos Pettinato e Matthiae encontraram na cidade de Abla (destruída por volta de 2300 a.C.) inscrições sobre a existência de cinco cidades (Sodoma, Gomorra, Adama, Seboim e Segor). Em 1965, o pesquisador Paul Lapp realizou escavações no local da cidade de Sodoma (conforme Gn 14,3) encontrando restos de um santuário cananeu, que datava de 2800 a.C. Em 2008, os pesquisadores britânicos Alan Bond e Mark Hempsell afirmaram que a destruição das acidades ocorreu na noite de 29 de junho de 3123 a.C., quando da passagem de um asteroide com dimensões maiores de um quilômetro, que devastou uma área de um milhão de quilômetros quadrados.

 

POR QUE O CASTIGO? – Mas que pecado haviam cometido aqueles homens para merecer tal condenação? Trata-se de uma das punições mais terríveis relatadas na Bíblia. "O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra uma chuva de enxofre e de fogo, vinda do Senhor, do céu. E destruiu essas cidades e toda a planície, assim como todos os habitantes das cidades e a vegetação do solo."(Gn 19,24-25). Quais as atitudes das pessoas de Sodoma e Gomorra que levaram Deus a condena-los?

 

ISTO É ASSUNTO DA PRÓXIMA SEMANA – Na Coluna Ser Católico da próxima semana vamos estudar as diversas citações de Sodoma e Gomorra em toda a Bíblia. Qual a verdadeira intenção do autor do livro Gênesis em relatar os fatos? Qual o vício que pretendia condenar? Qual pecado cometiam?

sábado, 16 de julho de 2022

Marta e Maria

 


 No Evangelho deste domingo, Jesus visita uma casa onde moravam duas irmãs: Marta e Maria. A primeira fica preocupada com os seus afazeres, enquanto a outra se concentra em ouvir a Palavra de Jesus.

 

Betânia – Este episódio situa-nos numa aldeia não identificada, em casa de duas irmãs (Marta e Maria). Estas duas irmãs são as irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Assim, provavelmente, a ação passa-se em Betânia, uma pequena aldeia situada na encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Betânia era o lugar predileto onde Jesus procurava – e recebia – aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras.


Duas irmãs – É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta, provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres – afinal tinha chegado treze hóspedes para uma refeição e tinham que ser bem tratados. Maria, calma, senta-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o desabafo de Marta: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!”.

 

Mestre – Há, neste texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à postura corporal de Maria: “sentada aos pés de Jesus”: é a posição típica de um discípulo diante do seu mestre (Lc 8,35; At 22,3). A situação mostra também que Jesus não fazia qualquer discriminação: as mulheres na sociedade da época eram tidas como inferiores e nenhum “rabbi” (mestre) da época se dignava aceitar uma mulher no grupo dos discípulos que se sentavam aos seus pés para escutar as suas lições. Lucas coloca em relevo, neste episódio, que o fator decisivo para ser discípulo de Jesus é estar disposto a escutar a sua Palavra.

 

Marta – Marta se sente responsável pela situação. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentiu? Por isso mesmo, chama a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.” Jesus não está defendendo a preguiça, nem a omissão, nem a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o nosso, em que "não há tempo" para cultivar o relacionamento humano, a amizade e a oração, esta resposta nos faz lembrar a importância de priorizar as coisas, modificando nossa maneira de viver.


Maria – Jesus questiona a agitação e o ativismo. Focar a vida num número sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo, é fuga para evitar um encontro com os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos de Deus. A atitude de Maria é a de uma discípula que aprende viver de maneira nova, ouvindo e refletindo sobre a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar a muita atividade, mas nunca ao ativismo.


Marta e Maria – Jesus não quer menosprezar Marta. Na realidade, todos nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de nos dedicarmos aos nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida, entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (Mc 1,16-20), entre “atividade” e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Os dois lados são tão intimamente ligados que, o desequilíbrio – seja do lado que for – trará conseqüências negativas para a nossa vida de discípulos.

 

Ação e contemplação – Não podemos ver, neste episódio, uma oposição entre ação e contemplação.  O evangelista (Lucas), nesta catequese, não está querendo ressaltar que a vida contemplativa é superior à vida ativa: está dizendo que a escuta da Palavra de Jesus é o que há de mais importante para a vida do cristão, pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isso não significa que o “fazer coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante, e sim que tudo deve partir da escuta da Palavra, pois é essa disposição interior que nos projeta para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.

sábado, 9 de julho de 2022

O Bom Samaritano

 


 A parábola do “Bom Samaritano” talvez seja a mais conhecida de todas as parábolas de Jesus. Mas quem são os samaritanos e qual a razão de Jesus ter se utilizado de uma pessoa desse povo em sua parábola?

 Samaritano – A Samaria era a região central da Palestina – uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de religiões diferentes. Se nós observarmos o mapa da Palestina na época de Jesus, vamos notar as três principais regiões: a Galiléia (no norte) a Samaria (no centro) e a Judéia (no sul). Mas, por que existia tanto preconceito com os Samaritanos?

 

Origens – Desde o ano de 931 a.C., a Judéia e a Samaria eram estados separados, com freqüentes guerras, embora habitados pelo mesmo povo hebreu. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e parte da população samaritana foi deportada. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Embora apenas 4% da população samaritana tenha sido deportada, para os judeus, os habitantes da Samaria começaram a paganizar-se (2 Re 17,29).

 

Judeus – A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais com a volta dos judeus (para a Judéia) do Exílio da Babilônia (em 538 a.C.). Os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim.

 

Desprezo recíproco – Na época de Jesus, existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé judaica. Para o judeu, não havia samaritano bom. Se um samaritano tocasse no corpo de um judeu, mesmo casualmente ou de maneira rápida, o judeu se considerava impuro. Ao chegar em casa, passaria por um ritual de purificação. A sombra de um samaritano seria o suficiente para estragar uma comida, tornando-a impura aos olhos de um judeu.

 

Situação da parábola – Jesus é questionado por um especialista em leis com a pergunta: “Quem é o meu próximo?”. Ele não faz uma discussão teórica e estéril sobre quem seja o próximo, mas conta a parábola do “Bom Samaritano”. Vejamos.

 

Parábola – Depois de um assalto, passou pela vítima um sacerdote que “viu o homem e passou adiante pelo outro lado”. A mesma coisa aconteceu com um levita. Quando passou um samaritano e viu o sofrimento alheio, ele não pensou em discussões teológicas sobre pureza e parte para uma ajuda prática, com misericórdia. Terminando a história, Jesus devolve a pergunta ao especialista em leis – mas, faz uma mudança fundamental: não faz a pergunta teórica “quem é o meu próximo”, e sim uma pergunta prática “quem se fez próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” A primeira pergunta só levaria a uma discussão vazia; a de Jesus leva a uma mudança de prática vivencia.


Misericórdia – Forçado a reconhecer que quem se fez próximo do sofredor era o samaritano, o legista ouviu da boca de Jesus a conclusão: “Vá e faça a mesma coisa”. Com esta parábola, Jesus quer ensinar que nada, nem o culto, têm prioridade sobre a ajuda a uma pessoa necessitada. A religião de Jesus não é teoria: é prática de misericórdia, pois Deus é misericordioso. O legista já sabia a orientação da Escritura, mas, tentava escapar das suas conseqüências, criando discussões inúteis. Nós também sabemos o que diz a Bíblia: não tentemos, pois, esvaziá-la com debates estéreis sobre quem é “o pobre”, “o aflito”, “o próximo”, “o bom”. Façamos o que Jesus ensina nesta parábola “e viveremos”.

sábado, 2 de julho de 2022

“QUO VADIS, DOMINI?”

 

 

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 16,13-19), Pedro é proclamado como base (pedra fundamental) da Igreja e recebe as chaves do Reino dos Céus. Vamos apresentar uma das mais emocionantes histórias do cristianismo ligadas ao apóstolo Pedro, intitulada “Quo vadis, Domini?” (Onde vais, Senhor).

 

Atos de Pedro – Toda a história é narrada no livro “Atos de Pedro”, um dos mais antigos livros apócrifos do Novo Testamento. De acordo com o livro, no ano de 64 d.C., o imperador Nero começou uma perseguição contra os cristãos. Temendo que São Pedro caísse nas garras do imperador, os primeiros cristãos o aconselhavam a sair de Roma para se proteger. Pedro ficou indeciso: ficar e correr o risco de desaparecer junto com a Igreja nascente ou fugir para a Galileia ou Tiberíades e proclamar, bem longe de Roma, as verdades de Cristo?

 

Fugir de Roma – Pedro optou por sair de Roma. Nas primeiras horas da madrugada, disfarçados e envoltos pelas sombras, Pedro e Nazário, servo fiel, tomaram o rumo da Via Appia (principal estrada de acesso a Roma), em direção perdida. E andaram a passo rápido, ainda que o bastão do velho apóstolo tendesse a escorregar sobre as pedras polidas e entrelaçadas da via, assustando-se por qualquer ruído, temerosos ainda mais do silêncio opressivo.

 

Visão – Pela manhã, ao cruzar a Porta Latina da cidade, Pedro enxergou uma luz muito forte, vindo em sua direção. Quando a luz se aproximou, ele reconheceu Jesus Cristo, carregando uma cruz. Diante de Cristo, Pedro deixa cair o bastão, se ajoelha, levanta os braços e diz: “Quo vadis, Domini?” (Aonde vais, Senhor?). E Cristo lhe responde: ”Romam vado iterum crucifigi” (Vou a Roma para ser crucificado novamente).

 

Volta a Roma – Pedro compreendeu, então, que seu lugar era em Roma, entre seus cristãos perseguidos, a exemplo de Cristo, o Bom Pastor, que dera a vida pelas ovelhas de seu rebanho. Envergonhado de sua atitude, Pedro voltou para Roma, para continuar o seu ministério e, como descreve os “Atos de Pedro”, acabou sendo preso e crucificado pelo imperador Nero, porém, de cabeça para baixo, em sinal de humildade.

 

Quo Vadis – No mundo atual, num ambiente de competição, incerteza e inovação contínua, a expressão “Quo Vadis” ganhou o sentido de “Para onde ir”. Também acabou se tornando o título do famoso romance do polonês Henryk Sienkiewicz (1896), que deu origem ao belíssimo filme “Quo vadis”, seguido de outros dois filmes homônimos.

 

Bento XVI – Na renúncia do Papa Bento XVI, a expressão “Quo Vadis” foi relembrada, por causa da semelhança dos fatos ocorridos com Pedro e o Papa. Alguns textos na imprensa imaginavam a cena de Bento XVI, deixando Roma rumo a Castel Gandolfo, avistando Jesus e, desta vez, o Mestre perguntando: “Quo vadis, domini?”. À indagação, o papa emérito responderia: “Deixo o ofício que o Senhor me confiou, para o bem da Igreja”. Na verdade, essa resposta, em oração, foi realmente dada ao divino fundador da Igreja Católica.

 

Fico Curioso? – Se você gostou do assunto e quer ler mais, podemos lhe oferecer: o texto apócrifo “Atos de Pedro”; o resumo do livro “Quo Vadis” de autoria de Henryk Sienkiewicz (em espanhol) e o texto “A lenda sobre São Pedro não se aplica ao caso do papa Bento XVI” de autoria de Edson Luiz Sampel.