Betânia – Este episódio
situa-nos numa aldeia não identificada, em casa de duas irmãs (Marta e Maria).
Estas duas irmãs são as irmãs de Lázaro, referidas em Jo 11,1-40 e Jo 12,1-3. Assim,
provavelmente, a ação passa-se em Betânia, uma pequena aldeia situada na
encosta oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de
Jerusalém. Betânia era o lugar predileto onde Jesus procurava – e recebia –
aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as
suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras.
Duas irmãs – É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta,
provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres – afinal tinha chegado
treze hóspedes para uma refeição e tinham que ser bem tratados. Maria, calma,
senta-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o
desabafo de Marta: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha com
todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!”.
Mestre – Há, neste
texto, um pormenor que é preciso pôr em relevo. Diz respeito à postura corporal
de Maria: “sentada aos pés de Jesus”: é a posição típica de um discípulo diante
do seu mestre (Lc
Marta – Marta se
sente responsável pela situação. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o
anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentiu? Por isso mesmo, chama
a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada
com muitas coisas; porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor
parte, e esta não lhe será tirada.” Jesus não está defendendo a preguiça, nem a
omissão, nem a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o
nosso, em que "não há tempo" para cultivar o relacionamento humano, a
amizade e a oração, esta resposta nos faz lembrar a importância de priorizar as
coisas, modificando nossa maneira de viver.
Maria – Jesus questiona a agitação e o ativismo. Focar a vida num número
sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo, é fuga
para evitar um encontro com os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos
de Deus. A atitude de Maria é a de uma discípula que aprende viver de maneira
nova, ouvindo e refletindo sobre a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar a
muita atividade, mas nunca ao ativismo.
Marta e Maria – Jesus não quer menosprezar Marta. Na realidade, todos
nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de nos dedicarmos aos
nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do
Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida,
entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (Mc 1,16-20), entre “atividade”
e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Os dois lados são tão
intimamente ligados que, o desequilíbrio – seja do lado que for – trará
conseqüências negativas para a nossa vida de discípulos.
Ação e contemplação – Não podemos
ver, neste episódio, uma oposição entre ação e contemplação. O evangelista (Lucas), nesta catequese, não
está querendo ressaltar que a vida contemplativa é superior à vida ativa: está dizendo
que a escuta da Palavra de Jesus é o que há de mais importante para a vida do cristão,
pois é o ponto de partida da caminhada da fé. Isso não significa que o “fazer
coisas”, que o “servir os irmãos” não seja importante, e sim que tudo deve
partir da escuta da Palavra, pois é essa disposição interior que nos projeta
para os outros e nos faz perceber o que Deus espera de nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário