Na semana passada descrevemos o cataclismo que destruiu, por ordem divina, a cidade de Sodoma e outras cinco cidades do Mar Morto (conforme Gn 19). Trata-se de uma das punições mais terríveis relatadas na Bíblia (Gn 19,24-25). Mas, que pecado haviam cometido aqueles homens, para merecer tal condenação? Quais as atitudes, das pessoas de Sodoma e Gomorra, levaram Deus a condená-los?
Homossexualidade? – Costuma-se
dizer, que o pecado dos sodomitas era a homossexualidade. Existe até, nas
línguas modernas, uma série de palavras, como sodomia, sodomita, sodomizar, derivadas
do nome da cidade. No entanto, se analisarmos o relato bíblico, vemos que esta
é uma interpretação errada. O que era realmente a culpa os habitantes da cidade
de Sodoma?
No Antigo Testamento – O primeiro a
se lembrar dos pecados de Sodoma é o profeta Isaías, no século VIII a.C., que
disse que os sodomitas praticavam um culto superficial, oprimiam os mais pobres
(Is 1,10-17) e corrompiam os juízes (Is 3,9). No século VII a.C., Jeremias dá
outra versão: dizia que o mal era o adultério, a mentira e a impenitência (Jr
23,14). No século VI a.C., Ezequiel afirma que os vícios dos sodomitas eram o
orgulho, a gula e a preguiça (Ez 16,49-50). No século II a.C., o livro Eclesiástico
identifica o vício com orgulho (Eclo 16,8). No século I a.C., o terceiro livro
dos Macabeus afirma que o pecado sodomita era a arrogância (3Mac 2,5). Ou seja,
em nenhum livro do Antigo Testamento, composto ao longo de vários séculos, é
possível encontrar um único testemunho de que Sodoma praticava a
homossexualidade.
Novo Testamento – O Novo Testamento
também fala várias vezes do pecado de Sodoma: São Mateus (10,14-15; 11,23-24), São
Lucas (10,12; 17,29), a Segunda Carta de Pedro (2,6-8), o Apocalipse (11,7-8).
Mas ninguém especifica qual foi o pecado. Portanto, nenhum autor bíblico, quando
fala do pecado de Sodoma, refere-se à homossexualidade. Isto é muito curioso,
porque naquela época, as práticas homossexuais eram duramente condenadas e
reprovadas em várias passagens bíblicas.
A mudança – No século II
a.C., uma mudança na interpretação começou a ocorrer. Os judeus tiveram maior
contato com as cidades de cultura grega, nas quais a homossexualidade não era
apenas frequente, mas aceita socialmente. Para expressar com força o mal dessa
prática, começaram a citar a história de Sodoma, como exemplo de rejeição
divina para com ela. A primeira referência à nova interpretação encontra-se em um
livro apócrifo judaico, do ano 50 a.C., chamado Testamento de Naphtali (4,1), no
qual, pela primeira vez, identifica-se os sodomitas como homossexuais. A
segunda menção é encontrada em outra obra judaica apócrifa, Livro dos Segredos
de Enoque, do ano 50 d.C. Mais tarde, o historiador Flávio Josefo, em seu livro
Antiguidades Judaicas, do ano 93 d.C., conta a mesma coisa e é o primeiro a
usar a palavra "sodomia" para se referir, em geral, à prática
homossexual.
Um pecado mais grave – Hoje, os
estudiosos sustentam que o pecado dos sodomitas era a falta de hospitalidade. De
fato, no mundo antigo, especialmente em Israel, uma das principais obrigações
era oferecer hospedagem aos estrangeiros. Os profetas a tinham entre as
principais virtudes (Is 58,7). Jó diz que sempre a praticou em sua vida (Jó
31,32). Era considerada uma ação tão nobre que até Deus a praticou (Sl 39,13).
Sua observância era capaz de purificar qualquer pecado, como se vê na história
da destruição de Jericó, em que Deus matou todos os seus habitantes, exceto uma
prostituta, a quem ele protegeu, pois, poucos dias antes, havia hospedado dois
hebreus em sua casa (Js 6,22-25). Por esta razão, quando os mensageiros divinos
chegaram a Sodoma, Ló ofereceu-lhes hospedagem em sua casa, em conformidade com
esta regra. Em vez disso, os sodomitas, sem qualquer solidariedade, preferiram
humilhá-los, para mostrar seu desprezo pelos estrangeiros.
Jesus – Um último
fato que corrobora essa interpretação é oferecido pelo próprio Jesus, quando
envia seus discípulos para pregar de casa em casa. Ele lhes diz: “Se não vos
receberem e não ouvirem vossas palavras, quando sairdes daquela casa ou daquela
cidade, sacudi até mesmo o pó de vossos pés. Em verdade vos digo: no dia do
juízo haverá mais indulgência com Sodoma e Gomorra que com aquela cidade."
Vemos que Jesus compara Sodoma com as cidades que não querem acomodar seus
discípulos. Portanto, na época de Jesus, Sodoma era famosa por não ter sido
hospitaleira.
Fico Curioso? –
Se você gostou do assunto e quer ler mais, podemos lhe oferecer os textos
citados: o apócrifo “Testamento de Naphtali”
(6 pág. em português), o “Livro dos
Segredos de Enoque” (30 pág. em português) as “Antiguidades
Judaicas” do historiador “Flavio Josefo” (1.627 pág. em português).
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